Mudanças Fatais, sequestro e Cretinos Soltos
Tenho pra mim que os cretinos vão dominar o mundo. Sim...
E qual o problema? Não há uma puta alma nesta Terra que não tenha algo que
deponha contra si. A inocência tirou férias. Tudo é uma questão de olhar bem.
Mas raramente estamos visceralmente dispostos ai isto. Preferimos “fuder” os
outros, com nossas próprias merdas.
Nossos preconceitos, nossa verdade absoluta, nosso
proceder como sendo o mais certo do mundo. Estranho isso, mas valores também
mudam, e desvalores também. O erro é aprisionar-se ao é, quando um mar de
possibilidades evolutivas reverberam a todo instante.
Qualidade de dantes, hoje talvez estejam obsoletas, e nos
ficamos achando que o mundo é o mesmo. Não é, nada é. Agora, acompanhar isso
não é das coisas mais fáceis. O que ontem era errado, hoje é certo e amanha não
sabemos.
Essa era a discussão na mesa de bar. A catedral dos
bêbados, o ombro amigo estendido na madrugada para os filhos da puta de
plantão, onde doses de felicidade são servidas lentamente e gelada.
Outros preferem coisas mais fortes, e sabe-se lá. O que é
calamidade para mim, é um paraíso para outro, portanto relaxe.
Fazia muito tempo que Sebastian não aparecia. Mas ele
estava ali na minha frente, parecendo um mendigo e bêbado. Exatamente como
gosta de estar, sujo e sem grana. Minha historia com Sebastian é antiga.
Ele é um tipo errante, circula por ai e parece perdido.
Passa tempos sem aparecer e então do nada aparece. Sem endereço certo ou
paradeiro, ele faz o tipo ousado, se lança para fazer coisas, tem postura e
atitude o que as vezes surpreende.
-O mundo tá ficando uma bosta – disse o Marcão – é essa
merda de musica enchendo as rádios, porra, onde estão Chico Buarque, Milton
Nascimento e Caetano...
-Não é por ai cara – eu disse –as coisas mudam, a
proposta do mundo hoje é outra... Tu procuras o que te agrada em tudo... Isso
vai de sexo a musica... na real hoje tu é mais livre democraticamente... Agora
o que ocorre, é a proposta do mundo querendo te enquadrar dentro do sistema. É
literal cara... Se ficar aprisionado apenas a temáticas da moda e estilos
atuais... Naturalmente se caminha para fragilidade de pensamento ou uma espécie
de estupidez coletiva. Viva os cretinos!
-É disso que falo porra: a grande massa é estupida... foi
e sempre será.
-Sem duvida alguma, se a voz povo, é a voz de Deus... Começo
a ter minhas duvidas sobre o Criador... Como faz merda né?
Sebastian, apenas sorria como um idiota, sem nada dizer. A
mesa cheia de garrafas de cerveja vazias, aquilo era lindo. Não resolveríamos
os problemas do mundo. Por fim ele finalmente abriu a boca:
-Senhores... Senhores. É inevitável, o novo sempre vem,
dizia Elis. É inútil brigar com o tempo, a única coisa que se pode fazer é
procurar ao longo do tempo, deixar a mente mais afiada... Como um remador que
deseja chegar ao destino... Porem, ele pode cansar as vezes. Não pensem que vão
se tornar vinho bom, o top... Mas com a mente afiada, o fio será as tuas asas,
o qual poderás sobrevoar este imenso manancial de merda que é a vida!!
Houve um silencio sepulcral. Sabedoria profunda? Que
merda, nossas almas vazias como as garrafas. Creio que excesso de filosofia e
bebidas deixam as coisas menos suaves.
Na real que havia me cansando daquilo. Sebastian tem
coisas mais interessantes para contar. Mas isso não aconteceu. Mudanças
realmente são inevitáveis:
-Chega desta merda – eu disse – vamos agitar as coisas...
E parar com esse punheta filosófica.
-Ta, mas que vai ser?
-Eu sugiro um puterão de quinta categoria. Putinhas fáceis
de trinta pila.
-Não... não... Cara... Para com isso ta maluco.
Porra, pensei: que esses caras tem ? Ninguém parecia estar
animado. Será que o tempo e a idade estão pegando? Ou eu sou infantil? Ok. Que
seja, mas a necessidade de alterar tudo sempre me move. Beber é pouco, andar a
cento e trinta quilômetros é pouco, chocar-me com o céu é pouco.
Nesse meio de raciocínio, um carro muito elegante encosta
no buteco. Desce um cara, de terno e gravata e se dirige a Sebastian.
-Senhor Sebastian? – com uma voz grave.
-Sim...
-O senhor precisa ir conosco, a dona Marisa precisa que
senhor fale com ela...
Ficamos nos olhando. Sebastian parecia apático,
literalmente cagando para aquele circo.
-Não senhor... Não vou a parte alguma, estou aqui com
meus amigos...
-Creio que o senhor não entendeu senhor Sebastian...
Achei que uma tempestade estava se formando, mas o
complexo é não saber para que lado dar razão. Sebastian tem rolos... O cara do
terno quem era? Marcão que estava meio bêbado, levantou:
-Se manda cara... O Sebastian quer ficar aqui com os
brother dele...
-O senhor queira se acalmar... Vai ser melhor...
Aquele cara de terno falando senhor isso, senhor aquilo,
senhor , senhor, senhor... Já tava torrando meu saco. Me levantei também... Os
outros colegas e Sebastian permaneceram chumbados a cadeira.
Então o cara do terno, deu dois passos para trás... E
mostrou o brilho sinistro de uma arma prateada...
-Senhores...senhores, por favor... Permaneçam tranquilos,
para que a paz esteja entre nós...
-Tá bem... Tá bem... Eu vou – diz Sebastian – pondo fim
na situação.
Ele se despede de nós, e entra naquele carro bacana. Pra onde
foi? O que aquilo tudo significava?Que merda estaria acontecendo? Não pude deixar de pensar, o quanto a ignorância
pode ser uma benção.
Estava legal de ação aquela noite. É exatamente isso
amigos, existem dias que não rendem absolutamente nada. A puta que pariu com isso.
Luís Fabiano.