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sexta-feira, agosto 12, 2011



Decifrando engrimassos de grandeza


Minha estima pelos miseráveis de alma é sem precedentes, tão comparável a minha admiração dos templos vazios, ou com ecos de fiéis tentando caçar um norte sempre em fuga de suas vidas.

É Deus a galope, sempre estando e não estando, ora aqui, ora ali. As preces como flechas certeiras tentando acerta-lo no ventre divino, e que sua benção caia como sangue sobre nossos diminutos desejos, desejos de uma ignorância infantil, daqueles que não sabem porque existem, mas se for possível ser dar bem, tudo certo, ai esse patriarca de quatro letras existe e tem face. Quando acaba mal, e Ele desaparece entre as nuvens de algodão, num trono alado indiferente a seus filhos, que se fodam vocês e suas malditas lagrimas, no meu céu não há tempestades, uma primavera eterna com uma luz do sol que jamais fere os olhos.

Talvez minha estima advenha de minha mesquinha alma, o não querer ficar só neste mundo, o condenado por tantos erros, os quais jamais me arrependo. Lampejos de minha alma que as vezes brilha, numa noite sedenta de luz.

Gosto de tais contrariedades, sinto-me vivo, como um feto inquieto no ventre de sua mãe, um potencial de esperanças, o mundo que se descortina. Tento nascer a cada dia, mato um Fabiano por dia, para que este nasça um pouco mais ou um pouco menos filho da puta!

O que ontem ferrou a minha existência, hoje não existe mais, o que foi bom deixou rastros melecados na memoria, deixou uma trilha de formigas, abrindo espaços por dentro da relva interna, guardando no celeiro do coração.
Tenha isso dentro de si, boas lembranças para o inverno da vida, para não sucumbir quando os botes incertos do destino nos assaltarem, e você vive e viverá.

Nada é perdoável como se imagina. Mas nada é perdido também, o que a natureza faz conosco o tempo todo, é tentar compensar-se, naturalmente quanto mais obtusa for uma mente e mais estreito um coração, tal compensação ganha ares perfeitamente previsíveis de dor, de lagrimas sem fim. Um diamante bruto sofrendo golpes do buril, para que ganhe refinamento e brilho esperado do lapidador.

Essa não é a verdade absoluta, mas é parte dela, somos os tramites do bem e do mal, tateando cegamente no afã de encontrar-se.

Eis minha predileção pelos miseráveis, meus irmãos, não aqueles profundamente “despertos”, que enxergam apenas o bem como uma flecha cega, fanáticos presos a um bem extremo e doentio. Materializaram o bem, o transformaram em um negocio e nas suas veias não circula mais sangue. Mas um protoplasma de ideias prontas, uma estatua acabada que responde com um ventríloquo.

Não há esforço, apenas um apanhado de ideias, a mente mais que solitária, com resoluções prontas, é o que todos desejam não é? Algo que trabalhe por nós, que faça o esforço brutal por nós, que nos veja por dentro e a porra toda da vida que foda-se...

Negamo-nos a ver completamente desnudos. Quem corajosamente enfrenta as próprias verdades internas? Quem vai querer defrontar-se com sua miséria? Quem vai tirar as luvas das ideias preconcebidas, e tocar as podridões negligentes de sua individualidade? Mergulhar nas sombras densas e desconhecidas de si mesmo? Ou será mais fácil, colocar Deus na jogada? E culpa-lo quando tudo der errado?

Lembro-me quando fui mais filho da puta em minha vida, com pessoas que me eram caras, mulheres, amigos, parentes e conhecidos, aconteceu. Quando fui negligente e ignorei a dor alheia, o fiz com plena consciência uma consciência em prece de verdade.

E por estar tão consciente, mas tão consciente, então não existem arrependimentos, alias nenhum. Se essa é minha miséria e negligencia, que o seja. Não a ostento como orgulho, mas é apenas uma verdade, uma verdade no colar das perolas existenciais, verdade que salva e enterra, pois é assim com tudo.

Ainda não sei o que sou, nem sei se quero saber um dia, apenas vivo sereno o hoje, tento ser um rio escorrendo entre montanhas, com noites de luar a minha margem, com sonhos de mar, com sonhos de oceano, e de quando em vez um afluente ajunta-se a mim, peixes que migram de um para outro, não sei se chego ao oceano, mas isso é a vida, a certa incerteza, mas aqui, neste exato instante, tá tudo bom e creio que por isso já basta.



Gotas de esperança, a paz no dorso fantástico de um cometa, riscando nossa vida.


Luís Fabiano.



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