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terça-feira, novembro 20, 2007

Tio Marcelino

As vezes a vida nos imprime lições em muitos níveis e muito embora por vezes façamos um regate do passado através do presente ...ontem dialogávamos entre a família com pessoas que a muito não via, que para mim que por vezes sou indiferente a certos contatos de natureza familiar, nada me toca muito isso é verdade em grande parte e maioria das vezes de minha sinto estar literalmente apartado de tudo e todos ao que não é um sensação desagradável, é jeito de ser só e nada mais, não existe arrogância ou mesmo presunção de minha parte,apreciador da verdade gosto de estar envolto em minha atmosfera algo egoística e verdadeira, não faço força para agradar a quem quer que seja, eu apenas sou eu! Você consegue ser você sempre?
Então sentado a sombra de uma pitangueira tendo a minha frente um personagem impar falando do alto dos seus 81 anos, feitos e muito bem vividos segundo ele, um detalhe, ele muito longe esta de aparentar a idade que tem, um rosto com poucas rugas, um sorriso largo, os cabelos um pouco e ralos mas branquinhos como um preto velho, barba bem feita e só um bigode alvo emoldurava seu rosto, conversando de absolutamente tudo, distribuindo abraços aos que chegavam e no alto da sua profunda simplicidade satisfeito, pleno com aquilo que tem e em paz com aquilo que não tem, curioso isso porque nunca conseguimos ficar em paz com aquilo que não possuímos ?Um sentimento de paz é algo sempre que começa em nossa individualidade, ninguém lhe rouba a paz, nada pode lhe fazer isto, naturalmente se você possuiu maturidade da alma, conhecimento advindo da sua experiência vivencial ou através da sua autobusca.
Um dado instante ele parou e nos narrou uma breve historia :Que todos os dias passavam um cidadão na frente de sua casa, e este lhe era desconhecido e todos os dia tal pessoa dizia a mesma coisa , pois tio Marcelino gosta de ficar na frente de casa tomando seu chimarrão ao entardecer naquela hora meridiana, então o cidadão dizia: E aí vida boa !Isso era todos os dias, passava no mesmo horário a mesma frase, :E aí vida boa hein...!Tio Marcelino apenas sorria, um dia depois de alguns meses como diz tio Marcelino ele levantou,mas naquele dia ele não estava muito bem de espírito, então passou o cidadão e disse sua frase usual, e aí vida ganha!
Então tio Marcelino pediu para ele se aproximar, ele aproximou-se e tio Marcelino disse:Amigo, quero apenas te dizer uma coisa,a pessoa que é o vida boa é o senhor, porque eu amigo nem sei como você, por que embora você não tenha notado eu sou totalmente cego, eu nunca vi você, não sei como você é, apenas ouço a tu voz, você me entende? Quero que você saiba uma coisa amigo, é você que tem uma vida boa, você anda, tem dois braços e sobretudo enxerga, você pode ver tudo a tua volta, vida boa amigo é tua!Disse isso com muita tranqüilidade e sentou-se, junto ao seu chimarrão.
Tio Marcelino não era cego mas ao longo do tempo foi ficando em função de uma doença degenerativa, e mesmo sem nada ver ainda faz quase tudo em sua casa a ponto que algumas pessoas duvidam que ele tenha problemas na visão ,ontem mesmo ele me contava que ele virou todo um canteiro para a plantar verduras, já havia inclusive espalhado suas sementes e que em breve elas iriam nascer, alfaces, cebolinhas e etc...ele mostrou-me sua adega ,cachaças de todo tipo,em diversas garrafas feitas com frutas, com butiá e outra tantas, vinhos de toda feita, tudo feito por ele cego!
Eu cá comigo fiquei pensando, a cegueira de tio Marcelino é a prova da profunda ironia da vida, porque ele absolutamente simples, repleto de sabedoria não cultural, tira seus exemplos da natureza, do encanto de nada ver e tudo entender,lembro quando ele me disse: Olha meu filho minha dor ela pertence somente a mim e ninguém mais,vivo em paz com ela e ela vive em paz comigo, eu aprendo com ela e ela aprende comigo e tudo fica bem, ninguém tem haver com aquilo pertence ao que eu sinto, de mim só passo as pessoas a minha vontade de viver e isso já me deixa feliz!
Ele já aprendeu que deixar o outro feliz é que nos deixa feliz, ironias de uma cegueira!

Fraternalmente
Fabiano.

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