Trecho Solto...
“-Já vai! Já vai!
Visto a calça e vou abrir. Mas ando cansado, nunca durmo
bastante, faz 3 dias que não cago, exatamente, adivinhou, já estou ficando
doido, e essa gente tem uma energia inesgotável, não para de demonstrar
bondade, sou um sujeito solitário, mas não tão ranzinza assim, mas é sempre, sempre
– uma coisa. Me lembro do que minha mãe vivia repetindo em alemão, que não é
bem isso, mas algo equivalente: ”emmer etvas!” e quer dizer: sempre a mesma
coisa, que um homem só passa a entender direito o significado quando chega a
mesma cena volta de novo, uma infinidade de vezes, que nem casa maluca de
parque de diversões.
É um cara durão, de calça suja, que acaba de tirar o pé
da estrada, acha sensacional o que escreve, e até que não é ruim de todo como escritor,
mas sempre fico de pé atrás com o convencimento dele, e que também já se deu
conta de que a gente não se beija, nem se abraça e nem se esfrega um no outro
no meio da sala. É um tipo divertido, ator, mas não podia deixar de ser. Viveu
mais vidas sozinho que dez homens juntos, mas sua energia em certo sentido
comovente, acaba por me deixar exausto, não ligo porra nenhuma pro mundo dos
poetas, nem me impressiono com o fato de ter telefonado pro Norman Mailer ou
que conheça o Jimmy Baldwin e o caralho a quatro.
E vejo que não me compreende muito bem, pois não vibro
com os entusiasmos que manifesta, tá legal, ainda gosto dele...
Bukowski – Fabulário Geral do Delírio Cotidiano
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