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quinta-feira, dezembro 06, 2007

Conto de Natal – 0I

Mais uma vez o natal esta próximo, saudações, congratulações, bebida, comida, presentes e um raro espírito de natal cada vez mais em desuso, porque o preenchimento do vazio de nossas emoções é com tudo aquilo que não relaciona-se ao natal, mas bem, longe de mim criticar ao contrário, eu dou parabéns a todos com tranqüilidade...mas aqui não quero ser tão incisivo, hoje vou ser ameno quase como um soro caseiro contra a desidratação.
Alfredino desde de que se conhecera por gente tinha um sonho, talvez mais que um sonho uma ambição um sentindo na sua vida apontava para o norte, quase literalmente, Alfredino queria ser Papai Noel,lembra-se hoje ainda, da visão de seu pai as vésperas do natal gostava de imitar Papai Noel, claro sem roupas porque afinal eles eram muito pobres, ficava em casa imitando aquela risada preenchida de graves do velho Noel,uma brincadeira era verdade, porem a chegada no Natal era aguardada, talvez mesmo ele algo acontecesse afinal o bom velhinho gostava das crianças, porque não iria gostar de Alfredino?
Na noite do dia vinte e quatro para o dia vinte e cinco, uma mesa lauta estava preparada,um banquete daquilo que era possível, um banquete magro mas todos vestidos a espera do seu pai e do Papai Noel, Alfredino acostumara assim, bem mas isto foi até o dia que soubera a verdade que com toda certeza iria modificar sua vida, para sempre, descobrira em tardia idade que papai Noel não existia!Aquele golpe de seu primo fora mortal para sua vida, entre uma risada e outra seu primo dispara:Achas que existe papai Noel Alfredino? Há,há, há é claro que não, o papai Noel são os teus pais, há, há, há- Como um copo de gelo em um deserto árido Alfredino deu-se conta, é claro, como pode um velho vir com renas voando pelos céus, distribuindo presentes para deus e o diabo?Uma tristeza imensa se lhe apossou,seus pais haviam mentido para ele todo esse tempo, ele agora estava com oito anos de idade, alguns pensariam que um retardo, mas ele era puro e quase inocente.
A partir daquele dia Alfredino desejou ser Papai Noel,e então veio a adolescência , por fim a maturidade e o breve desenvolvimento dos instintos até então mais ou menos contidos,a moral rígida em que fora criado jamais poderia ter nenhuma manifestação sexual, ao tentar masturbar-se recebia xingamentos e vitupérios , então desiludido,castrado e com instintos a beira de um vulcão Alfredino tentou sublimar na aspiração de ser papai Noel.
O tempo passa até finalmente em um destes tantos natais Alfredino vestido de vermelho, barba branca repleto de almofadas por baixo da roupa para esconder a sua magreza visceral, eis que o vejo com criança ao colo, tirando fotos, abraçando as inocentes crianças, rindo com seu ho,ho,ho, conforme seu pai fazia, porem, mais feliz do que nunca,mas que estranho sorriso era aquela na cara de Alfredino? Porque abraçava tão efusivamente as crianças,as moças? Por que sorris Papai Noel?hum...
É claro que ninguém poderia sonhar, ali estava Alfredino, um bom homem, justo,aparentemente feliz, socialmente aceitável, generoso, com um olhar amoroso, com um aceno ditoso de satisfação, mas a vida , bem a vida é dura, permitam-me dizer, vocês fazem idéia porque Alfredino tinha tanta satisfação e prazer ao ter as criancinhas no colo, abraçá-las ,beijas na face? Sim, porque ali ele estava se vingando da não existência do Papai Noel, sim, com estas breves caricias nas inocentes crianças, escutando seus pedidos, colocado-as elas no seu colo, tirando foto exercia com ânsia e prazer quase orgástico a sua sexualidade desvirtuada, vingança e prazer juntos, unidos e plenos na doce figura de um Papai Noel pedófilo digno da felicidade de um Marques de Sade ou de um Sacher Masoch, nunca Alfredino estivera tão feliz...ho, ho,ho.


Tudo na vida é passível de interpretação, e diga-se de passagem considero isto uma arte, a capacidade de ver com os olhos nus a natural e bela verdade, de minha parte apesar do narrado acima, se eu tivesse filhos os levaria para ir ver o bom velhinho tiraria fotos com ele com muita tranquilidade, lembro-me que certa feita prometi levar uma criança para ver a Casa do papai Noel ,mas não foi possível infelizmente, pelas curiosas,embaraçosas e tristes acontecimentos da vida que por vezes nos propõe, certamente realizar aquele pedido teria me inspirado a alma, por funesto e desimportante que tal ato pareça a olhos obtusos, aprendi uma grande lição ali, os simples e pequenos atos de si para consigo mesmo são capazes de nos salvar e redimir.

Fraternalmente
Fabiano.

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