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segunda-feira, março 04, 2013





Outro Bar, outra sacada e mais merda

Muita filosofia e pouca ação, é como uma punheta sem gozada. Não serve pra nada. Enjoado de estar em casa, decidi dar uma caminhada pelas ruas da cidade. Sabe esses dias que você não tem a perder? É isso.
Coloquei uns trocados no bolso, matei o resto de rum num copo e sai. Deixei o “fudet” em casa, digo Kadett.

Andar nas ruas é sentir o cheiro da vida, estava disposto a me misturar, e esperar que algo acontecesse. Porra, isso é sensacional como pescar: você vai lá... Lança a linha e simplesmente relaxa, e do nada se tu tiveres sorte, um peixe bacana morde a isca... E você pode voltar pra casa se sentindo o Dom Juan das vagabundas. Não é lá uma grande filosofia, mas comigo funciona assim. Não espero nada, não desejo nada, ganho raramente e mesmo assim tudo parece estar bem e dar certo. É isso, existem cosias que o dinheiro não pode comprar.

Olho o relógio, são 22h49min, perfeito. Camiseta, tênis, bermuda e eu. Caminho devagar curtindo cada pedaço do trajeto, observando uma Avenida Bento meio cheia e meio vazia, caminho entre os carros, na parte central, ando por ali porque sempre se vê alguma coisa interessante. As pessoas costumam dar bons arretos dentro dos carros ali na Bento, sou um voyeur profissional, podia-se se ver qualquer outra coisa... não interessa.

Mas tudo parecia bem... Olho para um lado, duas moças em um carro pareciam felizes demais, logo entendi, estavam dividindo algumas linhas de cocaína, estavam bem aceleradas. Diminui o passo e fiquei olhando. Puta merda, eram bonitas, cheiravam e depois se beijavam, estavam curtindo a vida...  Davam longos beijos incandescentes, mãos desciam e tudo parecia um paraíso. Me ignoravam completamente, ignoravam o mundo, ignoravam uma viatura que também passava por ali. Pensei: é isso, todos estamos a busca, a felicidade de algumas pessoas é algo complexo, de outras é mais simples, mas creio que o que importa é a busca, é não cansar de buscar.

Segui meu caminho, cheguei a Deodoro e fui descendo. A Deodoro a noite é zona de prostituição escancarada. Fui andando pelas calçadas das putas. Confesso que as achei muito quebradas, digamos assim, muito detonadas pela noite, e alguns clientes não exatamente gentis.
Numa destas esquinas eu parei para conversar com uma delas. Eu parei não, ela me parou:

-Então negão... quer uma chupadinha gostosa? Vinte pila... E eu engulo a tua porra todinha...
-Bom preço... Mas digamos hoje estou desprevenido...
-Logo se vê que tu és um pobretão... Há, há, há... Tá mais fudido que eu...

Fiquei olhando pra ela por alguns instantes, a analisei. Morena, minha altura, seios grandes e flácidos, bicos duros marcando pela blusa sem sutiã, uma minissaia jeans curta e salto alto, cabelos longos, e com um cheiro típico de sabonete vagabundo. Ela tinha um machucado no rosto e um dente estava faltando, então ela seguiu:

-Então que tá olhando negão? Minha bunda é boa.  Gostou do material né? Eu sou boa... viu...e to ate sem calcinha...

Ela fazia o jogo das putas, e eu era um cavalheiro negro, andando a noite a espera de um milagre ou de uma catástrofe, o que ficasse melhor. A nossa vida precisa destes elementos para se modificar, do contrário somos como uma parede.

-Ta beleza então ? (ergui a sobrancelhas)
-Luciana... ou Lady Lu como tu quiseres...
-Beleza Lady, e como tu foi arrumar esse machucado no rosto hein? Bateu com cara na pia?(rindo)

Ela fechou o rosto... Como uma tempestade em um deserto. Sou bom de tocar em pontos cruciais.

-Foi um cara ai...
-O que tu fez pra ele?
-Eu? Nada, eu fiz um boquete nele... No carro... Lá na ponte de Rio Grande sabe... As duas da manha... Então na hora da grana... Ele arrancou com o carro, e abriu a porta e me jogou na rua... não sei como não me quebrei toda. Se eu encontrar o filho da puta... ele vai ver...
-Possivelmente não encontrarás mais.. .nunca mais... esquece... Isso faz parte da profissão...
-A vida da volta cara... A vida sempre da volta... ele pode esperar o dele ta guardado...

Então estacionou um carro e chamou ela... Eram dois caras jovens... Então ela voltou e me disse:

-Eles gostaram de ti... Ta afim de fazer um programa juntos? Eu e tu... e ai tu come eles...e depois eles me comem....e todo mundo se come, que tal? A gente consegue 50 pila nessa, já negociei? Hum.... diz..ai topa?

O que essa minha saída a pé havia se tornado... Mas essa é a noite. A oportunidade é uma planta carnívora, você precisa estar atento... Porque se não, você é a mosca da vez. Olhei pra Lady Lu:

-Agradeço Lady... Vai com fé... Essa não é minha praia... prefiro mulheres...elas podem fazer o que quiser comigo...ok?
-Ok cara, mas tu vai perder uma grana... Eu vou nessa, tchauzinho.

Ela entra no carro que desaparece na próxima esquina. Tremenda coragem ou talvez ela não tenha nada a perder. Tenho medo de não ter nada a perder... Com nada a perder nunca sabemos o que seremos capazes de fazer.
Segui meu trajeto, mais criaturas da noite apareceram mas não parei pra papo. Acabei indo em direção ao final da Deodoro, onde nas proximidades do Super Guanabara existe um bar. Um bar que esta sempre fechado durante o dia, talvez estivesse aberto a noite? Ainda mais com o carnaval acontecendo ali por perto? Vai saber.

Chego ao local e realmente esta aberto. Alguns caras sentados nas mesinhas sujas. Isso não era uma beleza? Dei boa noite, todos me cumprimentaram e achei uma mesa pra mim. O bar não tinha quase nada de interessante... eu tinha dinheiro para cerveja e pedi. Eles conversavam entre eles... e pareciam desconfiados comigo. Mas estou acostumado com isso... É uma questão apenas de saber conduzir o jogo. Um sorriso certo e uma palavra colocada na direção certa e você se enturma, assim são os bêbados.

Então um grupo de mulheres apareceu ali... Meio fantasiadas, estavam desfilando na passarela do samba... Chegaram agitando o local, com suas roupas, risadas e querendo beber... Eram sete, de diversas idades mas logo se via que eram mais humildes. Estavam suadas e exalavam o cheiro forte e bom, suor, um pouco de falta de banho e algo que não consegui identificar. Falavam feito gralhas. Os caras gostaram... eu também. Pediram uma cerveja e foram bebendo... Fiquei de olho em uma delas, era loira oxigenada, com a raiz do cabelo meio preta... Vestia umas asas de papelão, com algo que brilhava, com algo que parecia um maiô preto e short. Boa fantasia.

Num grupo assim sempre alguém te chama atenção. Mas eu não estava disposto a fazer muito papo, nem contar lorotas como se faz normalmente... No fundo queria que ela sentasse a minha mesa... E ficasse em silencio... E se a magia acontecesse, bem... ai a gente vê.

Segue.

Luís Fabiano.


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