Encantadores vícios
Ela fica linda quando lhe falta o ar
Em orgasmo múltiplo calado
Engasgada com uma tosse esperançosa
Entoava um cântico macabro
Evocando desconforto e medo
Pigarro, catarro, mofo e alguma alma
Depois sorria feliz como que salva das garras pontiagudas da morte
Não, não, não sou viciada não diz
Então ritualmente abria a carteira e pegava outro
Já fui de ficar aborrecido com espetáculos decadentes
Hoje até gosto se são originais
Vi todo tipo de gente enfiando o nariz no pós mágicos
Cravando agulhas nas veias
Tentando transpassar a alma
Então, depois delirar
Nos sonhos de amor e pesadelos hediondos fétidos de nossa pior parte
Não me importo tudo está bem
Pois não brigo com a fragilidade alheia
Nem com as festivas disposições anárquicas do espirito.
Eu bebia minha cerveja, a cicuta lenta que abençoa os malditos levando-me
A um suave torpor,
Dimensão verdadeira do tempo deste tempo desgarrado
Imperdoável, lacerando nosso rosto e chicotando a exaustão nossas entranhas.
Quando por fim, ela recuperou a brandura perene de sempre
Com voz doce, olhar transbordante de lágrimas forçadas
Sorriu serena
Pouco importava agora o seu pulmão envenenado
Sua expressão de enfado insalubre de si mesma
Ela retornara, tão intensa
E não me interessa nada mais
O isqueiro ilumina breve chama
Em câmara lenta a fumaça entra xamã
Creio não haver nada melhor
Voltamos ao ponto de inicial
A névoa que estava entre nós se dissipa
Ficamos em paz aspirando o sumo um do outro
Entre beijos de cicuta
E vapor de nebulosa das supernovas nascendo.
Luís Fabiano.
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