Sangue, educação e uma chupada
Poucas coisas são tão românticas, quanto observar uma
mulher trocar o absorvente interno. A cena era linda. O copo de whisky estava
sobre a pia do banheiro, ela de pernas abertas no vaso, puxando aquele cordão
fininho e sangrento, sorrindo com uma felicidade angelical.
Eu estava na porta. Já isso várias vezes, não me choco. Mas
ao que parecia, a operação de remoção estava complicada, por algum motivo o cheiro
não era dos melhores. Cheiro de sangue é bom (eu gosto), faz pensar em coisas
selvagens, canibalismo talvez. Mas um sangue velho... Meio podre tem um cheiro
pesado e ferroso.
Rose havia esquecido que estava menstruada e também do
absorvente dentro dela... Porra como se esquece disso? Mas ela é meio assim com
tudo. Meio desligada. Gosto dela porque é original.
Nunca fica tentando disfarçar nada, nunca fica enrolando
ou mentindo, não se preocupa com coisas que não pode controlar. Creio que todos
têm este problema. Temos uma cisma com um suposto controle de tudo. Mas ela
passa indiferente a muitas coisas, não sei exatamente se é sua filosofia de
vida, ou é meio maluca mesmo, quem sabe meio limítrofe ou tonta?
-Porra Rose... Esse troço tá aí há quanto tempo dentro de
ti ?
-Bah...bah... Acho que coloquei no meio dia... Esqueci
total... Muito trabalho... Sabe... (ria)
Ela foi tirando aquilo, tava meio preto. E acho que era
um OB super-ultra-grande... Aquilo dava para tampar uma cratera lunar. Que
xoxotão! Quando finalmente saiu tudo, dava pra ouvir alguma coisa caindo na
agua, umas placas de sangue talvez. Gostei. Ela se sentia aliviada.
Não sei se foi o cheiro que impregnou o banheiro, a cara
de satisfação dela... sei lá... O meu pau subiu. Tomei um gole de whisky, abri
o zíper diante dela sentada no vaso. Fez aquele risinho de puta, que toda
mulher faz diante um membro duro de seu macho. Ela tirou minha ferramenta pra
fora, deu uma mamada carinhosa, como se tocasse uma sonata de Beethoven, uma
Ave
Maria. Relaxei encostado na parede ela no vaso. Naquele instante não
existia mais nada no mundo, aquele cheiro, aquela boca o whisky e as estrelas.
Mas o mundo não é perfeito. Alguém deu porradas na porta...
Um tranca-foda destes da vida. Ela queria seguir chupando... Mas algo estava
errado.
-Não sei Rô, talvez melhor abrir...
-É? Tem certeza?
-Tenho certeza de porra nenhuma... Mas não sei... Tem
algo estranho...
A pessoa parecia desesperada na porta, batia
continuamente num ritmo frenético. Uma metralhadora de angustia, tentando
acertar o alvo... O inimigo, a fera prestes a atacar, a fuga de merda, adrenalina
saltando pelo rabo.
Guardei o pau e fui até a porta. Quando abro uma mulher
seminua cai dentro do vão da porta, em lagrimas desesperadas...
-Aí... Por favor, moço, me acolhe... Moço... Por favor,
não me põe pra rua... Me ajuda...
Tive aquele momento em que calculamos se devemos ajudar
ou não... Lá do banheiro Rose gritava: quem é Fabiano? Que houve?Diz...
-Tudo bem entra aí... Vamos conversar...
Ela tentava esconder os seios com as mãos, roupa
rasgada... Eram tetas desesperadas muito lindas, brancas como papel com bicos
rosados como um por do sol de deslumbre.
Então entramos, sentamos na sala. Rose veio, quando viu a
vizinha ali chorando, sentou-se com ela e abraçou, o que se seguiu foi curioso:
-Madalena... O que foi? O André descobriu né?
-É... Ele já vinha desconfiando, ele quer me matar, diz
que sou a cria do capeta... Que eu trouxe o inferno pra dentro da casa dele.
-Não foi por falta de aviso... Eu te disse... Quando
existe amor, as coisas precisam ser resolvidas rapidamente... Se não tudo vira
problema...
Madalena me olhou. Olhar repleto de algo que não
decifrei, era uma rasura de culpa flamejante, com um visgo de cuspe estelar,
medo que aperta o cu e estraçalha o caralho de Deus.
Então Rose me disse:
-A Madalena esta apaixonada por uma amiga nossa, a
Simone... Elas são lindas juntas. Mas o André é um tipo violento, e os filhos
dela estão com ele... Ele diz que ela só sai daquela casa morta... Diz ele:
casamento é pra sempre.
-Entendo, homem de princípios... Violentos... Mas princípios...
É uma merda. Tudo isso porque ela se apaixonou por outra?
Madalena me olha:
-Ele jamais entenderá, eu mesma não entendo, depois de
quarenta e cinco anos... Me apaixonei por uma mulher... tu sabes que é isso?
Minha cabeça da voltas.
-Nem sempre existem explicações para algumas coisas... Uma
coisa, o coração não erra, amor é amor aqui ou na puta que pariu... O André que
se foda.
Estávamos todos calmos. Então alguém bate a porta. Uma
batida quase delicada. Rose levou Madalena para o quarto. Eu fui abrir a porta.
Esperava o pior... Tenho isso comigo, é melhor sempre pensar que você vai se
fuder...
Depois o que vem de bom é lucro. Estava pronto pra tomar uma facada,
uma porrada, um tiro? Abrir uma porta, é como bater um pênalti.
-Pois não...
-Por favor, senhor, a senhora Madalena esta aí dentro?
-Não, creio que não.
-O senhor pode estar escondendo uma ordinária, canalha...
Que não vale o come...
-Sei, mas então creio que não é caso. E outra, quem é o
senhor?
Toda aquela respeitabilidade de tratamento, era tão asséptica
que nem parecíamos seres humanos. Uma limpeza completa de vida e caráter assim,
não é uma característica do ser humano. Até existem algumas pessoas que são
assim, mas elas não são normais, tem alguma psicose qualquer, são doentes.
-Sou o marido da mesma... Ela não vale nada, mas eu a
quero de volta! Bem, se ela aparecer por aí, o senhor, por favor, a mande pra
casa, as crianças estão precisando dela...
-Tudo bem, farei isso. Boa noite senhor.
Uma coisa que aprendi, me fudendo muito por aí: Nunca
brigue com alguém a noite, faça isso sempre durante o dia. A noite demônios sopram
tudo para o pior... Não sei como ela
iria resolver o problema, o cara não era dos grandes, era magro e fraco, um
soco no meio do peito, ele fica com falta de ar... Já era o homem. É preciso
saber improvisar. Tinha pensado em acerta-lo. Mas aquela educação toda, eu
teria de pedir licença pra dar um soco nele...
Fui até o quarto, Madalena ainda estava chorando. Pensava
nos filhos, em Simone e no medo daquele homem. Era a presa acuada na caverna, a
fera a espreita com aquela educação psicopatológica... A raiva contida em
brutais razões de um amor repleto de passionalidade. Tudo que se pode fazer, é
ganhar um tempo. O tempo é uma serpente que se retorce e mais cedo ou mais
tarde, ele nos expõe, nos ataca e fere ou premia.
Aquela noite Madalena ficaria sem os filhos e com um
aperto no peito. Rose e eu não foderiamos, a noite seria longa.
Éramos os três porquinhos diante de um matadouro, aquele
cheiro de sangue ainda persistia no ar, vinha do banheiro, mas creio que este
seria o único sangue da noite.
Esperávamos amanhecer... O amanha sempre é melhor.
Luís Fabiano.