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terça-feira, setembro 01, 2009



Tocando mais um enterro.

“...quando chegou no local espavorida, ansiosa e aflita para chorar o morto, teve uma verdadeira surpresa, o morto não era seu amante,e sim uma mulher desconhecida, uma anônima, as lágrimas que já estavam prontas para cair como uma autentica carpideira carente, foram sofreadas e converteram em um riso tímido a principio, e foi transformando-se em uma gargalhada daquelas de galpão, ou o riso dos loucos... misturava-se felicidade e senso de ridículo, o morto não era quem pensava...todos que estavam no féretro naturalmente olhavam aquela mulher descabelada, com uma estranheza profunda...”
Não deveria ser assim mas infelizmente é, quando o ser humano chega a este mundo, seu nascimentos e sempre é um evento na vida dos outros e geralmente comemorado, raros alguns caso em que a mãe pari um infortúnio para si, onde os mais nobres sentimentos são relegados ao esquecimento, sim existem mães velhacas e infames mas quem não é um pouco as vezes? Não julgo e se você pensar bem talvez não devesse julgar, mas, o outro evento marcante na vida do homem é quando ele abandona definitivamente a vida aqui, parte para terra dos pés juntos, come capim pela raiz, embarca pra estância e São Pedro, faz o decesso, entra no céu, vai para o plano espiritual,morre, vai para o inferno é o fim...
Este instante que é muito importante para aqueles que gostaram de nós, e os que não gostaram também porque ficaram felizes, mas a cerimônia deste ultima instante em que as pessoas vêem o teu corpo ao menos, é sempre algo muito estranho, ali naquele “palco armado”, onde os que te amam choram, os que te odiaram riem, onde por vezes os podres de uma vida inteira são enterrados junto ao corpo em putrefação e tudo se acaba em frases eufêmicas que absolvem uma miríades de pecados e nos tornamos instantaneamente santos ( a quem espera morrer para que tal dia chegue...)o morto embora seja o personagem principal, ali ele torna-se coadjuvante.
Não brinco com a morte, mas na vida tudo tem dois lados no mínimo e a morte torna-se engraçada as vezes ( Lembrei de um filme - A morte Não me Cai Bem), posso falar isso com muita propriedade, pois já enterrei ente querido(engraçado, a terminologia usada para disfarçar a memória) e ali entre os desesperos de uns, a indiferença de outros e a minha observação via-se coisas e coisas.
Até conheci um sujeito que gostava de contar piadas em enterros, afinal um enterro é tão triste não é mesmo?
Não adianta, aquele instante é momento propicio para acontecer coisas, já fui a alguns enterros e sempre algo estranho acontece, sim as amantes de um homem ,todas que ele teve em um vida toda, aparecem todas,choram copiosamente e todas querem pegar na alça do caixão,e a disputa com a esposa atual, todas dão o ultimo adeus,( eu sugiro que a industria de caixões e urnas mortuárias providencie caixões com mais que quatro alças, não estou falando por mim nada disso, mas por um amigo meu... quatro alças realmente é muito pouco, as amantes terão que fazer rodízio para pegar na mesma...) as mais exaltadas não choram, berram em desespero copioso(essas não amam...).
Aparecem aquelas pessoas que chegam próximo ao caixão e dão uma levantadinha no véu que cobre a cara do morto, e o olham bem como se o mesmo fosse talvez levantar? Encaram o cadáver frio,e depois cobrem novamente o rosto. E tem aqueles que chegam próximo ao ouvido do morto e segredam coisas e coisas, puxa que coisas serão essas? Aqueles que estão assistindo o enterro ficam se cutucando, se mordendo de curiosidade, que será que foi dito ao morto? E se for mulher quem falou ,os pensamentos vão mais longe que se imagina, mas a verdade que o que foi dito será literalmente enterrado. Teria que dedicar uma parte a viúva ou viúva, se for viúva nunca faltam quem vai consolar ( nada haver com a palavra consolo de aspecto mais sexual, o famoso pau de borracha...), a viúva que geme, diga-se de passagem as vezes o gemer da viúva tem toda uma conotação sensual, o gemer sempre lembra dor não é mesmo, e sabemos que a dor pode apimentar o prazer...mas deixemos para lá, eu e meus devaneios...
Conheci um tipo também, que simplesmente adorava ir a enterros de todas as pessoas que ele pudesse ao longo do dia, literalmente era uma celebridade profissional da morte(tornou-se conhecido no cemitério da cidade), nunca me esqueci o nome dele, Geraldo, criatura impressionante sempre procurando no jornal os enterros do dia e planejando o seu itinerário para poder ir a todos os enterros, e naturalmente emocionar-se em cada um( este personagem existe na vida real...), Geraldo um catador de defuntos, ele me comentava que reparava em tudo inclusive no traje final do morto, e se fosse morta, ele digamos olhava ela com outros olhos,via se era enterro de rico ou pobre e segundo ele havia sempre grande diferença,dizia ele: partir na miséria é a verdadeira miséria original.
Então veja que coisa mais humilhante pode torna-se morrer ?
A ficamos na vitrina e todos querem tocar, apalpar o presunto.
Mas tem mais, conheci pessoas que choraram em defuntos errados e sem falar aquelas pessoas que passam mal? Já repararam, sempre alguém passam mal no enterro e sai correndo para um banheiro quando não vomitam em cima do morto? Pobre ser humano que deseja partir em paz, morrer é a ultima humilhação que se passa.
A eterna contradição humana, ali onde a dor abunda em profusão, onde corações rasgam emoções profundas, onde o arrependimento vem visitar ingratas almas, onde o amor por vezes reconhece a sua profundidade, sim em meio a tudo isso, ali esta a ser humano a expor suas mazelas e seus triunfos, seus desejos pelo altiplanos e a baixeza de vis sentimentos, ou então a beleza do ridículo original, fecha-se a cortina agora, encerra-se o espetáculo, eu estou morto!

Paz a todos.
Luis Fabiano.

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