Pesquisar este blog

sexta-feira, julho 17, 2009



Tem um crivo aí?

Os seres humanos e seus vícios, quem não os tem afinal?Conversava a muito tempo já esquecido, com um grande amigo e boêmio cantor da noite, já falei a respeito dele, pessoa impar e solteiro convicto, ele pigarreava e entre um gole de cerveja e uma tragada em seu charuto fumarento, dizia as pérolas:
-Todo ser humano que se preza, precisa de um ou dois vícios!
Eu concordava, mas sempre perguntava como se fosse um ritual, “tá Sandoval, e porque ?”
Mais um tragada e ele respondia:
-Ora porra, eu detesto a solidão, um bebedor ou fumante solitário, é a autentica tristeza divina, o abandono de um pobre diabo!
Naturalmente a estas horas, Sandoval já estava para lá das fronteiras deste mundo palpável, e sua mente lubrificada pela cerveja, viaja em busca de paramos mais seguros, delírio, imaginação e fantasia, sim, essa era a solidão que falava, não o mero erguer do copo cheio em direção aos lábios sedentos, sem publico ? Nada disso, isso era irrisório, medíocre, aspirar, sonhar com as fadas embalando os sonhos, ou capetas soprando infernos sem fim, isso sim constitui dignidade respeitável autenticidade ou loucura, e em seguida ,ao fundo agora Sandoval cantava Noite Cheia de estrelas,sua voz ecoava assim:
-Noite alta céu risonho, a quietude é quase um sonho, o luar cai sobre a mata, qual uma chuva de prata de raríssimo esplendor ...
Mas o que me traz aqui não é Sandoval, não mesmo, mas uma cena que despertou em mim medonhos pensamentos, caminha na rua, ruas sujas, próximas ao Mercado Publico, uma rua que tem o nome de Tiradentes, que certamente faria Tiradentes revirar-se no tumulo, pelas memórias desta rua em minha cidade, encostado a uma parede suja, um senhor de cabelo nevado, vestia-se bem, um casaco preto qual uma capa o protegia do frio, daquela tarde quase noite, diminui o passo, ele com a cabeça um pouco arqueada para baixo, dava a impressão que sentia forte mal estar, normalmente sou indiferente a isso, mas aquela cabeça de alvos cabelos, o tipo corpóreo, um simpatia gratuita surgiu, ou foram as mãos de boas almas do outro mundo atuando em mim.
Quando me aproximei, vi que entre os dedos do velho, um cigarro aceso, e aquela tosse violenta quase uma tuberculose, aquele som de pulmões cheios, e tossia com dificuldade, mas aquele cigarro ainda estava entre seus dedos, aproximei-me, e ajudei a erquer-se um pouco dizendo aquele papo furado que sempre se diz nestas situações:
-O senhor esta bem? Posso ajuda-lo ?
Ele apenas tossiu, tossiu , tossiu,fui dizendo para ele acalmar-se que iria passar (ao menos eu esperava...), claro que o pensamento fatal veio-me a mente: e esse velho morre aqui e agora? Porra, eu tava atrasado para o serviço...
Mas ele ergue-se, e ainda com o cigarro entre os dedos, consegui falar finalmnete: Não posso com cigarro, mas também não posso sem ele...e riu
Quando ele riu, eu fiquei aliviado, parecia que a morte tinha ido atrás de outro afinal, é claro quando ele disse isso, lembrei-me de Sandoval, e suas frases lapidares, disse ao senhor desconhecido a frase de Sandoval: Todo ser humano que se preza, precisa de um ou dois vícios!
E ri para o velho, que após uma tragada, começou a tossir novamente, da mesma forma, ai claro que achei engraçado, aquilo era o aspecto mais mítico possível do ser humano, a dor e o prazer andando lado a lado, o vicio e a alegria, e naturalmente suas conseqüências funestas.
Desejei tudo de bom e fui embora, mas em meu pensamento lembrava-me de Hermes Trimegistos e suas leis, espelhos do universo, agora é claro já era delírio pleno de meu pensar, sim dizia Hermes: O que está em cima, esta em baixo, como é no céu, assim também é na terra.
Tudo aquilo fazia sentido, naquele momento, o cigarro, o velho passando mal, a natureza sem empestada pelos homens, lembrei-me das chaminés cigarros imensos, enchendo de fumaça os céus azuis, pulmão do planeta, o homem enchendo os pulmões de fétidos gazes, para seu prazer, ânsia , medo,desejo de ser algo que não é...tantos motivos,e que eu respeito a todos, acho que buscamos nossos anseios, e algumas vezes as coisas funcionam e doutras..bem doutras...
Nada podia fazer pelo pobre desconhecido velho, voltei ao pensar, e a voz de Sandoval novamente encheu a minha mente:...revelando a lua airosa ,a historia dolorosa desse amor...lua manda a tua luz prateada, despertar a minha amada...

Paz profunda a todos.

Fabiano.

Nenhum comentário: