Valadão, Monica e uma confissão (engula devagar)
Final.
O viés de tudo, surge quando menos esperamos. A outra
face que ocultamos em nossas vísceras, cria asas ferozes e a verdade surge como
um câncer que em vez de libertar, te aprisiona... quem disse que a verdade
liberta? Mas que porra isso...
A outra face de Monica surge. Ela senta-se, acende um
cigarro e eu não consigo tirar os olhos de suas coxas... aquilo não eram
pernas, eram uma promessa certa de paraíso. Gosto de pensar assim, pois a
promessa sempre é melhor que a realidade. Estávamos todos em silencio, eu aguardava com alguma expectativa o que
viria, ela dá uma tragada:
-Tu vais contar o que vou falar aqui, no teu blog Fabiano?
-É possível... tudo depende, eu nunca sei o que vou contar...
prefiro a surpresa... sem planos de voo, as vezes eu viro um acidente fatal...
-Tudo bem... vais contar onde é o endereço? Quem somos?
-Talvez...não sei Valadão...nunca sei de nada.
Ela ignora minhas colocações e começa a falar:
-Desde que o Valadão se acidentou, nossa vida ficou algo
complexa. Sabes como é, ele precisa de cuidados especiais o tempo todo, então ganhamos
indenizações e hoje ambos não trabalhamos. Por um lado isso é bom...
Valadão sorri sem graça. Ela segue:
-A adaptação a esta vida é cheia de percalços...e eu amo
este homem...e ele me ama também. Pode parecer um chavão, o amor salva tudo...
talvez salve mesmo, mas não pode ser um amor mesquinho, medíocre, acho que o
temos aqui Fabiano é algo muito raro...e eu não troco isso jamais, por nada ou ninguém.
Havia dignidade em sua fala...uma dignidade advinda do
aço inoxidável, um dignidade revestida de uma beleza surda ou de um segredo sem
precedentes. E por um breve instante me senti privilegiado, gosto de
verdades... ainda que por que vezes a verdade te deixe paralisado, congelado e
com um trauma com retoques de crueldade. Verdade cruel, mentira carinhosa...
que você prefere?
-Então por fim, as coisas todas que eram novas para nós,
tornaram-se mais controláveis, tive que aprender alguma coisas para lidar com
ele... ele é um bebê, o meu bebê, e de alguma forma sou uma mãe zelosa. E por um
bom tempo não tivemos mais uma intimidade, porque ele não se mexe como você já
sabe...
-Te entendo Monica...difícil imagino...
-Sim muito... mas eu Fabiano, estou viva... me entende?
Depois que as coisas se assentaram, eu voltei a sentir desejos humanos, mas ai já fazia
mais de um ano que não sentia tesão algum... minha buceta tava morta?
Gosto de mulheres que sabem ser vulgares... falam
palavrões, falam de putaria como se tivessem dançando balé...são puta sociais,
misturam bem a vida com que ela tem melhor ou pior...e falam como se tivessem
gozando pela boca.
-Sei como é... já comi algumas bucetas mortas...em todos os
sentidos...
-É?
-Sim...
Valadão como uma estátua nos observava em absoluto
silencio. E seus olhos brilhavam um certa malicia, algo malévolo como um diabo
preso em uma garrafa... olhos agitados.
-Legal Fabiano... bem, eu comecei a me masturbar feito
uma louca. Mas talvez minhas taras sejam fortes demais, talvez aquela energia
acumulada de mais de um ano, agora cobrava um preço alto... eu tinha vontade de
sentir uma piça imensa entre minhas pernas...sabe? Eu queria um pau gostoso,
esfregando em minha buceta... me sentia molhada o tempo todo...eu esfregava o
meu grelo devagar...e a baba ia saindo gostoso de dentro de mim... molhada e
mais molhada, num tesão sem fim... mesmo agora falando eu já estou excitada,
acho que estou ficando louca...eu estou ficando louca, amor?
Valadão, apenas sorri como um sádico, feliz bebendo lava vulcânica
daquela mulher feita de fogo e alma.
Aquela discrição, me deixou excitado, Monica me olhava
nos olhos. Talvez fizesse de propósito... o ambiente se encheu de energia...
Valadão agora tinha um semblante transtornado, de um tarado aprisionado por mãos
invisíveis... me senti um Marques de Sade em sua obra máxima, Os 120 dias de
Sodoma, eu ouvia agora em primeira pessoa, uma mulher falando daquela
maneira...era um pássaro livre narrando o inenarrável... quantas mulheres são
assim? Que me lembre em toda a minha vida só conheci duas que falavam com
tantos detalhes suas intimidades... aquilo era lindo, tinha vontade de tirar
meu pau pra fora...e presenteá-la... estávamos todos meio loucos...mas eu
queria ouvir mais:
-Então Valadão ficou curioso... eu por vezes ficava no
quarto e ele na frente da televisão... eu em nossa cama, eu de pernas bem abertas
então ele me chamou aos gritos ,me assustei, ele interrompeu uma gozada linda... eu fui até
ele como estava...pelada mesmo...e ele me olha e pergunta: “tu estavas te masturbando?”
Eu respondo que sim... e foi uma confissão... aproveitei e disse a ele que
sentia muito tesão que estava querendo uma piça em mim...eu queria muito.
Valadão agora respirava forte como se o ar estivesse
faltando ou estivesse a beira de um ataque cardíaco, eu muito excitado, e ela tranquila, fumando e falando de forma
displicente tudo aquilo...havia arte em suas colocações, ela a sacerdotisa do
templo conduzindo-nos ao paraíso...a puta encantada, a irmã dos ventos, a
vagabunda dos amores, a vadia das vadias se retorcendo...
-Então o que sucedeu a partir daí Monica? Eu perguntei.
-Valadão, amoroso e gentil...o amor deste homem vai para além...
ele me entendeu... e naturalmente entendeu sua condição impotente...então ele sugeriu que eu
tivesse outros homens ou mulheres... cujo o fim fosse me satisfazer... sexo
profundo e rasgado...Valadão me ama...eu amo este homem. A partir daí...eu
passei a sair as noites... e voltar no outro dia ou algumas horas depois...
feliz e fudida... e depois faço exatamente isso que agora estamos fazendo...
conto tudo para ele com detalhes...e ele se satisfaz mentalmente,
espiritualmente... tem sido assim nossa vida...encontramos um anelo do amor
entre o pecado, os desejos e nosso respeito mútuo...
Ela fica em silencio... e foi como se todos tivéssemos gozado...
a saia curta, pernas entreabertas, uma paz reinava... Valadão de olhos
fechados... estava emocionado, a que ponto o amor chega? Existe um tal limite
para o amor?
Perguntas existem, e a resposta você que precisa achar... pois a
forma que me serve jamais servirá para você... porque somos o que somos, únicos,
de sentimentos e razão e talvez a beleza seja exatamente isso, beleza
fulminante.
Saímos do transe... e Valadão me olha e pergunta: vai
escrever agora?
-Sim Valadão...vou contar cada detalhe... tua mulher é um
anjo, que faz as mulheres “comuns” desaparecerem amofinadas em uma vida
trivial... feliz? Talvez. Infeliz? Talvez...
Monica sai de cena... diz que vai secar-se, e esta é a
minha deixa, deixo aquela casa, volto ao mundo lá fora... a procura de um significado…apenas
a procura.
Luís Fabiano.
Fim.