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quinta-feira, junho 18, 2009



No sebo

Minhas caminhadas sempre me coroam, ou de alguma forma me abençoam com as tribulações da vida cotidiana de outras pessoas, como se não bastasse as minhas, mas estamos na pista, e a isso se chama viver, na verdade sobreviver,para a grande maioria de nós, aceitar isso como normal,é por assim dizer ficar satisfeito com isso.
Como a maioria que já me conhece, eu adoro livros então fui em busca de meu prazer pessoal, prazer solitário, como bom onanista que sou nestas questões tão intimas, e pessoais, aliás mais intimo impossível não é mesmo? Chego no sebo que freqüento usualmente em minha cidade, onde um casal por assim dizer administra o estabelecimento, ela manuseando o computador e ele na parte bruta da coisa, organização, limpeza, catalogação e ordem. Sim, até ai tudo bem, chego lá e neste dia especificamente, eu os encontrei em uma discussão acirrada estilo Ménage tróis, pois ali estavam também um amigo, que imagino supostamente estudante de jornalismo, discutiam acirradamente as questões que envolviam o curso, da valia ou não do diploma e essas pendengas antigas, repletas de nadas, nadas que as pessoas usam para preencher suas vãs existências.
Acho mesmo qualquer discussão interessante, quando as pessoas são inteligentes, discussão advindas da burrice, da passionalidade ou das enfermidades da alma, tornam um vasto deserto onde nada se extrai, enquanto eu olhava os livros, saboreando nomes como:Nietzsche,Platão a Republica, boa sugestão, Schopenhauer e outros, bem, ouvia o festival de estultice, por favor não pense que estou julgando, longe mim, tenho noção de minha obnubilidade enciclopédica,nas boa letras de Nelson, então vem o fato em si.
A referida moça que tinha por volta do seus trinta anos, sentiu que” perdia” a discussão, então começou um irritante, num sentindo repetitivo ,na maneira de chamar seu então querido marido, e ela dizia com voz de gata:
-Mas amor...tá mas amor...amor...então amor...certo amor...quem sabe...amor...
Confesso que achei uma estratégia sórdida a dela, mas no amor e na guerra vale quase tudo, o terceiro protagonista da historia, estava rubro e quando a moça repetia ,amor, via-se fumaça saindo de suas orelhas, até que então não suportando mais a cansativa situação, inventou uma desculpa barata, dessas que inventamos para fazer qualquer outra coisa na vida, e foi-se embora.
Eu em off, apenas observava, dentro de mim confesso que ria, pois via-se na cara do marido, (lembrei-me de um excelente texto do Marques de Sade - O Marido Complacente - uma pérola da literatura...),ele imaginando que ida de seu colega, a discussão terminara, o papo chegaria ao fim,a fogueira aplacava-se, ledo engano amigo, mal o rapaz acabara de sair a porta, ela olhou para o marido complacente e disse:
-Mas amor...tu não acha que eu to certa?
Aquilo foi o tiro de misericórdia, começava tudo de novo... Mas amor...amor...amorzinho...
Por um momento odiei Maria da Penha...aquela moça não entendia o óbvio, o marido com um olhar transtornado, foi tentar começar a dizer alguma coisa, o celular dela toca, salvo pelo gongo,ela atende:
-Alô, oi maninha, que saudade, então me conta as novidades...
Ele levanta-se de onde estava, e vem em disparada para o corredor onde eu estava, perto do filósofos, ele procurava socorro na sabedoria, eu estava alia apenas por acaso, então o cidadão sentou-se perto de mim, eu estava apenas sorrindo interiormente(eu acho), mas creio que algo deva ter vazado para fora de mim, como um peido incontido, ele me olhou, meio sorridente e disse:
-Salvo pelo celular...pelo gongo...
Eu olhei para ele e disse: é verdade, tu mercês um prêmio (eu ia dizer mais coisas, mas preferi calar, vá que de - repente ele tenha aqueles arroubos passionais que as pessoas tem quando envolvem sentimentos...me economizei).
Ao fundo ouvíamos ela falando no celular:
-Mana...mana...mana... tá, e tu tem leite nas tetas? Tem bastante é...nossa que bom...é...que bom...
As vezes resolver as coisas de forma filosófica, é como tentar implodir um vasto prédio usando uma bombinha de são João.

Dedicado a todos que não tem ,um se toque( por favor não me entendam mal, nada de masturbação hein...)
Paz profunda a todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

A maioria das pessoas, dependendo da situação e da discussão, não tem este " se toque ". Sempre querem argumentar e mostrar o porque acham que teem razão em determinado assunto.

P. S.: Dia 7 de agosto estréia nos cinemas o filme " O contador de histórias"....um filme maravilhoso, um belo roteiro....para você que gosta de narrar alguns fatos do cotidiano corriqueiro da vida, vale a pena assistir.( Sei que o que escreves é apenas um diálogo de você para com você mesmo.)


Doca

Fabiano disse...

Em outros momentos de minha vida eu até discutia,a medida que fui felizmente perdendo a passionalidade, isso de alguma forma perdeu o sentido, e passei a observar as pessoas do ponto de vista do ridículo, aliás angulo em que 95%(sendo caridoso) da humanidade está.
Valeu pela indicação, com toda certeza vou ver o filme.
Fraternalmente.