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sexta-feira, junho 19, 2009



De Eva a flores secas...

Não preciso lembrar que o tempo é inexorável, sua fome é tamanha que lentamente nos devora a todos, como a lembra-nos de nossa impotente finitude, fazemos o que é possível para disfarçá-lo, mas a luta é inglória e derrota certa. Mas esta moeda, tem outro lado isso é verdade, ou melhor pode ter outro lado, se a benção da sabedoria nos coroar com o passar do tempo, se por um lado,o nosso organismo vai ficando desgastado, nossa lucidez aumenta, se nossos cabelos vão ficando brancos, nosso entendimento vai se fazendo mais claro também, se nossos desejos mais primitivos vão tornando-se áridos, nossa emoção toma ares de refinados, afago da mãe natureza que nos tira algo, para nos dar outras tantas coisas, mas será que percebemos isso assim?
Logicamente que não, em nosso pensar queremos ser “eternamente” jovens,na aparência principalmente, queremos o flácido membro mais erguido que a Torre Eiffel, que antes a escorregadia e lubrificada vagina, agora convertida no deserto do Saara, seja eternamente fonte de prazeres ilimitados, mas não é mais...não mesmo.
Vocês já viram os olhos de um leão enjaulado ?Vão ficando apagados...sem vida...
É claro que subterfúgios existem, não os nego,mas são um auto-engano, um dizer a si mesmo que não, o tempo não passou, mas sabemos da mentira, passou sim, e rápido,o cabelo não mente, a pele não mente,a voz não mente, o brilho apagado dos olhos não mente, a secura não mente, a flacidez muscular não mente, mas existem subterfúgios, existem outras mentiras.
O nome dela já dizia tudo, Lucrecia, é preciso respeitar um nome desses, claro que os mais velhos lembrarão da historia de Lucrecia Bórgia, mas digamos, esta é uma anti-historia da mesma, pois embora devassa como a outra, tinha agravos sua avançada idade para a execução de sagrada profissão de prostituta. Sempre fui meio Sadeniano, confesso, nunca ao extremo de tais prazeres que extrapolam o bizarro, digamos um bizarro mais leve, quase sutil, e neste período que lembro bem, a alguns anos atrás conheci Lucrecia, apelidada de Lulu, como uma cadela vira-latas, que colocamos aquele nome sem nenhum compromisso, Lulu era conhecida em quase todas as rodas, uma típica prostituta com todos os achaques naturais da mesma, porem como disse, o tempo lhe foi inexorável.
Conversando com algumas pessoas do meio, descobri que Lulu era linda na década de setenta, atendia a todos os homens que a procuravam, não sabia dizer não, o velho Sebastião, me contou que ela era ninfomaníaca mesmo, chegava a cansar mais de vinte e quatro homens por dia, que saiam arrasados de seu quarto, porem satisfeitos pelos serviços de Lucrecia. Bastião dizia que ela era linda,esguia morena de cabelos negros encacheados, olhar brilhante, sorriso sedutor e um ar fatal, sim, daquela mulheres que os homens olham, e a única coisa que dá para pensar é:transar com ela, fazê-la gozar plenamente e derramar abundante esperma em seu baixo ventre. Claro, que com uma propaganda destas, que você pensaria? Quem não iria querer conhecer Lucrecia?
Eu conheci.
Descobri onde era o seu estabelecimento de volúpia e fui até lá, é claro que não era mais o luxo que foi em antediluvianas eras, agora estava resumido a casa de cômodos simples, era noite e fui chegando devagar para observar o movimento, ficou claro que era um puteiro, pequena luz vermelha, musica alta, e entra e sai de gente, de homens principalmente, desci do carro e fui entrando como quem não quer nada, já fui pedindo um gelada para poder ficar incólume ao olhar do atendente,ele me deu a pior cerveja que existe, daquela marca vagabunda que da uma dor de cabeça daquelas...sabe qual né...tomei assim mesmo.
Então perguntei depois de uns quarenta e cinco minutos de papo furado, com desconhecidos, a Lucrecia tá ai ? Risada geral...e diziam, “a Lulu ?”
Eu acedi com a cabeça, sim, eu queria a Lulu.
Me apontaram para um canto do mal fadado boteco, em uma mesa de canto, alguém vestida de forma burlesca, extravagante mesmo, parecia que havia estacionado nos anos setenta, a visão era incrível, agradeci ao atendente, e fui me aproximando lentamente, como quem se aproxima de uma lenda viva,uma entidade(eu não conheci nenhuma lenda viva, aquela era a minha
primeira, ta certo que a lenda não era boa...mas não se pode ter tudo na vida...), pedi licença e perguntei:
-A senhora é Lucrecia?
Ela ergueu a cabeça lentamente me olhou nos olhos, e disse:
-Ninguém me chama mais por este nome, eu sou Lulu para o mundo.
Senti em sua expressão dignidade, coisa rara, sentei-me e fui logo dizendo:
-Lulu, tu ainda faz programas ?
Ela:
-Tu tens dinheiro?
Eu: Claro.
Ela: vem comigo gostoso.
Quando chegamos ao quarto dela, luzes mais claras ali pude ver o rosto da verdade, e confesso que não é um belo rosto,rosto rebocado de maquiagem com rugas que mais pareciam uma cratera lunar, num gesto automático, sentei-me na cama, e ela começou a tirar a roupa,os cabelos ralos e mal pintados embaixo do chapéu burlesco, unhas mal pintadas em mãos que mais pareciam garras, uma opulência de gordura, que lembravam a casa da banha, e eu sentado ali, estático, em choque talvez( choque é pouco provável, porque absolutamente nada me choca, tenho um vasto repertorio de bizarrice,vista e vivenciada) quando ela tirou o sutiã, os seios despencaram como um prédio sendo implodido,embora vastos, seios caiam em linha reta,fazendo aquele som de palmas, e ela evoluía seu strip-tease da tragédia, quando por fim tirou a calcinha( calcinha era um fio dental, totalmente perdido nas vastas dobras, engolido por uma imensa vagina cabeluda),era o grande finale ?Nada disso amiguinhos.
Ela partiu para cima de mim,quando pude sentir seu hálito pútrido, uma revolta estomacal se iniciara em mim, suas mãos frias me tocaram, já abrindo a braguilha, em busca do pássaro no ninho!
Bem, diante daquilo, caminho sem volta, a condição mais adversa para uma ereção, relaxei e aceitei o mórbido, beijei aquela boca, acariciei aquele corpo, olhei naqueles olhos apagados, fiz todas as preliminares que o protocolo de uma boa transa necessita, me banhei no cheiro do prazer de Lucrecia. Ela não era mais a mesma, a ninfomaníaca havia morrido a muito tempo, sentia dores aqui e ali, não conseguia manter um movimento de prazer. Transei com ela como quem ajuda os idosos a atravessar rua, ela com seus sessenta e seis anos, uma vida judiada não era nem sombra a mulher que fora um dia.O tempo ,inexorável tempo.
Ao final, ela me disse:
-Fazia muito tempo que não transava, os homens não sente tesão por uma velha,acabada como ela, uma lagrima de leve escorria de sua sulcada face.
Eu olhei para ela, num misto de compaixão e algum outro sentimento bom qualquer, a abracei-a, e disse:
-Olha Lucrecia, não me interessa que os homens pensam, mas eu transei com Lucrecia uma lenda viva, uma lenda viva...
Ficamos abraçados como amigos de longa data, em silencio.

Paz profunda a todos.

Luis Fabiano.

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