Pesquisar este blog

domingo, agosto 04, 2013

Toni Feroz




Estela, Toni Feroz, merda e alguns traumas...

  Parte 1.  

Existem coisas que estão para além da ética e do bom senso. O ser humano faz um esforço tremendo para conter-se... represando seus instintos, e mesmo alguns, entre quatro paredes se seguram... medo, insegurança, contrapartida de uma moral idealizada, que longe esta da realidade. A realidade é um grito de vomito em uma catedral.

Fui descobrindo as coisas devagar. Tem vezes que é melhor assim, dá tempo para que as percepções se atualizem tranquilamente, e a alma vai se acostumando a dor ou a indignação. Por vezes você deseja que a realidade seja uma fantasia, que a realidade seja o que ela não é, mas como uma jaula de insanidades, grilhões de sanidade, você esta ali... e não há escapada. Simplesmente não há.

Encontrei Maria Estela dias atrás, em minha andanças pela noite. Noite intensa, noite feita de fantasma, Pelotas arrastada ao abismo, a alguns passos do diabo. Bebidas, bar cheio no porto, drogas e a razão se perdendo, ótima ideia. Eu andava sozinho, como quase sempre. Gosto de minha solidão. Ao contrário da maioria das pessoas, preciso de solidão, preciso mais tempo comigo mesmo que com as outras pessoas. Minhas ideias se decantam assim a agua fica translucida. Emoções nítidas, pensamentos mais calmos.

Cheguei ao bar, era tarde pra caralho, na hora dos vampiros, lobisomens. Gente demais naquele bar, mas foda-se. Fiquei por ali e consegui ser atendido. Peguei minha bebida e fiquei esperando algo acontecer. Sou assim, como um maldito pescador, nada de planos, me entrego ao que acontece... deixo a merda toda vir a tona. Então ela apareceu no meio da multidão. Estava com o aspecto horrível, havia bebido, maquiagem borrada. Era a Monalisa das desventuras. Sou suspeito de falar, gosto de mulher com a maquiagem borrada, lápis de olho se diluindo, baton arrastado para fora dos lábios. Maria Estela, estava concentrada em si mesma, não me viu e parou ao meu lado. Sozinha com um copo grande de caipirinha na mão. Deixei assim mesmo, e então virei para o lado:

-Maria Estela... tudo bem?

Ela fica me olhando, talvez somando ideias, então se da conta:

-Fabiano? Porra cara... quanto tempo...

Me aproximo mais, a abraço e sinto um forte cheiro nela. Um cheiro que mescla perfume, um pouco de mijo e suor. Esta é uma mistura que mexe comigo.

-Puxa vida Maria Estela, é vero... por onde te tens andado? Que tem feito?
-Me fudendo Fabiano... tenho me fudido a rodo.

Adorei a linguagem. Lembro que Estela, era muito cheia de pudores em tudo. Quando tínhamos por volta de vinte anos, ela se vangloriava de ser virgem como a Sandi. Porem a virgindade dela era uma farsa. A buceta ela não dava, mas o resto... e tudo com muito pudor. Não falava palavrões, frequentava a igreja e vivia em um mundinho feito de ilusão. Muitos sonhos e poucas realidades, parecia levitar a um metro do chão. De certa forma eu a achava ridícula, como acho até hoje pessoas excessivamente sonhadoras. Sonhos são Bambi na floresta encantada, e a realidade é um javali comendo lavagem em um coxo imundo.

-Mas não diga isso Estela... na verdade todo mundo se fode na vida. Ninguém passa na vida ileso...

Ela me encara como cara enigmática. Como algo não caísse bem. Maria Estela esta transtornada. Fisicamente estava bem. Loirinha, peitos bons, não tinha muita bunda, lábios finos cabelos levemente cacheados... tenho certeza que você iria se agradar dela, seja homem ou mulher.

-É Fabiano... mas eu me ferrei cara... me ferrei bonito!
-Então relaxa Estale relaxa.

Nisso um cara de violão decidiu tocar algo... mas o filho da puta era horrível. Não era musico, mas talvez quisesse ser. Eis o sonho e a realidade de novo. O cara assassinou Chico Buarque... e recebeu alguma vaias.

Fiquei olhando para Estela... e sem dar muita ideia:

-Estela, vamos sair daqui... barulho demais... vamos conversar la fora... no carro...
-Tudo bem, deixa eu ir no banheiro da uma calibrada no nariz... e vamos pra onde tu quiseres...
-Tais sozinha?
-Vim com uma amiga... mas ela se arranjou com outra mulher ali... agora estou sozinha...
-OK.

A noite começava bem.
Estela foi no banheiro, olhei a bunda dela, ela vestia uma calça justa. Toco no meu pau, ele parece animado. Ela volta em alguns minutos e então saímos de lá. Gente demais me sufoca. Agora dentro do kadett, Estela se senta e fica calada, olhando o vazio. Pensei: essa puta se chapou demais...agora fudeu... talvez eu em seja um cavalinho de carrossel?? Me ferrei.

-Ei Estela? Tudo bem?

Silencio.

-Estela? Taís ai? Cambio... Terra para Estela!!

Então como uma bomba feita emoções, ela explode num choro convulsivo, lagrimas viscerais rompendo com tudo. Não sou de sentir nada, mas aquilo me causou uma dor. Um choro sentido. Fiquei olhando a pintura dela se desfazendo mais. Eis o lado estranho da vida, ela estava triste e bonita ao mesmo tempo. Talvez por eu gostar tanto da realidade... quando vejo coisas reais, isso me encanta e fascina.
A abracei lentamente, encostando a sua cabeça em meu ombro:

-Calma... calma...calma...tudo vai ficar bem...
Ela estava convulsiva. Fiquei fazendo uma contenção. Mas senti que um abismo havia se aberto em algum lugar nela.

Porque eu?
Eu que sou um fudido, que não consigo lidar direito com minhas próprias feridas, eu sou por vezes um fantasma de mim mesmo. Tudo bem, tudo bem.
Aquilo dura um tempo, então Estela consegue se recuperar. Afasta-se e me olha nos olhos:

-Fabiano eu preciso te falar algo... eu não aguento mais...
-Fala Estela... fala de boa, sabes que sou um sujeito desarmado...
-Minha vida tá uma merda cara...
-OK...mas que foi?

Estávamos parados ainda diante do bar lotado.
Uma briga havia começado... mulheres faziam um pequeno show de horror, com tapas e puxões de cabelo. Gosto de briga de mulher.
Estela ficou olhando aquilo...


Segue.

Luís Fabiano.



Nenhum comentário: