Gritos do inconsciente, traições e paz profunda.
Me sentia asfixiado, muito embora estivesse na rua, o ar me fugia, preciso respirar... Fitei as estrelas, puta merda... pareciam tão lindas hoje. Como pode merdas serem simultâneas assim? Estar morrendo, e achar belo o que não morre?
Fiquei naquilo não sei quanto tempo. Então como se descortinando num relance que não havia percebido, talvez movido por molas de borracha... ela apareceu. Uma das minhas mulheres mais antigas.
Estranho, com ela o ar me adentrou novamente e respirei como um idiota vivo. Porra apenas ar... Ela parecia bem, vestia apenas calcinha e camiseta sem sutiã, as roupas que mais gosto em uma mulher. Sorria como uma serpente feliz... como se quisesse me seduzir.
Uma boa visão, o pau me subiu na hora e percebi que estava imobilizado. Não podia me mexer mesmo que quisesse. Essa agora? Então ela veio, passou a mão no meu rosto e chamou sem voz um outro cara que estava em off.
Ela sorria com gosto, seu olhos pareciam orientais e negros. Gosto de lápis forte no olho... gosto mais quando borram com lagrimas... da impressão fantasmagórica.
O cara chegou completamente nu... e começaram a transar na minha frente, como duas marionetes. Ela me olhava nos olhos gemendo sem graça... a cena era excitante... mas ela queria que eu sentisse ciúmes ou outra coisa... eu sorri.
Com anos de pratica, me tornei imune a ciúme e outras emoções doentias... simplesmente não sinto. Você aprende a relaxar e ter confiança em si. Fui traído muitas vezes, mas nada de escândalos.
Ainda hoje outras me dizem: Fabiano eu vou fuder com outro cara... ou outra mulher tudo bem?
Eu relaxo.
Respondo: tudo bem amor...vá tranquila.
Geralmente isso costuma ser motivo de briga. Brigas inúteis, porque simplesmente não mudo e ninguém muda fácil.
Ficaram fodendo na minha frente... uma foda sem graça, sem suor e sem cheiro. Os achei uns palhaços sem sentido. Não se faz nada assim na vida... sem vontade, sem vigor sem amor ou raiva.
Então eu vou acordando devagar... era uma merda de um pesadelo. Detesto sonhar e acordar as cinco e trinta e um da manhã. O cérebro produz inutilidades as vezes. Levantei e mijei. Pensei em abrir uma cerveja pra empatar o jogo... não talvez não... agua é melhor.
Tomei um pouco dagua e fiquei olhando a chuva caindo. As coisas repousavam em certa paz úmida...
Lembrei do sonho... e de um papo que tive com Joana a um tempo atrás. Ela tem um temperamento difícil, embora seja gostosa. Eu funciono por reverberação... um temperamento difícil me torna mais frio, um temperamento mais tranquilo me torna mais pacificio...
-Fabiano...eu não quero saber nada de outras mulheres hein... nada... elas que se fodam...
Eu sorri, porque naturalmente sou discreto, nunca falo nada de nada. Não interessa.
-Fica tranquila, nunca falo nada...
-Porque eu vou fuder com quem eu quiser sabes né...
-Tudo bem... eu nunca disse que não...
-Pois é... e como é isso?
-É uma longa historia... mas posso dizer resumidamente que é mais ou menos assim: com alguns nos fodemos de corpo e alma, e outros apenas de corpo... é fácil.
-E comigo como é?
Ela estava querendo entornar um balde de vomito... queria espalhar aquela porra toda pela sala... uma espécie de tortura nauseante. Eu sei o limite das pessoas... o meu é bem avançado. Consumida pela raiva e ciúme, queria um gancho para piorar a situação. As pessoas sempre complicam tudo, ou eu sou simples e obvio demais. Talvez o merda seja eu.
-Esqueça essa historia Joana... não vai levar a nada.
-Fala... cara fala...fala
-Contigo é apenas de corpo... porque tua exigência afugenta minha alma...
Aquilo pareceu um golpe de martelo nos pregos de cristo, mas eu estava sendo honesto. Ela pediu pra mim ir embora. Eu fui... sempre assim.
Voltei a mim...que coisa... a rua parecia tranquila, molhada uma poesia feita de ausências, mas raramente nos sentimos tão bem com ausências.
Não suportamos a nós mesmos, com nossas emoções complexas... e não me sentia culpado.
Sorri, afinal as vezes a ignorância é uma benção. Voltei pra cama e tornei a dormir... o sono dos infiéis.
Luís Fabiano.
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