Navalhadas Curtas: Nem nome, nem onde ou por que...
Algumas dores explodem como uma espinha infamada. Assim,
inesperadas. É foda.
Eu terminava de comer minha torrada, depois de um
daqueles fudidos da vida. A lancheira estava meio vazia e meio cheia... Então os
olhos dela, a desconhecida, eles se nublam e começou a chorar como uma criança
querendo um afago.
Confesso se fosse um homem nem olharia... Mas toda
lagrima sempre oculta algo. Então em um gesto incomum, tive vontade de falar
com ela:
-Oi desculpa aí... Mas o que houve? Fala aí... Talvez
faça bem apenas falar...
Ela tentando se controla.
-Não moço, melhor não... eu não...
-Isso, tu não me conhece. Então isso não é perfeito? Então
eu posso julgar a situação sem carga emocional, não to envolvido, não tenho
nada haver...
Então ela chorou com mais vontade... A abracei pelo
ombro. Deixei a crise passar.
-É... Talvez tenhas razão. Vou ser direta: eu tô grávida.
Eu amo muito o cara que to namorando...
-Bacana... E?
-Bem, ele deixou bem claro desde o inicio pra mim, que
não queria filhos... Não queria de forma alguma nem em pensamento... Eu
aceitei, e me cuidei muito, mas sei lá... alguma coisa deu errado com o anticoncepcional...e
agora é isso.
-Falaste pro cara?
-Sim, ele me disse que já havia avisado... Então que eu
precisava fazer uma escolha... Bem, ele falou com muita tranquilidade, calmo,
sereno e com um sentimento... Estamos
juntos já há cinco anos...
-Bom, e aí? Tu tá a fim de ter esse filho? Ou tens
condições de resolver isso de boa, e ficar com o cara tranquilamente?
-Quando eu penso em perder o Jorjão, tenho vontade de
tirar na hora... Sem dó ou dor.
Mas aí penso no futuro... Sabe, e se depois de
algum tempo, ele me deixar?? Entende?
-Porra... mas quem controla o futuro? Tá ligada? Tens que
pensar agora, resolver agora a coisa, no presente, amanha foda-se, é outro dia.
A felicidade garota, não mora no amanhã... É hoje ou nunca...
Os olhos dela brilharam... Não sorriu apenas em silencio
deglutindo os dentes de uma serra afiada. Fiquei ali em silencio também. Aquilo
foi só. Então depois de uns nove minutos, ela levanta, me da um abraço e diz:
Valeu.
Luís Fabiano
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