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domingo, outubro 14, 2012





Navalhadas Curtas: O falso é verdadeiro

Sempre que se desempenha um papel, é preciso um mínimo de convicção sobre o mesmo, ou será perda de tempo. Tinha acabado de sair da fruteira. Não é muito a minha praia... Mas foda-se precisava me cuidar um pouco.

Então vi aquele cara, suposto cuidador de carros na rua. Meio sujo, desarrumado e fedendo. Parecia enfezado demais pra cima de uma mulher, meio assustada.
Ele falava grosso como todo filho da puta que agride mulher:

-O mulé... Estaciono aqui tem que pagá! Tenteu ? Coloca aí cinco pila na minha mão... Se não...
-Mas senhor –dizia a mulher – eu só parei aqui um minuto... E não tenho cinco reais... por favor se acalme...
Fiquei naquela. O cara era grande, brigar fora de cogitação...  Mas sentia que tinha de fazer algo. Lembrei que as vezes sou ator. Bati forte no ombro do cara, fui dizendo e falando grosso:
-Que porra tá acontecendo aqui hein? Que isso malandro, ta querendo voltar pra cadeia? Senhora, esse cidadão ta lhe fazendo alguma coisa? Sou policial...

O cara imediatamente se assustou. O passado nos condena a todos. O jogo funcionou. Ele baixou os olhos e foi pedindo desculpas, senhor, desculpa aí... To com fome...

-Seguinte malandro, vai embora daqui agora, e tem mais, não aparece mais por aqui hein, ta entendendo? Tá, vaza meu... Vaza porra.
O cara foi embora. E a senhora me olha:

-Muito obrigado espetor pela ajuda...
-Que nada senhora, mas eu não sou espetor não. Não sou ninguém, apenas não queria brigar, e queria te livrar desse cara. Ainda bem que deu certo.
-Ahhh tá... Poxa vida tu és bom hein?
Meus olhos mergulharam para dentro do decote dela...

Luís Fabiano.


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