Fantasmas impiedosos de mim
Doces memórias rasgam o tempo, auto-caricias ordinárias de tempos idos, fantasmas que assombram a mente, entorpecem o coração, anestesiando o corpo. A minha pior droga, os resquícios viscerais das situações que forjaram meu caráter. Um punhal oscilante descascando o mal e o bem. Se é que tenho algum. Não me preocupo com isso, realmente não me preocupo com nada ou ninguém.
Vivo a vida com doses cavalares de intensidade, ás vezes gostaria que fosse um pouco mais, uma overdose fatal de vida, eis talvez o porquê, de me arriscar tanto, de ter ânsias de perder o controle, o trem fora dos trilhos a toda velocidade.
Quando morava na COHAB Fragata, que fica nos arrabaldes da cidade, hoje um pouco melhorada. Boas e trágicas lembranças em mim, alagamentos, ruas sem calçamento, poeira interminável, ruas sujas, valeta cheias, o cheiro constante de esgoto entupido, a agua que faltava quando a temperatura subia no verão, brigas de vizinhos caóticos e bêbados, marginais de toda sorte, dois ou três caras meus amigos, místicos que fumavam maconha e meditavam na tentativa de encontrar o nirvana ou uma saída de suas merdas de vida, disputas para quem cuspia mais grosso e longe, disputa de punhetas, quem gozava mais longe, tudo isso na praça destruída e improvisada de campo, balanços abandonado e ausentes, futebol feito de goleiras de tijolos, a minha profunda inabilidade esportiva.
Lembro que me sentia um merda por não ter a menor habilidade com nada esportivo. Até hoje não tenho. Isso naturalmente me levou as brigas, boas brigas, o qual tive a feliz oportunidade de esmurrar os que caçoavam de mim e espremiam meu ego, mas depois apanhei, mas já era tarde.
Aprendi que não se pode ganhar sempre, e quanto todos andam em um mesmo caminho, é preciso pegar atalhos, se desviar das rotas de colisão. Essa foi minha infância. Então como anjos do céu, vieram os livros e a distancia indiferente daquele mundo que não fazia o menor sentido pra mim.
Troquei todos os meus amigos pelos livros. Passei a andar sozinho e estranhamente feliz. A contramão da vida me satisfaz, onde o trágico encontra-se com a agonia, onde as sombras humanas, rasuras de seus pesadelos reais, fazem fronteira com as alucinações repletas de desejos por um céu nevoento, a paz vomitada em nossa mesa, e engoli-la é nossa conquista máxima.
Mas aquele bairro tinha coisas muito boas. Lembro uma vez em que a noitinha caia, e a COHAB fazia fronteira com a Vila Gotuzo, onde tinha uma locadora que costumava ir pegar fitas VHS. Um dia estava indo fazer isso, despreocupado, quando na esquina da Gotuzo um casal profundamente alterado, por bebidas ,drogas e loucura de toda sorte, se agarravam com insanidade descontrolada, volúpia e promiscuamente. Gostei daquilo
Todos viam aquele espetáculo gratuito. O cara enviava as mãos por debaixo do vestido da puta, procurando a xoxota dentro de uma calcinha branca encardida. Alias os dois estavam muito sujos, mas faziam uma boa performance. Os cabelos grudentos e ensebados de ambos, o cara sem camisa, ela dentro daquele vestido puído e sem sutiã. Eram dois bichos amáveis entregues a paixão, sem escrúpulos ou moral. A putaria celestial.
Lembro que parei para vê-los, um pouco distante o suficiente para ficar excitado. A puta sorria com dentes que faltavam, entregues ao torpor de um devaneio sem fronteiras. Não sei o que esperavam, queriam gozar e não ligavam pra nada.
Vendo aquilo me lembrei de Sabrina. O cheiro eterno de Sabrina. Ela tinha uma xoxota com cheiro marcante, cheiro muito forte, um pouco suja como gosto, mescla de urina, suor e sucos vaginais intensos, era um coquetel para um apreciador como eu. Uma mulher muito macha que tinha na rua detrás de onde morava. Ela era a nossa alegria, os punheteiros eternos encontravam nela uma boa satisfação as vezes. Mas era preciso coragem, então poucos se arriscavam.
Fiquei vendo aqueles dois loucos um bom tempo, até um vizinho mais invocado, decidiu acabar com a festa deles, jogou um balde d’água e eles saíram meio sem entender, para agarra-se em outro lugar, mais calmo. Fiquei com pena, mas bati uma boa punheta para eles.
Mais tarde fui ver Sabrina, que estava mal humorada. Estava sempre, éramos jovens na faixa dos vinte anos. Ela morava uma casa destruída, um barraco a qual era responsável plena, seus pais eram viciados e desapareciam por dias deixando-a sozinha.
Sabrina com vinte anos era muito mulher. Tentava como podia sobreviver e pra isso, foi perdendo um pouco a sensibilidade. Não usava roupas tão femininas, as unhas podres, banho ás vezes quando era possível. Eu a achava interessante, era uma mulher forte, acho que a mais forte que conheci em minha vida. Dela e outras que veio a historia de gostar de pelos grandes. Ela era muito peluda.
Ficamos bons amigos. E quando ela estava afim, me chupava e dava o rabo com vontade. Isso era um paraíso. Todos diziam que era machorra, eu não me importava, comigo era uma femea louca, que queria que batesse e que gozasse dentro dela, a ponto de explodir os ovários.
Dizia essas coisas loucas.
Uma coisa que achava um charme da bizarrice e deformidade, a teta esquerda dela tinha dois bicos, um meio atrofiado. Um bem ao lado do outro. E os três bicos ficaram duros. A vida realmente é generosa.
Sinto-me mergulhado em um dossel de fantasmas, que divisam minha realidade, que com mãos hábeis tento apalpar, agarrar sem esbarrar no abismo de minha de minha essência. Mas como um assombrado, pouco me importa o que sejam ou não fantasmas, ou onde é o nascedouro de minha verdade mais pura, mais ambicionada e despojada de toda a escoria, de meu pior.
Vivo, sou fluxo e refluxo de um coração, que não sabe onde vai chegar, mas que tem certeza absoluta de estar viajando, e até a aqui tudo bem.
Luís Fabiano.
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