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sábado, junho 02, 2007

Afiador de Navalhas

Todo dia quase sempre no mesmo horário ele passava pela minha rua, sua voz grave e contundente em um grito de anunciador ” Oh Navalheiro...Tesouras...Facas..Navalhas, tragam a mim que eu afio,e nunca mais tornará a perder o fio”, a melodia de sua voz era a musica matinal que em primeiro momento dizia pouco ou quase nada, pois anuncia uma trivialidade de trabalho para o ganha pão de cada dia.Isso em primeiro momento.
O tempo passa, e percebemos que muitas lições da infância tomam agora uma proporção profunda, poética e bela, mesmo nos maus exemplos de nossos pais ou amigos ou mesmo parentes, que todos temos, afinal quem não tem “lixo” na família?!Toda família que se preza tem lixo! Mas contudo, tira-se essencialmente algo de proveitoso, mas amigos, é preciso saber olhar, para maioria das pessoas o por do sol é apenas um por do sol a mais e nada mais, e engolidas pelo trágico comum da vida deixam de enxergar a sublimidade de tudo que existe.Vejo ordem no caos,então desejo o caos, esse é meu prazer.
É preciso saber ver.
Se não souberes ver, é como se cego você fosse, e o que mais vejo por aí são cegos, que enxergam, tediosos e chatos.
Cresci, e aprendi com o Sr.Navalheiro que é preciso manter o fio sempre agudo, intenso e forte, o fio das emoções, o fio da mentalidade, é preciso ouvir o chamado do Sr.Navalheiro, pois o tempo carcomi a tua intensidade, leva tudo a uma tendência materializante, uma capacidade de enferrujar, perde-se o brilho, o viço, então vem a voz Sr.Navalheiro, é preciso ir ao encontro dele, é preciso saúda-lo e entregar-se a sua habilidade, ele nos chama a todos os dias através de sutilidades, mas aos acomodados o silencio que sempre traduz alguma profundidade é em verdade a quietude dos fossos abandonados e pútridos, é preciso saber ver e ouvir.
Contexto e interpretação é tudo, é a autentica chave para decifrar os mistérios e as sutilezas do homem, essa eterna ponte, derivação de bem e mau, que em determinadas situações podemos uni-los mas apenas em alguns momentos essa ponte é possível.
Porque deixamos de ouvir a voz do Navalheiro ?
Hoje lembro de minha infância embora isso não tenha importância alguma, creio hoje que meu ouvido se afinou, o Navalheiro não chama mais é certo, mas certamente ele já morreu porque de uma forma ou outra todos morrem, existem os mortos em vida, sua cantiga silenciou, mas em minha alma o eco de sua vós é presente, não é apego ao passado morto, mas existem belezas que são simplesmente são atemporais, como uma sinfonia clássica que tem a magia de evocar sublimes sentimentos, eis a cantiga do Navalheiro.
” Oh Navalheiro...Tesouras...Facas..Navalhas, tragam a mim que eu afio,e nunca mais tornará a perder o fio”,

Um bom final de semana a todos.
Paz em nosso coração.

Luís Fabiano.

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