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sexta-feira, julho 24, 2009



A morte, é apenas um pretexto.

O ser humano consegue dramatizar as coisas mais absurdas, e consegue superar-se no entendimento da própria idiotice, mesmo nos momentos mais graves de sua vida, as vezes um acontecimento trágico é catalisador da manifestação do ridículo original,é hora que o homem apresenta a sua face, inescapável isso me faz lembrar do direito que cada ser humano tem de ser um idiota,mas nem sempre, entendido ?
A morte deveria ser o momento que homem, vestir-se-ia não só da roupa de morrer, mas também de toda honra e demais virtudes que muitas vezes lhe faltaram em vida, a morte da uma espécie de “premiação”, bônus moral que ante a visão dos que ficam na Terra, converte-se o morto em ser angélico, com passagem direta para o céu ?É, aprendi desde muito cedo que não se fala mal dos mortos, e depois com o tempo me esclareci que não adianta nada, mortos, vivos no meio do caminho, todos somos o que somos e nada, absolutamente nada é capaz de abrandar a realidade, mas é preciso flexionar até com os que partem, a mentira serve de consolo por um breve momento, a culpa e outros sentimentos não resolvidos, magoas, feridas abertas, bem, tudo vai para o túmulo, numa espécie de ponto final inacabado!
Mas, voltando ao nosso ridículo original, quando o cortejo chegou na câmara mortuária, alguns poucos parentes da viúva estavam lá, o corpo ainda quente e bem vestido, foi colocado no centro da sala, com as pompas fúnebres e reverencia de acordo com o bolso da viúva, Agenor merecia sem duvidas, era bom pai, ótimo marido, trabalhador respeitável, pessoa de índole e moral irrepreensíveis, todos achavam uma injustiça Deus tê-lo chamado tão cedo para perto de si, era injusto, sim Agenor tivera um mal súbito, uma forte dor aguda no peito e quando chegou ao hospital, já era tarde demais, o coração generoso de Agenor deixara de bater, órgão ingrato com alguém tão bom, diziam uns.
A sala começava a ficar estreita diante de tantas flores, de tantas pessoas que vinham dar o ultimo adeus a Agenor, e todos iam ficando por ali, admirando o cortejo volumoso que crescia hora a hora!
Quando deu entrada uma senhora, mulher madura mas de beleza inigualável, morena vestia um discreto vestido preto de revelava um pouco as curvas generosa de seu corpo, óculos escuros, e uma expressão de uma tristeza inigualável,(estava mais triste que a viúva) entra, cumprimenta a todos com extrema educação,da pêsames a viúva, que envolvida na sua própria tristeza,não se percebia muito de todas as pessoas que lá estavam, mas a verdade que ninguém conhecia a tal linda mulher de preto, e diga-se de passagem, era muito mais bonita que a viúva!
Senta-se a dama de preto e fica em silencio triste e respeitoso, lentamente começa uma conversa cochichada, sobre a nobre desconhecida dama, até que chega aos ouvidos da viúva, e como que se acordasse de um transe feito de tristezas e lembranças, presta atenção na nobre mulher de preto! É o que eu digo, o morto ali, e a viúva começava a duvidar da então ilibada moral de seu marido, os filhos olhavam para a mulher de preto como uma espécie de horror colérico, quem era aquela mulher afinal? Porque ninguém a conhecida das relações de pai e marido? A viúva dá-se conta que ela era linda, elegante, e na sua memória agora em agonia e insegurança, fantasmas se desenhavam, lembrava dos cansaços eternos de seu marido, da sua ausência de desejos por ela, então talvez aquela mulher fosse a causa de tudo isso? Será? Imediatamente o marido tão honesto, bom, ilibado quase angélico, começava a perder o brilho e auréola, ela olhou para cara do morto no esquife, e por um breve momento teve a impressão que ele sorria para a mulher de preto! Tornava-se agora um cretino em seus piores pensamentos.
A dama de preto, chorava discretamente, choro sentindo e silencioso, dor de amor perdido, de flor que morre, do que se perde pra sempre e fadado ao pó, porcelana suja. Um detalhe muda tudo, tudo naquele instante de realidade tão inegável e mortal, ficava visível, Agenor, era um ser humano comum, tinha falhas, mas Agenor agora não era mais importante, mas aquela mulher ali, era tudo que ele sempre idealizara, e ficara oculta por quanto tempo? Então, ela a viúva vivera uma vida que foi se não uma ilusão a sombra de um ideal? A tristeza agora não era mais por Agenor morto, mas que a sua vida perfeita fora um conto de fadas, e Agenor levava para o tumulo parte dela que fora a sua vida!
A bela moça de preto, percebendo olhares inconveniente e aquela conversinha lateral, acha melhor ir embora ,mas antes de sair chega perto do cadáver de Agenor e fala-lhe algo ao ouvido, enxuga duas cristalinas lagrimas, e sai lentamente, discretamente.
A viúva tinha certeza, Agenor levaria para o tumulo as ultimas palavras daquela lhe segredou, e ela a viuva nada tinha a dizer, deu-se conta que em verdade era viúva a muito tempo quanto tempo ?E que a morte de Agenor fora apenas um pretexto funesto, sentia-se diminuída em seus valores, e um ato estranho saiu caminhando a esmo...e todos a lhe acudiram e diziam:
-É a tristeza..é a tristeza...
E ao longe e muito longe, ouvia-se o salto alto da bela dama de preto.


ps- eu já fui a muitos enterros, e confesso que sempre acontece alguma coisa(presto muito atenção) estranha, mas a hora da morte tem este dom, de fazer com que as pessoas apresentem situações que terminam por tirar um pouco a atenção do morto, onde as vezes pequenas diferenças aparecem fui num enterro, que um dos convidados contava piadas bem baixinho ao ouvido das pessoas, que não queriam rir,mas discretamente riam...mesmo no enterro do meu pai, situações estranhas aconteceram,mas eu relatarei em outro momento adequado, é as vezes a morte parece uma piada de mau gosto!


Paz profunda a todos.

Luís Fabiano.

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