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terça-feira, abril 12, 2011



Bruxas, tetas e dança

Não sou uma pessoa muito acessível, e tenho orgulho que seja assim. De alguma forma me mantem fora de encrencas Já fui mais inspirado a gostar de encrencas. De pessoas encrencas, de confusões densas e bebidas fortes em demasia, ao um ponto de desnorteio.

Hoje mantenho minha distancia, ainda que sorria com alguma elegância. As vezes as pessoas só precisam disso, um sorriso social, venha ele de onde vier, afinal quem se importa com entranhas?

Mesmo sendo algo antissocial, dias atrás me convidaram para uma reunião inusitada, que se iniciaria nos arrabaldes da cidade, e depois iria para o Cemitério a meia noite. Pensei comigo: que espécie de gente idiota faz isso? Puta que pariu, não deixam nem os mortos quietos? Quem havia me convidado era o meu amigo Boneco. O chamamos assim por causa de sua expressão facial, faz trejeitos e fica parado como um boneco de cera:

-Vamos lá Fabiano, vai ser divertido, tem umas vagabundas que pensam que são bruxas e feiticeiras, se vestem de preto, se beijam na boca com outras, eu já fui a reunião, é um ritual satânico sensacional...

Acho que as vezes a mente de Boneco é realmente de será endurecida, seu papo furado era de uma futilidade monumental:

-Boneco, cemitério a meia noite?
-É cara, elas ficam malucas, tiram a roupa, bebem um liquido vermelho que parece sangue e esperam o Demônio chegar... bem na ultima vez que estive lá, ele não chegou...há,há,há...sabe como é...
-É o fim do mundo mesmo, essa gente tem que morrer em 2012, junto com o resto que não conheço. Mas tudo bem vamos lá ver isso.

Fomos no carro de Boneco. Fui parar em um galpão nos arredores do porto. Lá já tinha algumas pessoas de preto, três viadinhos, quatro sapatas e o restante parecia não saber muito bem o que fazia lá, e eu também.

No fundo, o que me animava naquilo, era ver o que ia dar, eu queria ver a putaria escancarada mesmo, não me interessa demônio ou Deus, eles joguem como quiserem, meu negocio era a diversão.

As pessoas conversavam sobre ritual, magia da idade média, wicca, talismãs, signos cabalísticos. Falavam aquela merda como se fosse uma vitrine maldita, a novela das oito tentando virar a vida real, ignorando completamente a essência real desta mesma vida real. No fundo aquilo era o espelho da humanidade, pensando em domínios, em mostrar algum poder e tentando mexer com as sombras inconcebíveis. Não mexa com sombras inconcebíveis, pois elas costumam voltar-se contra seus invocadores.

Um forte cheiro de incenso barato evolava-se do local, e também um perfume daquelas mulheres, lembrava daquelas putas baratas, que apenas lavam a xoxota depois do cliente satisfeito, e colocam aquele perfume horroroso para disfarçar a porra derramada.

Boneco parecia enturmado, foi beijado pelos viadinhos e sapatas que apontavam pra mim rindo, ninguém falava comigo. Acho que estava no lucro do silencio. Não gostei da coisa que envolvia tudo aquilo, aquela escuridão, aquele cheiro e uma sensação de vazio. Talvez esse fosse o demônio, o vazio aquela situação funesta e minha vontade de ir embora.

Então uma sineta toca, uma mulher vestida de preto e muito gostosa diz que é a hora, que é preciso dar as mãos, pois ele virá! E o cemitério? Pensei eu, ele não vem no cemitério? Parece que não, o Demônio havia mudado de planos:

-Agora filhos de Satã, façamos a dança entoando o mantra das trevas. Somente os iniciados podem fazer isso.

Ela disse isso olhando para mim e outras três pessoas que estavam lá, indicando onde deveríamos ficar, um canto, apenas assistindo. Gostosa aquela bruxa mestre. Fiquei sentado ali, enquanto eles giram como malucos de mãos dadas, entoando uma cantiga estranha. Pensei comigo: puta merda, tudo isso pra ver putinhas se beijarem, para que o demônio de uma piscadela de olho, e para que viadinhos deem o rabo?! É caro demais pra mim.

No centro da roda a feiticeira mestre, bebia algo vermelho e viscoso, e tirava a parte de cima da roupa, ficando com lindos seios a mostra. Bom, agora sim. Ela foi seguida por todos os outros, que fizeram mesma coisa. A bebida maldita foi passando de mão e em mão, e aquilo realmente parecia sangue. Não iria beber aquilo nem a pau, saudade do meu rum.

Então ficaram em silencio de-repente, parados e ofegantes. A mestra diz:

-Que tenha inicio a festa, ele já está aqui.

Então começou uma orgia do caralho. Todos tiraram a roupa, se beijavam, se chupavam e ninguém parecia mais ter sexo algum, homens transavam com as sapatas, que transavam com outras mulheres que por sua vez comiam os viadinhos.

Não me impressionei com aquilo. Decididamente, andando pela noite de Pelotas, já vi coisa bem mais macabra, e sem precisar de pretexto algum. Não sei o que me deu, meu tesão se foi como uma locomotiva cansada, nem sequer me masturbei vendo aquilo. Sentia-me exausto e com vontade de ir dormir.

Havia aquele maldito vazio em mim, um vazio que gritava a plenos pulmões instigando minha fuga, por vezes tenho isso. Não esperava nada daquela situação. Talvez eu esteja mudando, minha pouca fé nos homens vem desaparecendo, a cada vez que encontro a emulação de uma aspiração.

Não me sobraram muitas verdades aquela noite, acho que o melhor que fiz, foi realmente me recolher. Meu sono foi perturbado por pesadelos e não amanheci de pau duro.

Luís Fabiano.

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