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sexta-feira, setembro 25, 2009



Pose

Gostaria de falar sobre pinturas, não de ordinárias pinturas ininteligíveis advindas do pós-modernismo, extratos de um subconsciente em breu profundo, não, nada disso, em função do dia e meu flutuante estado de espírito gostaria de falar da Monalisa,mas não aquela do Leonardo, mas uma que vi em uma esquinas destas, esquina sem importância.
Era baixinha e tinha uma expressão plástica na face, indubitavelmente as pessoas se revelam, e não pela fala, posso afirmar que a fala ajuda a ocultar aquilo que é a verdade mais profunda de um ser, a fala é maquiagem da alma,as pessoas se mostram desnudas é pela pose, isso sim, as palavras como diriam os provectos, o vento leva com facilidade, a pose é imperdível.
Digo tudo isso, porque eu vinha dobrando a tal esquina que falei, e a Monalisa, uma mulher de baixa estatura, com as mãos na cintura dando a impressão de um bule quebrado, olhava um homem de alta estatura, e que no entanto apresentava-se humilde, pela pose, a baixinha impunha respeito como uma portuguesa de bigodes,e dizia coisas para o gigante, coisas que tinha um ar de cobrança visceral.
O diálogo deles era a minha imaginação, próxima da verdade, a ficção é sempre ignóbil em relação a realidade,mas a pose da anã era ótima,impagável,uma Monalisa irada.
Fatalmente isso levou meu pensamento a distanciar as inúmeras facetas, que as pessoas representam de uma forma inconsciente, por favor não me entendam mal, não estou chamando a todos de cínicos (guardo este título com exclusividade para mim...),mas sim, que certas manifestações da criatura humana não passam de um exagero emocional, que naturalmente sempre amplia o tamanho da“ fera ”, torna o peixe do pescador uma baleia, e mulher que seu amigo comeu ,a mais gostosa de todos os tempos,natural, temos essa propriedade exacerbada e infeliz da pose adquirida.
Não vamos longe.
Em minha cidade, conheço uma dúzia ou mais de falsos ricos, é digo falsos, porque lhes restaram um nome de família “respeitável”, tradicional, mas os haveres, nada, então o escracho é inevitável, sentam-se a mesa do almoço com a elegância de Chef Frances, e comem o arroz e o feijão,baião de dois,mas com elegância de comedores de caviar! Folclórico é verdade, e digno do ridículo original.
Conversava estes dias com uma pose dessas, do sexo feminino, e entre outras tantas coisas que dizia em nome tradicional de sua “alva” família, dizia rilhando os dentes:
-Em nossa família temos tudo, nome, elegância, postura, educação elevada, para sermos ricos completos, só nos falta o dinheiro!!
Só?
É nessas horas que temos que a escolha fatal: rir no amarelo concordante, ou perdemos o amigo em função da piada infeliz...
Eu ri, riso breve e lacônico, disse:
-Bem minha cara, então falta tudo né! Se tiver a grana, o resto ganha um polimento de pose, que é a única coisa que interessa nisso tudo. Uma pose, com bala na agulha!
E quando a pose é de sofrimento?
Isto sim causa-me um enfado medonho,porque sabemos que sofrimentos existem, alguns deles são reais e outros tantos, o exagero, a pose da dor. Existem pessoas que tem o dom de vomitar a sua dor em cima de todos, sem escolher o colo, alguém já vomitou em você?
Em dias que o meu paladar esta dos melhores, eu até sorvo um pouco...noutros, recomendo que as pessoas procurem escarradeiras ou o sanitário mesmo.
Lembro de uma ocasião, um cidadão em uma festa destas voltadas para a terceira idade, a noite, (por favor não me perguntem que eu fazia lá...),mas para quem gosta de ficar observando, sem duvida é um desfiles de poses de todo o jeito, o tal cidadão chegou sentindo-se o garanhão, eu adorei a pose, que era de um ridículo bestial:ele encosta-se em uma pilastra de tijolos envernizados,e em gesto profundamente “sexy”, coloca os dois dedões enfiando no bolso frontal da calça,descansa o restante dos dedos a frente, de seu aqui fica entendido em função da pose, imenso e generoso membro!
Ali ficou, olhando as “gatinhas”,ou melhor as leoas, gatinhas já foram, restou a pose.
Estes dias,falei deste pensamento das poses, a um conhecido, e quando perguntei o que ele achava, veio a resposta da pose:
-Eu não faço pose, eu sou real o tempo todo. Real?
Lembrei-me da baixinha da esquina, com a pose de uma mulher de dois metros, achei mais fácil concordar com ele, é verdade, existem coisas que é melhor deixar barato, é melhor para todos e não arranha a pose de ninguém.

Com pose.
Luis Fabiano
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