Útero aos Pedaços
Ela anuncia a histerectomia
Com a alegria do primeiro sutiã...
Entre as sensíveis palavras de um encontro romântico embriagado
Gosto disso... sua naturalidade maliciosa
Inocência perdida a muito
Sorriso fácil
Estávamos bem ali
Como uma promessa feliz, que Deus cospe em nós...
Fiquei curioso como aquela cirurgia seria...
Eu o romântico enfermeiro mórbido, ela a paciente gostosa excitada
Então vieram os detalhes sórdidos: o útero será sugado... em fragmentos
Canos pontiagudos espetados na pele, um aspirador de pó monstro, sugando pedaços
De carne e sangue... a beleza dos vampiros adormecidos
Era uma vez o antigo berço vazio... inútil
As crias já estão grandes
Não cabem mais ali...
Creio ser assim... as coisas ficam inúteis com o tempo
Tudo é assim...
Dentro e fora de nós
Querendo nós ou não...
Imaginei entre sorrisos sádicos
O meu pau...
Picador de gelo... pau lamina, trazendo pedaços de útero
Pau agulha jorrando leite e sangue
A cada estocada os gritos de dor e tesão em harmonia sinfônica
Rasga o corpo
Penetra a alma
Deixando o vazio...
Rimos sadicamente
Em nossa química silenciosa
Que rastejava serpenteando entre nossos desejos
Eu o canalha alado
Cavalgando um sarcasmo feliz
Ela a minha puta sorrindo
Enquanto íamos em direção a um desconhecido
O prazer é sempre um mistério
Bom que seja assim...
Fomos nos entregando lentamente
Beijo lamina... carinhos agulha... mordidas anestésicas, unhas de tigre
Como uma flor perdendo as pétalas
Fui despindo seu corpo e alma...
Mergulhando pra dentro dela
Deixando me perder
Enquanto o útero ainda estava ali...
E nós também...
Luís Fabiano.
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