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quinta-feira, junho 19, 2008



Aroma das flores!

Costumo dizer que sempre a realidade é mais abundante que a ficção, em termos fantasiosos a realidade chega a parecer um sonho, pois o ente humano é um é “vagante” a procura do infinito, muito embora não tenha a menor noção do que seja isso, do que é a si mesmo, então tatear é sempre a melhor escolha e claro as vezes algumas surpresas advêm.
Olhando com destemido olhar para essa turba ululante que é a humanidade, escolho a dedo os melhores/piores personagens para protagonizar estas insignificantes paginas, mais para meu deleite pessoal que para apreciação dos que aqui aportam, digamos flutuantemente um prazer solitário, uma masturbação que as singularidades da vida propõe, afinal cada um procura seu prazer, e estas personas são evocadas de minha memória razoável, seres que se destacam por serem bons ou maus, o meio termo não existe, por ser uma falta de presença pessoal e no meu entender é como um perfume inodoro!
O nome dele era Solé, éramos mais ou menos amigos de infância e adolescência, eu nunca fui de notar nada nas pessoas, para mim cada um faz o que tiver vontade, consigo mesmo e claro que assuma mais ou menos o que faz, mas na época isso não tinha lá muita importância, tínhamos dez e onze anos e aqui confesso que era uma criança totalmente imbecil, o que na época era muito bom, talvez uma celebração a minha inocência (se é que um dia tive alguma...), mas Solé não era o meu melhor amigo isso é verdade, alias ao contrario brigávamos muito o que constitui um prazer infantil, é verdade, mas era o que era tudo certo.
Porem com o tempo e as constantes brigas e reatamentos se tornaram parte da vida normal, porem algo se acurou em mim, a capacidade de observar peculiaridades, e com isso eu desenvolvi um radar para captar as bizarrices humanas, alias diga-se de passagem, as melhores, porque o ente humano ordinário por vezes me é desprezível,literalmente nem fede e nem cheira...de onde extrair nobreza de algo assim?
E assim foi, ai meus amigos, passei a notar uma “qualidade” de Solé que embora muito discreta se fazia sempre presente em seus momentos de ociosidade mental ou uma mania inconsciente, coisa bizarra e poética ao mesmo tempo para quem tem o “gosto”, ele como quem não fazia nada de errado, sorrateiramente levava a mão direita na parte de traz das calças, e tinha um sorrisinho estranho, ai introduzia alguns dedinhos em seu aromático orifício e se demorava alia alguns segundos, talvez quase um minuto, e então lentamente trazia até ao olfato o perfume de sua “rosa”, e como um degustador de aromas saboreava aqueles dedinhos aromáticos, com o tempo fui percebendo que isso lhe causa uma espécie de êxtase, sim, ele ficava com os olhos semi-cerrados como um meditante indiano em busca do nirvana, era um estranho ritual o de Solé, depois de terminado isso ele como que voltava a normalidade com um olhar “iluminado” e claro mal cheiroso...
Bem, claro que isso virou motivo de chacota de outros amigos, que com a minha constatação passaram não mais a apertar mão de Solé, então criava-se um estranho momento quando ele chegava, o pessoal abanava, sorria, dizia e ai..e meio que se afastava justamente para evitar a mão do “amor” de Solé, um deboche e uma verdade em uma frase.O tempo passa, e todos de alguma forma crescemos, a algum tempo atrás vim a encontrar Solé, o que foi no mínimo interessante, porque infelizmente minha memória é excelente, bem ai você pode imaginar a cena, como lembrei que ele era destro, usei uma estratégia de fuga, o cumprimentei com a mão esquerda, me tornei um canhoto instantâneo, o que foi estranho para ele, que me cumprimentou e disse em forma de pergunta: Fabiano tu eras canhoto? Eu olhei sinceramente em seus olhos e disse com muita tranqüilidade da consciência:
-Sim claro Solé, sempre fui,na verdade amigo, eu sou ambidestro, algumas coisas com a mão direita e outra com mão esquerda, disse dando uma irônica risadinha
Ele sorriu e eu também, ai conversando descobri que ele se tornara lutador de jiu-jítsu, e que levava a vida simples em um emprego comum, estava casado e era feliz aparentemente, bem confesso que quando ele disse que estava casado milhares de perguntas fervilharam em minha mente, que hábitos estranhos poderia ter a esposa? Será que ele ainda mantinha o cheiro de rosas nos dedos? Puxa será?
Naquele instante enquanto ele falava sem que eu nada ouvisse, eu sorria de mim para comigo mesmo, então me despedi dele,claro com a mão esquerda e nos afastamos cada um em seu universo, diga-se de passagem que aquilo não foi um encontro, foi um passeio de memória, por vezes em as pessoas não suscitam mais que isso, uma boa memória.


Uma diversão narcotizante natural.
Jamais esqueça o perfume das flores.
Paz e luz em teu caminho.

Luis Fabiano.


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