Pesquisar este blog

sábado, março 16, 2013

sexta-feira, março 15, 2013

Guido-CNR


   TEASER  -  Guido CNR    


A entrevista do século no Fio da Navalha. Guido CNR, falando da sua vida, suas músicas, a sua historia. 
Guido é um ícone do Rap em Pelotas, e o papo com ele foi dos melhores.
Aí esta uma breve ponta, para você vê o que te espera na próxima semana

 Com vocês... senhoras e senhores 

Guido CNR !









Paz vacilante, Marião e uma ratoeira...

Por vezes a beleza tira férias. O que sobra são os farelos das sombras, como quem deseja alimentar os próprios demônios, com isso, como o próximo capitulo do destino. Ninguém é melhor que ninguém, e eu estou longe de ser um humanitário de carteirinha.
Estava em paz, tem dias que as coisas são mais tranquilas, menos dores, menos incomodações ,é fluir, como quem surfa, a vida te leva, e o resto fica bem...

Estou na janela do Ap, olhando para baixo. Sem camisa, um copo de rum na mão, noite tranquila, a temperatura baixou um pouco, porra isso é maravilhoso. Penso em um paraíso, com uma temperatura perene, primavera ou outono eterno, isso seria perfeito.
O rum desce como um néctar, a bebida da redenção. Isso é bom, acho que hoje nada vai acontecer. Nem mulheres, nem bares, nem a minha volta nas madrugadas de uma Pelotas adormecida, não, hoje não.
Uma ambulância passa gritando o desespero, a urgência, uma vida que vem ou vai... Vá saber? Ela dobra a esquina e desaparece. Sirvo mais uma dose caprichada de rum.

Então como um raio no deserto, o celular toca e acende. Ri sozinho, a paz ao que parece nunca é tão duradoura assim. Os seres humanos não foram constituídos para terem paz eterna. É, nada disso.
Era o Mário. Mas o Mário me ligando as duas e quarenta e sete da manhã? Mário é um brother e amigo não muito próximo, usa cadeira de rodas, as pernas não funcionam bem, tivemos bons papos, gosta d noite. Atendo:

-Fala Marião... O que manda há essa hora meu brother?

Ele respira forte no telefone... Parece com algum problema... Me preocupo.

-Marião... Fala cara... Tudo bem aí?

A voz meio rouca e sonolenta se manifesta:

-Fabianooooo... Fabiano... Me ajuda cara... To mal...
-Marião... Que houve? Tu tá bem?
-Fabiano... Eles me roubaram cara...
Entendo.

Marião gosta de algumas funções. Sabem como é: mulheres, putas, travestis, amor barato, diversão com bebidas e drogas, é o gosto de cada um. Não me preocupo e não julgo nenhuma situação, uns preferem dormir outros não... Fique a vontade.

-Ok Marião calma aí, tenta ficar tranquilo, vou dar um pulo ai... Pode ser? Serve?
-Bah Fabiano... Te agradeceria... por favor...
-Chamo a policia, ambulância, tá ferido?
-Não... não... Cara... Policia não... Não quero virar noticia, não to ferido eu acho...
-OK.

Desligo telefone e me dirijo para o centro da cidade. Marião mora perto da Osório, numa casinha pequena, mas muito aconchegante, bem organizada, mora sozinho. A família deu um delete nele, por não aguentar as funções de drogas, putarias e um humor bipolar. Grana não é o problema, tem um carro adaptado, a casa é funcional, e ao que parece as pernas não funcionarem não impede ele de fazer nada.

Chego lá, a porta da frente esta aberta. A adrenalina sobe as ganha... E se tiver algum filho da puta ai dentro?
Mas o Marião não iria ligar se os caras estivessem ali... Entrei meio que dando uma super homem, meu dia de herói. A casa tem um cheiro estranho... Um cheiro de banheiro, cheiro de merda e mijo... Começo a gritar o nome de Marião:

-Marião...  O Marião... Tu tá aí cara? Onde estas?
Escuto a voz abafada na porta fechada do quarto. Vou até lá... abro a porta, ele ta na cama... Peladão... Cagado e mijado... O cheiro forte vinha da li... Tem o telefone nas mãos... Parecia estar a horas ali jogado. Era o quadro do terror.
-Fabiano... To com muito frio cara...
A cama esta molhada... Gelada, que situação . Não tenho nojo... Quem já trabalhou em hospital decididamente eu não tenho nojo de nada.
-Cara... Coloca uma coberta em cima de mim... que vergonha... Os putos me roubaram... To com frio...

Marião era um rato agora... Quis pegar o queijo da ratoeira...  Ese fudeu. Esse é o mundo, você facilita... É currado pelo exército de israel.
Abro um armário... Tudo esta meio revirado...  Acho um cobertor, coloco sobre ele... E o ajudo a ficar sentado na cama, quero saber o que aconteceu, mas ele treme de frio.

-Marião quer um chá quente?
-Sim sim... Por favor.

Nunca tinha visto Marião assim. Ele já havia sido enganado por garotas ou travestis de programa. Algo assim. Isso faz parte do jogo.
Vou até a cozinha, esta desarrumada, louça suja na pia, baratas fazendo a festa. Todos tentam sobreviver. Coloco a agua a ferver, acho uns chás de saquinho... O chá fica pronto. A festa na casa de Marião foi algo desta vez.

Ele estava um pouco melhor. Entrego o chá... E dei uma olhada na casa, achei a cadeira de rodas no banheiro, jogada no chão, a banheira estava transbordando, o banheiro parecia uma guerrilha em aberto.
Puta que pariu... Volto para o quarto levando a cadeira de rodas:

-Marião... ta aqui o teu Camaro cara... Beleza?
-Pô Fabiano... Achei que ele tivessem levado a cadeira...
Marião parece um pouco melhor, mais aquecido, consegue sorrir sem graça.
-Marião...  Me conta a historia como se eu tivesse cinco anos? Que houve aqui cara?
-Uma festinha Fabiano... Uma festinha...


 Segue. 

Luís Fabiano.


quinta-feira, março 14, 2013

Pelotas Fantasma - V


  Fio da Navalha Video 


Casarão da Barroso

Pelotas Fantasma segue sua saga, agora no centro da Cidade. O casarão da Barroso, que tempos atrás pegou fogo, e por ora esta aguardando... o tempo, a vida, o destino, mais um abandonado nas dobras da cidade.







 Pérola do dia: 

Dar opinião, com o rabo sentando em uma poltrona confortável, é muito fácil... o foda é ir ao encontro da realidade... o mundo esta lotado destes caras da poltrona”.

Luís Fabiano.


- Momento Mestre -

   Bukowski Tapes 19#    





quarta-feira, março 13, 2013




Navalhas Curtas: Puta Romântica

Eu reencontrei Juliana na praça Coronel. Puta que pariu, o tempo havia judiado dela. Eram anos de putaria declarada. Me disse certa que já havia dado pelo menos umas cinco mil vezes. 
É uma conta e tanto.
Agora estava um caco:

-Juliana, quanto tempo menina...
-Fabiano é verdade, que saudade de ti cara... tempo bom...

Abraçamos-nos brevemente, senti os ossos dela em minhas mãos.

-E ai Juliana, casou?
-Não, não... Estou com cinco filhos... um de cada pai né ?
-Porra... Parabéns...

Ela me olha com alguma sinceridade.

-Mas nenhum é teu... Eu gostaria de ter te dado um filho...
-Esquenta não Jú, meu destino é outro...
-O meu também...

Não tínhamos muito a dizer. Os anos haviam passado. Lembrei que foi ela que passou o primeiro chato, tive que usar um anti-piolho na região por uma semana e ainda depilar os pelos do saco, mas resolveu. Não resisti:

-Jú, tu ainda tem chato?
-Ora Fabiano... Quem não tem...

Luís Fabiano.


  Pelotas Tatuada  


Praça Vinte de Setembro ( Parede do IFSUL )


terça-feira, março 12, 2013



Pérola do dia:

Se a noite é uma criança... então ela tem que se deitar cedo”.



Ricardo Fragoso.




Vidas de Enfeite

Como saudades esquecidas em um canto
O bisqui de pretensões
Ente sonhos que não saem do imaginário
Conheço tantos assim
Fazem do existir um enfeite
Inutilidades ecoando com vozes da monotonia

Estas pessoas sorriem, como a propaganda
Abraçam como uma novela
Beijam como um filme
Trepam com um medo latente
E jamais puxam o gatilho...
Uma roupa jamais usada no armário
As melhores emoções adormecidas para um dia...

Resguardam a xoxota, limpa, depilada e jamais tocada...
Como um templo de agonias inquietantes
Tudo enfeite
Apertam a tua mão, com uma mão flácida
O sorvete de merda se derretendo ao sol

Eu aguardo sempre, dentro da previsibilidade humana
Que digam algo diferente...
Que digam algo... De verdade...
Mas creio ser muito difícil ter uma opinião verdadeira
Enquanto se rema contra a correnteza, durante uma tempestade eterna
Olhei para geladeira, e o maldito pinguim sorria
Sobre a instante, um apito abandonado
E o porta retratos congelando o tempo em uma mentira
E a calcinha suja esquecida no fundo da gaveta...

Estranho pensar isso
Mas aquilo que tanto se tenta demonstrar, parece tão falso
Como o sorriso de Monalisa
OK...
Talvez a verdade seja mesmo crua demais
O talo espinhoso de uma rosa... espetando...
Mas tudo depende para onde se olha...

Luís Fabiano.


segunda-feira, março 11, 2013







Outro Bar, outra sacada e mais merda
*Final.

Por vezes não é preciso mais nada. O que se vê, agrada como se os olhos pudessem fluir na distancia, os prazeres engendrados pela insanidade, pelo amor, pela dor. As asas de papelão, um short justo, enfiado na bunda suculenta e silencio sem inocência. Isso é Buda, Jesus e Maharishi e os cambau...

Como disse, os homens do bar ficaram alvorotados, felizes com a chegada delas. Deixei meu olhar passar na falsa loira de raízes negras. Então por um instante ela me olha... Eu retribuo com um breve sorriso... Uma vez, duas vezes e três vezes...  Não quero me misturar ao grupo dela, minha mesa, minha ilha e minhas poucas emoções são os feudos de minha alma.
Então pisco o olho, e empurro a cadeira na minha frente com o pé. Lembrei que havia deixado o carro em casa... Podia ser um erro... Nunca se sabe quando você vai ser atropelado.

Deu mais ou menos, cinco minutos ela desconversou... E as amigas dela me olharam... Então ela veio. Eu estava num estado mais chinelo impossível, nada a perder. Quando se aproximou a cadeira estava a sua espera, como a cabeceira de uma pista de pouso ensaboada:

-Oi – eu disse
-Oi...

Então houve aquele silencio... Ficamos nos olhando, animais errantes no horizonte, enquanto a passarela do samba estava em chamas.

-Então tu vais me pagar uma gelada, gostoso?
-Como costumo dizer... A vida é uma troca de favores eterna... Anjo de asas de papelão...
-Tu quer dizer, que não vai ser de graça?
-O que na vida é de graça?
-O ar, o perfume das flores, o nascer do sol o amor...

Definitivamente ela não sabia o que estava dizendo. Era uma filosofa, com um decote generoso e com um forte cheiro de suor. Isso mexe comigo. Aquilo era uma espécie de sujeira saudável. Ofereci a cerveja pra ela, ela bebeu com vontade. E eu, que não estava interessado nela... Mais intimamente fui levado pelos feromônios primitivos que exalavam dela.
Ela era ao mesmo tempo, suave e grosseira, educada e estupida, amor e ódio. Pensei: possivelmente essa puta vai arrancar meu pau com saco e tudo e sorri:

-Como é teu nome?
-Fabiano. O teu?
-Whitney...

Não tive como não rir. Deus do céu... As pessoas gostam desses nomes estrangeiros. Ela riu também... E naturalmente tive que perguntar como ela escrevia o nome... ela soletrou: “ U-i-t-i-ne-i ”.

-Ficou bom, bem brasileiro...
-É foi coisa da minha mãe que gostava da Whitney Houston... Acho que ela queria que eu fosse cantora também... Mas eu sou empregada.
-Todos temos a nossa importância...
-Fabiano, tu não é daqui né? Nunca te vi aqui...
-Não sou... Sou de Marte... E minha nave ficou em casa...

A cerveja tava caindo bem. E aquele papo era idiota, mas foda-se o mundo, o que importava naquele momento? Nada a peder. Eu nem sei. Não havia química alguma... Tudo era cheiro forte.
O cheiro sujo do bar, o cheiro suado de Uitinei, cheiro da cerveja e cigarro adormecidos.

E aquela maldita sensação, que tantas vezes eu sou assaltado. A necessidade que algo se incendeie... Ou que aquele bar fosse invadido por demônios, vampiros ou lobisomens... Que um anjo ejaculasse naquele lugar.  O espirito mal pousou no meu ombro:

-Uitinei... Na verdade eu queria te comer no banheiro... Agora...
Eu esperava que ela me desse uma porrada, fizesse um escândalo ou se irritasse, que fugisse... Mas não ela sorriu:
-Hummm que delicado Fabiano... Esse é o preço da cerveja?
-Não... É apenas uma vontade mesmo...
-Tudo bem, mas o banheiro daqui é um horror... eu prefiro na rua...ok?
-OK.

A vida é simples as vezes... Tudo bem, ela disse. Disse como se fosse olhar a novela, dar uma cagada ou mijar...
Levantei... e fui em direção a porta da rua, ela me seguiu.
Na rua, a meia quadra, havia um terreno baldio e escuro, fomos até lá mesmo... e nos posicionamos atrás de uma arvore. Beijos pra esquentar os motores, ela estava bem, beijei aquela tetas, os bicos pareciam um interruptor grande, ligando e desligando a merda existencial.

Ela não se fez de rogada... Eu tinha vontade de lambê-la lentamente, inteiramente, sentir o gosto azedo daquele suor, fazendo que minhas veias virassem um rio de ácido incinerando volúpias. Por fim consegui tirar aquele short dela... E tocar na xoxota... Uma xoxota longe de ser delicada. Parecia um bueiro aberto, pronta pra engolir um capacete de motoqueiro.

A vida é perfeita. Apertamos-nos em pé... Minha mão desapareceu naquela xoxota inundada de líquidos. Acho que eu poderia ficar ali pra sempre, quentinho próximo do útero.
Então ela me agarrou o pau, fazendo um bom movimento. Ela entendia de punhetas... aquilo não durou muito. Ela limpou a mão na minha roupa, e ao que parece, era isso o top da vida. Voltamos para o bar... E sentamos-nos à mesa.

As amigas dela gargalhavam como gralhas. E quando a viram aquilo foi algo. Discrição não faz parte do jogo. Sentia-me bem, sorria pra mim mesmo, algumas pessoas valem uma cerveja, uma carona, um favor ou um pouco de dinheiro. Qual é o teu preço?. As vezes é assim... Agora pensava que eu iria voltar pra casa a pé.

-Vamos beber mais ? Ela disse.
-Não... Acho que vou andar...
-Eu falarei contigo novamente?
-Acho que não... Talvez nunca mais nos vejamos
-Sei, quase tudo na vida é assim...
-Os laços não eternos...

As pessoas guardam abismos dentro de sí. Eu tenho que lidar com os meus, e acho que não queria mais ouvir Uitinei, a Whitney havia morrido sozinha e tinha voz linda. Quem disse que os finais devem ser felizes... O final é só fim da viagem... Então aproveite o trajeto.

Levantei, paguei a cerveja e sai pela porta, caminhando lentamente.


Luís Fabiano.

domingo, março 10, 2013

O Silêncio dos Guinus






Ela entra aos berros na sala...
Estou vendo teve, pés na mesa de centro e estava de cueca
Ambulâncias de urgência são mais discretas
Eu assistia o Animal Planet, pura coincidência...
Tentei ignorar aquilo, como uma cruz vazia
Até que ela veio lançar seus dardos em mim...

Olhei pra ela: que porra você quer?
-Fabiano... Tu não prestas... bem que minhas amigas tinham me avisado...
Comecei a rir... não sabia o que haviam dito... sempre dizem algo...
Por que tanta força, por algo tão pequeno?
-Mas que foi? Eu disse.
-Tu és um mulherengo... E só gostas de ti mesmo...
Fiz as contas de quantas vezes já ouvi isso...
-Mas sou honesto.
-Tira essas patas sujas da mesa...
Aquilo não iria terminar bem... Nunca termina.
Tirei os pés da mesa, mas não resolveu

Quando alguém deseja brigar... Não existem argumentos
Cocei o saco e ela falava alguma coisa...
Na teve, um crocodilo gigante mastigava um guinu inteiro...
Também, eles atravessaram um rio repleto de crocodilos...
É como dar um tiro no escuro...
Achei o guinu um idiota... Ele era um guinu herói... foi primeiro, e se fudeu...

Voltei a mim... ela estava em silencio...
Um olhar congesto... O silencio de um bisturi
O silencio de uma doença lenta em teu organismo...
Silencio da alma...
O único som na sala eram os guinus morrendo um a um...
E eles não recuavam... suicidas?

Então ela disse:
-Porque tu és assim cara...
Isso é tão difícil de responder...
-Não há culpa, eu apenas não sou o que tu imaginaste... Mas você sabia.
Eu estava preparado para se jogado na rua direto...
Mas ela veio até mim...
E apenas pediu que eu a abraçasse forte
O que se sente, não pode ser medido com uma régua
Mas ao que pareceu, estávamos em paz
O ultimo guinu morreu.


Luís Fabiano.



   Momento Boa Música  

Charlie Brown Jr – Beco sem Saída

Fio da Navalha, não esta aqui pra julgar absolutamente ninguém. Todos trilhamos nossos caminhos, e as vezes não fazemos a melhor escolha. Sensibilidade, talento e muita atitude.

Luís Fabiano.




sexta-feira, março 08, 2013




Esperanza, a luta de uma mulher

É estranho olha-la assim agora. Meio viva e ou meio morta. Cara ou coroa entre os anjos e os demônios. Puta que pariu, essa é a vida, digam o que disserem... Expliquem como quiserem, simplesmente por vezes, e muitas vezes, presenciar certas coisas é...

Não sou bom de ver ninguém em hospital. Tenho mais o perfil da visita inconveniente. Então eu prefiro esperar que a pessoa se recupere, e que tudo esteja bem. Isso me faz lembrar de um amigo do passado, o Cesar, que hoje nem sei se vive ou já morreu.

Ele sofreu um acidente de moto exatamente na minha frente, o vi ser arremessado no ar, como uma lata de lixo e bater com o maxilar no cordão da calçada. Não foi uma cena bonita. Lembro-me do sangue abundante. Eu tinha por volta de dezessete anos. Quando fui visita-lo no hospital, ele já estava um pouco melhor... mas muito arrebentado ainda. Ele me disse:

-Fabiano... tu viu tudo de pertinho... Que horror né cara...
-Vi Cesar... vi...o cara veio, bateu na roda frente da moto, e tu caiu todo arrebentado do outro lado...

Naquele instante os familiares dele me olharam... Como se eu tivesse dito um palavrão? Bem... Foi constrangedor. Retirei-me o mais breve possível. Agora era uma outra historia.

Conheci Esperanza a muito. Não posso dizer exatamente que é uma boa pessoa. Mas se pensarmos bem... o ser bom é muito questionável. No fundo não me interesso, apenas sabia que ela não agia legal com algumas pessoas e era legal para outras. Não me importam os motivos dela... E afinal, cada corcunda sabe como se deita.

Apesar da beleza rara, uma linda morena, alta cabelos longos negros como um véu da noite... olhos esmeraldinos brilhantes, num corpo delgado quase sinuoso, seios medianos... Ela fazia encanto onde surgia.
Muita beleza, você sabem como é... Todos querem consumir, todos queriam come-la, a beleza é uma tentação e um sacrifício ao mesmo tempo. Ela sabia disso. Então se utilizava disso, para seduzir... Conseguir o que desejava e depois, lançava o cidadão ou a cidadã... Na lata do lixo, sem explicações, sem nada... E tal comportamento, levava as pessoas vitimas, a um estado de insanidade. Muitos queriam fazer mal a ela... Sei bem do que estou dizendo. Eu parti de muitas relações sem dar qualquer explicação. Alias eu detesto explicações... Nunca dou.
Minha relação com Esperanza se deu através de bares.

Ela sempre aparecia com alguém, então, a convivência distante em ligeiros cumprimentos e depois ela passou a falar comigo. Esse talvez seja o ponto. Eu não era o alvo dela... Não tinha nada a oferecer, das coisas que ele desejava. Não tenho grana, não poderia dar-lhe viagens entre tantas coisas que gostava... E pensando bem, não faria isso por buceta alguma. Afinal a buceta é apenas um pedacinho de pele, não é ?

Ficamos amigos, dentro de uma sinceridade moderada. Conversamos e talvez por conhecê-la desse jeito... A ideia do sexo nunca pintou. Não gosto deste estilo. Prefiro as que têm a química da alma, coisa rara. Nos dias que antecederam a cena do hospital, ela falou comigo:

-Fabiano... To pra dar um golpe dos grandes...
-Esperanza... Cuidado com isso... O maior erro do ser humano é ambição, ambição fode tudo...
-Vou sair da merda geral... O velho vai passar tudo pro meu nome facinho...
-Não te entendo Esperanza... Tu não precisa disso...
-Não se vive de amor Fabiano... Não mesmo. Quer dizer... Eu não né.

Ficava olhando pra ela. Tenho me destreinado em estabelecer essa fronteira do certo ou errado com os humanos. As pessoas fazem o que fazem, e nós não somos exatamente santos.

-OK Esperanza... Brindemos então...

Tocamos nossos copos, e meus olhos viram aquele rosto esculpido. Nem anjo e nem demônio, a flor carnívora, devorando a mosca, a teia pronta para a vitima, a xoxota em forma de arma, carcamanos inocentes fecundando ilusões, uma puta pegando fogo na esquina. Uma noite com Esperanza? Não, jamais.
Esse foi nosso ultimo encontro.

Então ela desapareceu do bar. Mas o bar vocês sabem, o bar é uma comunidade aberta, uma igreja informal daqueles que perderam a alma ou encontraram. Cheguei e pedi meu rum de sempre. Então rapidamente o atendente me disse:

-O Fabiano... Tu ta sabendo da Esperanza?
-Não, não a vejo há horas, deve ter viajado com aquela moça italiana... Ela adora Roma...
-Porra Fabiano, onde tu andas cara?

Como que antecedendo a merda, senti algo oprimindo o peito. Vladimir segue:

-Cara, ela teve um troço, tá hospitalizada em estado grave na UTI... Os médicos dizem que é algo raro... E incurável... Ela tá respirando por aparelhos... Tiveram que por um cano na garganta dela pra ela respirar...

Eu me sentia atropelado por um caminhão em alta velocidade. Coisa estranha. Talvez essa seja a coisa. Não desejamos o mal de ninguém. E ironicamente, Esperanza agora dependia de Esperança. Vladimir estava muito impressionado...

-Onde ela esta Vladimir?
-Na Santa Casa...

Olhei o relógio, eram duas da manhã. Não era exatamente horário de visita. E naquela noite, eu segui bebendo, se a coisa era como Vladimir havia me dito... Bem eu beberia por Esperanza.

No dia seguinte fui ate o hospital. Consegui entrar no jeitinho brasileiro. E agora ali estava ela. Uma múmia despida, respirando por aparelhos, a pele pálida. Pensei: onde estará a alma dela?
Então o medico bate no meu ombro:

-É parente?
-Amigo...
-O caso dela é grave... Ela tem ( ele disse o nome da doença, mas é tão complicado que não gravei)...mas estamos fazendo tudo o possível. Sabe dizer se ela tem um marido ou algo assim?
-Não...ela era digamos inconstante...
-Sei, bem agora o senhor vai ter que se retirar, ok?

Toquei a mão de Esperanza... Pela primeira vez, a mão estava fria. Nunca pensei em comer Esperanza... nem tão pouco ter algo com ela... Ela era tão intensa... Tão viva, agora isso. Fui embora.
Dias escorreram... ela estava na mesma. No bar, as pessoas literalmente já a haviam matado.

Porem a vida anda. E nem sempre se perde o jogo... Passados quinze dias ela volta.  Nesses mistérios que não se entende muito bem. Deus ou Diabo a expulsaram. Todos os que voltam é por esse motivo. O medico disse que ela reagiu bem aos medicamentos... Coisa rara. Vá saber.
Então o mesmo bar... Eu estava sentando ali... E ela entrou, sorrindo da mesma forma, e disse:

-A defunta voltou...
Fiquei olhando pra ela... Estava magra ao extremo, mas havia Esperanza ali.  
Ela sentou a minha mesa e como se tivesse ido viajar no feriadão disse:
-Tu tiveste lá né?
-Sim...
-Obrigada...
-Esquece... A vida segue Esperanza...
-É tens razão... Já telefonei pra Italiana... Ela quer ir a Moscou... Eu disse pra ela que adoraria transar na Praça Vermelha com ela... E que estou precisando de uns vestidos novos... Vou dar um golpe nela... há, há,há, sabes como é Fabiano...

Meu olhar ganha o vazio, uma ampulheta que foi virada num horizonte, um berro abafado, como a paz escrita num grafite dourado.

Luís Fabiano.



quinta-feira, março 07, 2013


Pérola do dia:


" A vida passa, e tudo piça..."


Rogério Peres


quarta-feira, março 06, 2013

Helô

   Fio da Navalha –  ENTREVISTA   

  - Dj Helô - 


O Fio da Navalha gosta de gente. Gosta de personalidade. Gosta de sinceridade. A Dj Helô conversou conosco, e do seu jeito tranquilo foi falando de boa, e suas palavras foram caindo bem, como as musicas que toca em suas festas... nos levando a vários sentimentos.
Boas palavras, boas musicas e um ótimo papo.
Com vocês e com muito prazer – Dj Helô.

Luís Fabiano.












Navalhadas Curtas: Deixa-me ser feliz ?? (não)

Vivemos todos muito afastados uns dos outros.É o normal. Numa interação de pseudo intimidade, enquanto abismos se abraçam. Sai pra caminhar no meu intervalo. Calçadão lotado.

Então esbarro em Malu. Uma amiga da antiga...tivemos um caso breve. Agora estava muito quebrada fisicamente. Sabem como é, o tempo, as intempéries da vida...

-Malu...quanto tempo hein...
-É Fabiano... Muito...
Nunca se diz quando a alguém que esta mal... É melhor pensar noutros aspectos.

-Malu... mas estas bem...
-Que nada... Ando muito infeliz... muitos problemas....

Senti tudo. Malu sempre foi muito chorosa... Frágil como um cristal a beira da mesa... sempre pronta para espatifar com tudo. Por vezes me irrito com tanta fragilidade. Com um pouco mais de idade... Precisamos saber, que é preciso endurecer-se um pouco, para viver, para sobreviver... Mas não muito.

-Bem Malu...quem não tem muitos problemas? Mas isso nada tem haver com felicidade...a vida é assim...nada é completo.
-Fabiano... Tu não és normal... o que tu falas não vale nada...

Malu estava amarga demais... E eu não sou terapeuta. Me irritei.

-Tens razão Malu... Acho que vou indo...
-Fabiano... Eu preciso ser feliz...

Puta merda, eu sempre acho uma idiotice quando falam assim.

-Malu então seja feliz... Não ontem, não amanha... mas hoje... Agora, neste instante. O que tu precisas pra ser feliz agora, já? Tchau Malu.

Ela fica me olhando ir... Mas minha paciência se foi como um peido levado pelo vento... As pessoas nunca entendem isso... Não há como ser feliz amanhã. E senti a porra de um livro de autoajuda... Detesto autoajuda.

Luís Fabiano.


terça-feira, março 05, 2013



TRECHO SOLTO...     

“  Que esforço desprender-me da escuridão e do sufocamento, de uma dor aguda e paralisante, de uma auto laceração inquisitória!
Allendy me olhando com duplo amor – os grandes olhos e as mãos quentes e a boca . Não quero mais dar, quer me recostar e receber presentes. June esta com minha capa preta, mas junto com a capa dei-lhe meu primeiro fragmento de ódio. Ela não tem poder sobre mim.
Todos descobrem em mim uma imagem intacta de si mesmos, seu eu em potencial: Henry enxergou o grande homem que poderia ser; June a personalidade ativa. Todos se apegam a essa imagem de si mesmos contida em mim, em nome da vida, em nome da força.
June por não ter certeza interior, só é capaz de estabelecer sua grandeza através do poder destrutivo. Henry, antes de me conhecer, só era capaz de afirmar sua grandeza ao atacar June. Eles devoravam um ao outro - ele fazia caricaturas dela, ela o enfraquecia protegendo-o. E quando terminaram de destruir um ao outro, de matar um ao outro, Henry chorou porque June morrera, e June chorou por Henry não ser mais um deus – e ela precisava de um deus a quem dedicar sua vida”.

Extraído da obra: Anais Nin – Incesto - Diários não expurgados (1932-1934).

Ps: Anais, Henry Miller e June, mantinham um triangulo amoroso.