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quinta-feira, novembro 29, 2007

Mulheres da vida

Nada de filosofia barata, nada de jogar conversa fora ou mesmo perder o nosso precioso tempo, a assinatura da realidade é a sua manifestação interna e perene inegável mesmo quando tudo a volta sopra mentiras e ilusões, é assim e sempre tem sido assim.
Todos os dias a mesma coisa, Rosa levanta-se e cumpria seus deveres de mãe de dois filhos pequenos e famintos, atendia com relativo prazer suas crias, como um historia que sempre se repete, filhos de pais diferentes que ela nunca soube quem eram, filhos da revelia, do acaso ou do total descaso, párias da indignidade segundo a sociedade, numa tentativa de redenção!Quando na verdade eram apenas crianças.
Vez por outra Rosa olhava-se no espelho e as vezes mal conseguia enxergar-se, via um vulto, uma sombra, sem olhos, sem coração, em função disto olhava-se muito pouco ao espelho, afinal existem coisas que é melhor não ver, a cegueira ajuda a viver, suportar e suportar-se.
Então atendida a sua quase família ela partia para o trabalho, Rosa não era que poderíamos chamar de profundo exemplo de beleza, era uma montanha, uma montanha em ruínas,magra quase esquálida, um rosto abatido, cabelos curtos e negros até os ombros, olhar não de mulher fatal, mas de cansaço, um eventual sorriso que era mais um ensaio a uma sedução sem graça que as vezes funcionava aos poucos clientes, então entregava-se como uma mercadoria, entregava a sua vida em ruínas, seu corpo em ruínas, aqueles que buscavam prazer barato e sem compromisso, cabe aqui dizer que essa é medida de quase todos os homens ,após a ejaculação tédio e enfado e em alguns uma profunda vontade de sair correndo, ou usar qualquer mecanismo de fuga subconsciente, que faça aquele momento passar mais rápido, e não raro as mulheres desejam abraços,afagos e talvez beijos ?
Terminado o ato numa quase manifestação automática, ejaculação rápida, o dinheiro e o breve adeus quando eram educados, com o tempo Rosa aprendera algo com seu trabalho. homens que tratam mal a mulheres da vida nunca souberam tratar mulher alguma,porem existiam clientes que a tratavam como uma rainha e neste espaço de tempo curto e breve ela sentia-se feliz, felicidade em grãos, em pequenos pedacinhos medidas pelo tic-tac do relógio.O dia termina e Rosa volta ao lar, com alguns trocados, com o corpo cansado e alma vazia.
Então enquanto mexia o feijão gostoso para alimentar sua família, mexia também em seu coração, os tantos acontecimentos em sua vida que a levaram até ali, dizia de si para consigo, que não sentia-se uma pecadora , embora as vezes tivesse prazer, mas que há de errado em ter prazer? O mesmo prazer que um escultor tem diante de sua obra acabada?Não havia pecado, ela não sentia-se culpada, tinha dignidade, olhava a sua volta, a casa estava em ordem, a alimentação ali estava,tinha um familia,e com este breve olhar sentia satisfação, pensava ainda, a vida cobra seu preço e tudo não se pode ter, aprendera com seu pai, onde andaria o velho?Convivera muito pouco com ele a morte o havia levado muito cedo. O feijão borbulhava com um aroma maravilhoso, e todos sorriam, ainda mergulhada em seus pensamentos, afinal a vida não é tão ruim, assim o cheiro daquele feijão enchia aquele lar de esperanças, esperanças cheias de sacrifícios e dor que nas ondas vaporosas do aroma nem eram percebidas, tal como a vida de todos aqueles que tem alguma felicidade, a vida sempre cobra seu preço.Nunca esqueça disto, era seu consolo para horas difíceis.
Um breve silencio e só a orquestração do talheres e bocas a manifestar-se, que feijão gostoso.

Com todo meu carinho.
Fraternal
Fabiano.

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