Navalhadas Curtas: O falso é verdadeiro
Sempre que se desempenha um papel, é preciso um mínimo de
convicção sobre o mesmo, ou será perda de tempo. Tinha acabado de sair da
fruteira. Não é muito a minha praia... Mas foda-se precisava me cuidar um
pouco.
Então vi aquele cara, suposto cuidador de carros na rua. Meio
sujo, desarrumado e fedendo. Parecia enfezado demais pra cima de uma mulher, meio
assustada.
Ele falava grosso como todo filho da puta que agride
mulher:
-O mulé... Estaciono aqui tem que pagá! Tenteu ? Coloca
aí cinco pila na minha mão... Se não...
-Mas senhor –dizia a mulher – eu só parei aqui um
minuto... E não tenho cinco reais... por favor se acalme...
Fiquei naquela. O cara era grande, brigar fora de
cogitação... Mas sentia que tinha de
fazer algo. Lembrei que as vezes sou ator. Bati forte no ombro do cara, fui
dizendo e falando grosso:
-Que porra tá acontecendo aqui hein? Que isso malandro,
ta querendo voltar pra cadeia? Senhora, esse cidadão ta lhe fazendo alguma
coisa? Sou policial...
O cara imediatamente se assustou. O passado nos condena a
todos. O jogo funcionou. Ele baixou os olhos e foi pedindo desculpas, senhor,
desculpa aí... To com fome...
-Seguinte malandro, vai embora daqui agora, e tem mais,
não aparece mais por aqui hein, ta entendendo? Tá, vaza meu... Vaza porra.
O cara foi embora. E a senhora me olha:
-Muito obrigado espetor pela ajuda...
-Que nada senhora, mas eu não sou espetor não. Não sou ninguém,
apenas não queria brigar, e queria te livrar desse cara. Ainda bem que deu
certo.
-Ahhh tá... Poxa vida tu és bom hein?
Meus olhos mergulharam para dentro do decote dela...
Luís Fabiano.
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