Trecho solto...
" Por que Deus, o criador de tudo o que existe no Universo,
ao dar existência ao ser humano, ao tirá-lo do Nada, destinou-o a defecar? Teria
Deus, ao atribuir-nos essa irrevogável função de transformar em merda tudo o
que comemos, revelado a sua incapacidade de criar um ser perfeito?
Ou sua
vontade era essa, fazer-nos assim toscos? Ergo, a merda?
Não sei por que comecei a ter esse tipo de preocupação. Não
era um homem religioso e sempre considerei Deus um mistério acima dos poderes
humanos de compreensão, por isso ele pouco me interessava. O excremento, em
geral, sempre me pareceu inútil e repugnante, a não ser, é claro, para os
coprófilos e coprófagos, indivíduos raros dotados de extraordinárias anomalias
obsessivas.
Sim, sei que Freud afirmou que o excrementício está intima e inseparavelmente
ligado ao sexual, a posição da genitália
– inter urinas et faeces – é um fator decisivo e imutável. Porem isso também não
me interessava.
Mas o certo é que estava pensando em Deus e observando as
minhas fezes no vaso sanitário .É engraçado, quando um assunto nos interessa,
algo sobre ele a todo instante capta a nossa atenção..."
Extraído da obra de Rubem Fonseca – Secreções, excreções e
desatinos.
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