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sábado, agosto 03, 2013

trecho solto


Trecho solto...      

Aí sim, fiquei sozinho. 
O ar ao meu redor ficou mais leve. Para mim era trabalhoso aceitar a solidão. Era difícil aprender a me auto-abastercer. Eu continuava achando que era impossível. Ou que era desumano. “O homem é um ser social”, tinham me repetido muitas vezes .Isso, mais o calor do trópico, o sangue latino, minha mestiçagem fabulosa, tudo conspirava ao meu redor, como uma rede, me incapacitando para a solidão. 

Esse era o meu problema e o meu desafio: aprender a viver e a desfrutar dentro de mim .E a questão não é tão simples: hindus, chineses ,japoneses e todos os que tem culturas milenares, dedicaram boa parte de seu tempo a desenvolver filosofias e técnicas de vida interior. Mesmo assim, todo ano se suicidam no mundo uns tantos milhares de pessoas, esmagadas pela própria solidão. Não é que o sujeito escolha ficar sozinho. É, que pouco a pouco, vai-se ficando sozinho. 

E não há remédio. É preciso resistir. Chega-se a uma imensa planície deserta e não se sabe que porra fazer. Muitas vezes se pensa que o melhor é não pensar muito em si mesmo e na maldita solidão, que fica mais aguda quando se esta isolado e em silencio .Bom, pois é preciso entrar em ação. E a gente sai por ai. Em busca de um amigo, ou de uma mulher que nos dê um pouco de sexo. Não sei. Alguém, para não ficar sozinho, porque já se sabe que quando se esta assim , o rum e a maconha deprimem mais ainda. Um pouco de sexo talvez. E senão, pelo menos um amigo.

Fiquei pensando nisso tudo, me pus de pé de um salto e ri. Gostosamente. Um bom sorriso, desnecessário e absurdo, é um tônico .Sempre dá resultado comigo. E se consigo aguentar uns minutos e rir por dentro e por fora, melhor ainda. “Vou”, pensei. E fui. Procurar um amigo.


Pedro Juan Gutierrez – Trilogia Suja de Havana.


Um comentário:

Anônimo disse...

Salve Pedro Juan! Esse foi um dos melhores livros que já li até hoje!!!... Cuba Libre! :)
Moizes Vasconcellos.