Pesquisar este blog

sexta-feira, março 09, 2007

Uma mulher

Vagava a mendiga transeunte, tinha um aspecto de sujeira, mais um zero social pelas ruas de Pelotas, cabelos longos e nevoados em desalinho, a senilidade sulcada em sua face, pelo tempo este às vezes insensível e cruel ditador, e outras vezes pai carinhoso de doce olhar do esquecimento, ela estava sentada próximo a Catedral, a saia carcomida pelas bordas representando a velha indumentária física que ao longo do tempo vamos desgastando, em seus olhos um brilho triste e por vezes lágrimas, perdidos e longínquos, sua boca não sorria, mas falava só baixinho acariciando um pano imundo, tinha carinho por ele, era um pano de cheiro das crianças.
Agora em sua memória a lembrança veio a tona...ela era jovem e bela, certo que nunca tivera fortuna mas vivia com sua família, mas a felicidade não morava fora de sua alma e sim dentro, como toda jovem mulher queria casar-se, acreditava piamente que a felicidade residia nisso, não existe receita para felicidade, a construção de um lar, marido, filhos, sim queria ter filhos desde de tenra infância era a prerrogativa principal de sua vida, sua alma ansiava por isso, o tempo passa então, o amor de sua vida aparece e agora seu coração estava imerso em um mar de felicidade, afinal seus sonhos começavam a se concretizar, ele homem ruivo de seriedade sem par, mas a vida não é perfeita, pois a sombra da imperfeição é marca da humanidade, ele a enganou queria a seiva de corpo e nada mais, queria arrancar-lhe a virgindade, e o fez, e um dia desaparecera. Sentindo-se imunda, suja, usada, vira seus sonhos ruir como um castelo de cartas, acreditara de corpo e alma naquele amor e agora nada, nada sobrara, um deserto árido em sua vida e suas emoções.Aquele golpe fora fulminante em sua vida. Todos nós tempo golpes que matam algo em nós de forma definitiva, às vezes a causa é nossa mesmo, de outras, da própria vida.
A partir daquele dia ela, Dolores nunca mais foi a mesma, dor funda calava em seu peito, sonhos desfeitos, culpa, medo, não suportando o peso da sua dor saiu a vagar em vã tentativa de afastar-se de si mesma, pelas ruas saiu um dia qualquer destes, como o de hoje talvez, saiu, nunca mais tomou o rumo de casa, as roupas foram ficando velhas, o tempo foi passando, assim tudo envelheceu, ali estava agora.
As pessoas na da rua a olhavam desconfiadas, com medo, mas pobre louca que falava só e baixinho, com um pano sujo que tratava com carinho, acariciava com dedos ásperos. Dolores suja, velha, cansada diante da vida, acariciava ali o filho que nunca tivera, o pano de cheiro, que o faria dormi uma noite tranqüila, falava baixinho um cantiga de ninar, sim, fruto do melhor de si, de seus sonhos devastados sublimados na sua aparente insanidade.


Dedicado a todas as mulheres, não pelo dia internacional, mas pela intensidade de todos os seus dias.

Fraternal carinho
Bom final de semana.

Fabiano.



Nenhum comentário: