Ex-esposas dos outros...
Com qualquer ser vivo que converso as queixas sempre são as mesmas. Todos têm os mesmos problemas. Por vezes tenho a impressão que estou conversando com uma pessoa só. Clones, todos são os iguais de certa forma.
Mudam algumas coisas, alguns com mais grana, outros fodidos da existência. Acho curioso, ninguém se felicita com nada. Um fala da mulher que engole há anos, outra fala do marido bêbado que tem ejaculação precoce, outro fala da grana que nunca dá pra nada, outra da doença que não cura e talvez vá morrer, outro dos filhos problemas... porra.
Houve um tempo que ficava preocupado com os outros. E muitas vezes quis ajudar, e me envolvia. Porem fui me dando conta da inutilidade disso. Lentamente fui me desconectando. A bem da verdade, as pessoas e suas dores são uma coisa só. Carregam a chaga e a cura, mas não tem olhos para a cura. Ninguém se felicita com coisa alguma. São trituradores de lixo.
Existe um anseio de minha parte, uma espécie de fome pela profundidade, ainda que seja da miséria, que os humanos podem nos presentear. Raros podem nos dar algo não tão raso.
Por vezes escutar os outros pode ser bom, mas hoje tenho minhas duvidas. Tudo que podemos oferecer ao outro, são nossos placebos atenuantes. Ele continuará sozinho e nós também, enfrentando os desafios, mas com a impressão que não está sozinho. Talvez tudo que se precisa são impressões. Jamais nos tocamos mutuamente, nesse tocar entendo como transpassar um ao outro, isso não ocorre jamais. Não quero roubar esperanças, porque não creio nelas.
Hoje André queixou-se da sua esposa. Como sabem, eu não sou um bom conselheiro nestes assuntos matrimoniais. Depois de algumas esposas, creio que não seja o melhor:
-Sabe Fabiano, ela fica me ligando o tempo todo, querendo falar comigo, me torrando os culhões... quer assuntinho...que vá a merda...
-Sei como é. Elas sempre tem o que falar, o que dizer e o que escutar... (sorri)
-É, já disse a ela que não quero mais saber... chega...já falamos tudo
-André, fique tranquilo. Pegue bom chicote de couro trançado, e faça amor com ela bem gostoso, com umas chicotadas na bunda, ela vai amar, no fundo é isso amigo, piroca e umas gotas de amor, boa chicotada na bunda...
-Tais me tirando né Fabiano Nunca fiz isso...
-Não cara. Dei-lhe um pouco de amor e depois indiferença total... pra coisa funcionar, ela precisa te odiar, vai por mim tenho experiência...você só se livra se ela te odiar, então ajude-a...caridade André...
-Mas cara isso não é nada legal...
-Foda-se André, estas com crise de escrúpulos? Pouca coisa no mundo é legal meu chapa... não é legal pessoas morrendo de fome, enquanto tu comes tranquilamente, não é decente pessoas morrendo nas portas do hospital, enquanto contigo tudo ok...decência? Não me fala disso. Poucas pessoas são decentes, é só você observa-las bem de perto... gente decente não existe.
-Puta merda cara, que revolta...
-Revolta nada, to tranquilo André, levei tempo pra entender que o ser humano só entende as coisas na porrada. Nada de amorzinho gostoso ao amanhecer, nada filosofia feita de nuvens, que falam de sutilezas, enquanto a vida real não é assim, tente filosofar com uma tempestade ...um terremoto... um tsunami...
Ouve um silencio que rasgava pedras. Não me sentia intranquilo. Talvez na verdade eu não tenha nada dizer, e despeje minha merda nos outros como todo mundo. No fundo cada um acaba fazendo exatamente o que quer.
Irmanamos-nos na dicotomia daquilo que são nossas feridas. Sequer nos toleramos muito, quando raspamos o fundo de nossas almas, as cascas caem ao solo, é como se fizemos nascer o novo em nós. Mas não quer dizer que seja pelas linhas harmônicas da vida. Quase nunca é.
Luís Fabiano.
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