Navalhadas Curtas: Um pouco de culpa e diversão.
Minha vizinha do andar de baixo, tem discussões homéricas
com a mãe. Tenho a impressão que vivo em um pardieiro ás vezes. Talvez viva.
Somos todos iguais em qualquer lugar do mundo. Eu cagava tranquilo, lendo
poemas fortes de Bukowski. Tentando abençoar minha cagada. Então ouço pela
basculante do banheiro, a vizinha dispara com raiva:
-Tu só queres saber de rua... Não coloquei uma filha no
mundo, pra ser puta... ouviu?Ta ouvindo?
-Vai a merda mãe... sou eu quem paga tudo aqui em casa...
-Isso, isso, joga na cara da tua mãe isso... Que
horror... Filha puta e ingrata... to bem arranjada...
-Nada de horror mãe... É a verdade... é a
verdade...viu...
-Ainda por cima te envolve com esse cara aí de cima... O
negão... Tu não sabes aquilo não presta? Tu deste pra ele né?? O prédio todo
viu vocês chegando... Uma vergonha...
Naturalmente ao ouvir isso... A minha cagada trancou na
hora. Deu famoso picote! Puta merda... eu nem estava na briga, virei
personagem? Será que a puta me defenderia? Acho difícil.
-Mãe o deixa de fora disso... Ele me ajudou uma vez e só...
nada mais...e não te mete... Que se fodam a gente deste prédio...
-Sei... Foi aquele dia que ficou a noite toda fora né? E
não foste nem trabalhar, e nem levaste teu filho na escolinha? Sim... ele deve
ter ajudado muito!! Deus do céu... O cara é um marginal... Só vive na noite... deus
sabe o que faz da vida o vagabundo... Que horror minha filha... que horror...só
te mete com gente que não presta...
O cara que não prestava era eu?
Bem isso era verdade, mas quem bebeu foi ela, quem se
chapou foi ela... Quem caiu na putaria foi ela... E gostou pelo que vi. Eu fui
só uma ponte para o inferno... Só facilitei a jogada... Minha consciência viaja
com asas brancas da paz angelical... E cagando.
-Mãe sai daqui... Deixa eu cagar, por favor?! Não aguento
mais tu falando assim... saaaaaiiiiiii !
A porta do banheiro bate em uma porrada que ecoou... pelo
prédio. Voltei aos poemas.
Luís Fabiano.
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