Outro Bar, outra sacada e mais merda
*Final.
Por vezes não é preciso mais nada. O que se vê, agrada
como se os olhos pudessem fluir na distancia, os prazeres engendrados pela
insanidade, pelo amor, pela dor. As asas de papelão, um short justo, enfiado na
bunda suculenta e silencio sem inocência. Isso é Buda, Jesus e Maharishi e os
cambau...
Como disse, os homens do bar ficaram alvorotados, felizes
com a chegada delas. Deixei meu olhar passar na falsa loira de raízes negras.
Então por um instante ela me olha... Eu retribuo com um breve sorriso... Uma
vez, duas vezes e três vezes... Não
quero me misturar ao grupo dela, minha mesa, minha ilha e minhas poucas emoções
são os feudos de minha alma.
Então pisco o olho, e empurro a cadeira na minha frente
com o pé. Lembrei que havia deixado o carro em casa... Podia ser um erro... Nunca
se sabe quando você vai ser atropelado.
Deu mais ou menos, cinco minutos ela desconversou... E as
amigas dela me olharam... Então ela veio. Eu estava num estado mais chinelo impossível,
nada a perder. Quando se aproximou a cadeira estava a sua espera, como a
cabeceira de uma pista de pouso ensaboada:
-Oi – eu disse
-Oi...
Então houve aquele silencio... Ficamos nos olhando,
animais errantes no horizonte, enquanto a passarela do samba estava em chamas.
-Então tu vais me pagar uma gelada, gostoso?
-Como costumo dizer... A vida é uma troca de favores
eterna... Anjo de asas de papelão...
-Tu quer dizer, que não vai ser de graça?
-O que na vida é de graça?
-O ar, o perfume das flores, o nascer do sol o amor...
Definitivamente ela não sabia o que estava dizendo. Era
uma filosofa, com um decote generoso e com um forte cheiro de suor. Isso mexe
comigo. Aquilo era uma espécie de sujeira saudável. Ofereci a cerveja pra ela,
ela bebeu com vontade. E eu, que não estava interessado nela... Mais
intimamente fui levado pelos feromônios primitivos que exalavam dela.
Ela era ao mesmo tempo, suave e grosseira, educada e
estupida, amor e ódio. Pensei: possivelmente essa puta vai arrancar meu pau com
saco e tudo e sorri:
-Como é teu nome?
-Fabiano. O teu?
-Whitney...
Não tive como não rir. Deus do céu... As pessoas gostam desses
nomes estrangeiros. Ela riu também... E naturalmente tive que perguntar como
ela escrevia o nome... ela soletrou: “ U-i-t-i-ne-i ”.
-Ficou bom, bem brasileiro...
-É foi coisa da minha mãe que gostava da Whitney Houston...
Acho que ela queria que eu fosse cantora também... Mas eu sou empregada.
-Todos temos a nossa importância...
-Fabiano, tu não é daqui né? Nunca te vi aqui...
-Não sou... Sou de Marte... E minha nave ficou em casa...
A cerveja tava caindo bem. E aquele papo era idiota, mas
foda-se o mundo, o que importava naquele momento? Nada a peder. Eu nem sei. Não
havia química alguma... Tudo era cheiro forte.
O cheiro sujo do bar, o cheiro suado de Uitinei, cheiro
da cerveja e cigarro adormecidos.
E aquela maldita sensação, que tantas vezes eu sou
assaltado. A necessidade que algo se incendeie... Ou que aquele bar fosse
invadido por demônios, vampiros ou lobisomens... Que um anjo ejaculasse naquele
lugar. O espirito mal pousou no meu ombro:
-Uitinei... Na verdade eu queria te comer no banheiro... Agora...
Eu esperava que ela me desse uma porrada, fizesse um escândalo
ou se irritasse, que fugisse... Mas não ela sorriu:
-Hummm que delicado Fabiano... Esse é o preço da cerveja?
-Não... É apenas uma vontade mesmo...
-Tudo bem, mas o banheiro daqui é um horror... eu prefiro
na rua...ok?
-OK.
A vida é simples as vezes... Tudo bem, ela disse. Disse
como se fosse olhar a novela, dar uma cagada ou mijar...
Levantei... e fui em direção a porta da rua, ela me
seguiu.
Na rua, a meia quadra, havia um terreno baldio e escuro,
fomos até lá mesmo... e nos posicionamos atrás de uma arvore. Beijos pra
esquentar os motores, ela estava bem, beijei aquela tetas, os bicos pareciam um
interruptor grande, ligando e desligando a merda existencial.
Ela não se fez de rogada... Eu tinha vontade de lambê-la
lentamente, inteiramente, sentir o gosto azedo daquele suor, fazendo que minhas
veias virassem um rio de ácido incinerando volúpias. Por fim consegui tirar
aquele short dela... E tocar na xoxota... Uma xoxota longe de ser delicada. Parecia
um bueiro aberto, pronta pra engolir um capacete de motoqueiro.
A vida é perfeita. Apertamos-nos em pé... Minha mão
desapareceu naquela xoxota inundada de líquidos. Acho que eu poderia ficar ali
pra sempre, quentinho próximo do útero.
Então ela me agarrou o pau, fazendo um bom movimento. Ela
entendia de punhetas... aquilo não durou muito. Ela limpou a mão na minha roupa,
e ao que parece, era isso o top da vida. Voltamos para o bar... E sentamos-nos
à mesa.
As amigas dela gargalhavam como gralhas. E quando a viram
aquilo foi algo. Discrição não faz parte do jogo. Sentia-me bem, sorria pra mim
mesmo, algumas pessoas valem uma cerveja, uma carona, um favor ou um pouco de
dinheiro. Qual é o teu preço?. As vezes é assim... Agora pensava que eu iria
voltar pra casa a pé.
-Vamos beber mais ? Ela disse.
-Não... Acho que vou andar...
-Eu falarei contigo novamente?
-Acho que não... Talvez nunca mais nos vejamos
-Sei, quase tudo na vida é assim...
-Os laços não eternos...
As pessoas guardam abismos dentro de sí. Eu tenho que
lidar com os meus, e acho que não queria mais ouvir Uitinei, a Whitney havia
morrido sozinha e tinha voz linda. Quem disse que os finais devem ser
felizes... O final é só fim da viagem... Então aproveite o trajeto.
Levantei, paguei a cerveja e sai pela porta, caminhando
lentamente.
Luís Fabiano.
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