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terça-feira, setembro 15, 2009


O cheiro da morte.

O titulo é dramático como a vida, sim, uma sucessão entre bem aventuranças e malévolos efeitos, dicotomia existencial, mas todo o drama tem seu lado irônico e porque não dizer humorístico que nos guinda o pensamento e, eventualmente algo útil surge.
A verdade que enquanto lavava as minhas partes em um banho matinal, meu pensamento foi levado a natural estupidez, e porque não dizer mesquinhez de imaginar situações inusitadas, deixando-me levar nesta linha de pensar, é claro não poderia deixar e pensar na morte, talvez o drama maior do ser humano, a hora de parti, o adeus final! Logicamente que nada tinha haver com meu banho, muito embora estivesse sujo, não estava podre e certamente não fedia a cadáver...
Precisa ser assim, tão dramático a hora derradeira?
Claro que não, posso dizer que como tenho alguma experiência em lidar com a morte, pois já convivi muito perto dela( trabalhando em hospital...e freqüentando UTI,bem ali você vê as garras mortais cravando suas garras...), mas a o morte tem seu lado insólito,o cheiro de hospital é algo que nos convence de nossa finitude, ali entre entubados, anestesiados, e os em coma, e outras tantas manifestações da cura/morte, via-se coisas muito estranhas.
Para que não fique tão impessoal, lembro-me que fui visitar meu pai na Uti, situação que não era tão engraçada isso é verdade, mas lá estava ele entre o semi cadáveres, e na cama da frente a sua, um criminoso baleado pela policia respirava com dificuldade, praticamente nos estertores do último suspiro, e meu pai esboçou um sorriso entre os tubos, e disse:
-Acho que aquele ali já vai...e riu..
Logicamente que uma piada em ambiente desses não tem como não rir, e de fato a noite o criminoso foi mesmo, e no dia seguinte meu pai também, santa ironia, e aquele cheiro?Remédios, éter, decididamente não é bom.
Pensava em meu banho espumado, os mortos deveriam tomar um banho antes de partir(chegar de alma lavada?), e não com aquele aroma tão hospitalar,e os velhinhos que não gostam muito do banho?Por favor, imaginem a agonia de Pedro,fica aquele cheiro de mofo, você já sentiu cheiro de mofo ?E bolor?
Mas o tal aroma muda muito, sim, estive em enterros que cujo o cheiro da morte era frances, é vero, a viúva peituda estava tão perfumada como se fosse uma festa, luto acho que não era seu forte,em meu pensar, parece algo que acompanha, o pecado e a moralidade para não dizer mortalidade, aquela viúva perfumada daquele jeito, exigia mais que um consolo simples literalmente...a morte vista sob este ângulo, cheirava tão bem, entre as lágrimas da viúva percebia-se uma certa sensualidade, eu estava vendo demais?Não pode, mas aquele decote...por favor.
Porem nem sempre é agradável assim, em dias quentes de verão um enterro converte-se um calvário, a câmara ardente faz lembrar o inferno que talvez aguarde o morto, e as pessoas suarentas com cheiro de ovo cozinho,e os abraços de consolo convertem-se então no drama, o morto cozinhando ali,e as pessoas sobrevivendo, gostaria de dizer que talvez neste momento a dor da perda ganhe arrancos de depressão, pela condição humilhante que esta cena nos imprime. Ali a morte torna-se fétida.
O banho terminou...

Paz.
Luis Fabiano.

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