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segunda-feira, abril 06, 2009

Ultimo diálogo...

Hipoteticamente todos nós pensamos ainda que remotamente em algum momento existencial, por um segundo que seja, como uma breve fuga,bem rápida talvez, uma saída pela tangente sem escalas, relaxe, isso é absolutamente normal dentro do plano do pensar, não precisa culpar-se, falando friamente, o suicídio é apenas um subterfúgio mais explicito e veemente, não muito diferente das obscuras formas que temos de nos esconder quando a coisa fica feia, sinceramente não acho feio porque simplesmente é natural, é instintivo e toda a baboseira psicológica para explicar isso...filosofia terapêutica para deter um bala na cabeça desesperada, para não permitir chutar o banquinho com aquela corda no pescoço, a criatividade é quase infinita.
Ambrósio estava num destes momentos decisivos da vida, onde parece que todas as coisas do universo conspiram contra você, levando você gradualmente para o buraco, sentado no escuro Ambrosio pensava assim, aquele dia tinha sido memorável, coisa pra ser descrita como a autêntica desgraça original, em sua mente desfilava como um cortejo de carnaval feito de catástrofes que aquele dia terminava por coroar.
Na parte da manhã Ambrosio fora chamado a conversar com seu chefe que lhe deu mais ou menos neste tom a noticia:
-Senhor Ambrósio, o senhor é um excelente profissional, nossa empresa sente-se orgulhosa de tê-lo em nosso quadro de funcionários, porem o senhor sabe que existe uma crise mundial, e nem sempre os melhores são os eleitos, a qualidade não quer dizer tudo a produtividade sim, como o senhor é o que está a menos tempo na empresa, sinto em dizer que precisaremos infelizmente demiti-lo !
Essa noticia foi um tiro em seu peito, estava empregado a três meses e precisava muito daquele emprego, sua família precisava, e agora o fim, com uma palavra tudo era desfeito, pensava como iria manter Sueli a sua esposa, que diria ela? As contas? O carro? A comida? Sua cabeça dava voltas e seu estomago doía...
Saiu da empresa, andando pela rua como um fantasma, não sabia se iria para casa eram nove horas da manhã, precisa pensar, pensar...entrou no primeiro boteco que viu, pediu um café mas por infelicidade o atendente virou o café em sua camisa branca manchando-a, ele secou como pode e pediu outro café, tomou aquele café como se fosse uma bebida libertadora,pensava, que seria de sua vida? Pensamento como tormentas agitavam-se no turbilhão de sua alma, estranhamente nunca sentira-se tão sozinho, nossa, tão abandonado, um noivo cuja a noiva não apareceu na cerimônia, solidão acida.
Saiu do boteco e como não tinha para onde ir decidiu-se em ir para casa, ainda era cedo mas assim faria uma surpresa para esposa, toma o rumo e ao chegar a frente de casa depara-se com um automóvel estranho na frente de sua residência, pensa que talvez fosse um vendedor fazendo seu trabalho, vai entrando devagar como quem não quer nada, abre a porta de mansinho, parecia que adivinhava algo, uma intuição misteriosa, ao chegar na porta do quarto depara-se com uma dantesca cena, chocante demais para aquele dia tão atribulado, sua esposa de quatro sugava o pau de um desconhecido ,que pelo ele notou era extremamente mais dotado que ele, naquele instante era como se a vida tivesse parado, o tempo congelou ante seu olhos, o corpo tornou-se chumbo e não sabia exatamente o fazer, não sentia ódio, não sentia amor, não sentia raiva...apenas não queria ver nada mais.
É claro, naquele instante a idéia de meter uma bala na cabeça não parecia ser a pior das coisas, nem mesmo soava como pecado, se pensarmos bem, matar-se não é crime, uma vez que quem se mata não pode ser punido... em seu delírio emocional não sabia ,mesmo dentro de uma catedral orando a todos os anjos, arcanjos e querubins e claro Ele, algo iria acontecer? Será que daqueles vitros repletos de beleza, lembrando paisagens do céu, e as estatuas de tais anjos criariam vida e lhe salvariam da dor eminente? Claro que não, a idéia da bala ficava agora mais saborosa,um alivio imediato, um passo para o nada, o não existir...
Retirou-se dali em anonimato, não fora visto ou mesmo ouvido, tanto melhor, sentia-se um derrotado na alma, o ultimo dos perdedores, um falido completo cuja as opções era entregar-se a uma morte breve,rápida e se possível sem muita dor, sua cabeça agora já não mais pensava na vida,que vida? A miserável vida que o conduzira até ali? Dilacerando lentamente seu corpo, sua emoção e destruindo sua alma? Antes havia um alento, mas onde esta este alento? Digam-me? Apenas o pior silencio e uma indiferença que como laminas adentra minha carne, em verdade eu já estou morto, eu já morri a muito tempo, apenas meu corpo ainda não encontrou descanso...
Mas como devo fazer?
Milhares de idéias rondam minha mente, a coragem existe, base essencial para plena realização...agora era apenas escolher...queria tanto morrer, encontrar o nada existencial dos ateus, o baixo e denso mundo espiritual dos espiritualistas, de umbrais e toda sorte, o inferno eterno dos católicos,o Gehena do Judaísmo,o Sheol dos Jeovás ,o Sansara budista (roda das encarnações) o Tártaro.
Ainda em minha cabeça, agora mesmo, laminas me pareceram agradáveis, cortando artérias, expondo vísceras ,mas a dor maldita que isso causa,como evitar, quero morrer, mas sem dor, até neste ultimo instante tem que haver dor? Então comprimidos vieram a minha mente, intoxicação profunda, aprendi com um farmacêutico e bastava tomar comprimidos para dor de cabeça em pencas, se faz e claro com uma morte dolorosa. Isso também não me serve, então o enforcamento? Não, fora de questão, por ser horrível morrer por falta de ar e geralmente mijando-se ou cagando-se em função da força, morte horrível e inglória.
Ainda não sei, tudo me pesa e essa dor que não cessa jamais? Filho da agonia, queria anestesiar se possível um pouco...um pouco,mas tudo nega-se a isso, perdi-me da luz...