Mãe na zona, também é mãe.
Por uma destas sequencias errantes da vida, vamos nos deparando com todo o tipo de gente em nossa caminhada. Gente de boa vida e gente de má vida, muito embora tais conceitos sejam bastante suspeitos, como as pessoas em questão.
Não sou juiz de nada, mas o que me chama atenção sempre é o que move o ser humano, as pressões e apreensões que fazem a nobreza de uma atitude, ou a tornam densa e sombria. Consequências não dizem quase nada, é a ponta do iceberg.
Tive um amigo chamado Marcio, dentro de nossa convivência eu sabia que ele havia enveredado por descaminhos da vida, não sei se foi escolha. Com dezessete anos, ele só falava em drogas, armas e roubo. Isso nunca me assustou, os outros amigos tinham medo de Márcio, porque ele os intimidava sempre. Seu olhar ferino e um sorriso constantemente sarcástico.
Tenho pra mim, que quem sai aos seus nunca degenera. Marcio saiu a sua família, um fruto complicado de uma arvore distorcida, de valores estranhos um pai completamente desconhecido, uma mãe prostituta e viciada em drogas. A mãe dele sorria faltando alguns dentes, sempre que ele tentava falar sobre seu pai, desconversava dizendo:
-Márcio, tu tens vários pais, entrou tanta gente em mim, que tu és uma mistura de todas as porras deles, tu és uma mistura...
Aquilo irritava profundamente Márcio. Por muitas noites conversamos sobre isso e outras tantas coisas, sempre gostei de conversar, Márcio era mais interessante que meus apagados amigos, cuja vida era perfeitinha, que falavam de estudo, namoradinhas e roupas de marca. Minha vida nunca foi isso, talvez por algum momento eu tenha tentado acompanhar, mas era como uma pele que não me pertencia, que eu tentava vestir. Sentia-me asqueroso bancando o que não era.
Com o tempo os vizinhos me olhavam também com olhar atravessado, afinal eu andava com Marcio e logo eu deveria ser igual a ele. Realmente não me importei, creio que foi quando comecei o meu distanciamento das pessoas, pois os outros estão sempre dispostos a julgarem aparências. Tudo que se vê aparência, e infelizmente outros detalhes de personalidade são esquecidos, porque isso não aparece em primeira mão. O que alguém que vive e pensa assim pode me acrescentar? Fodam-se.
Infelizmente minha canalhice é ancestral, lembro que quando Marcio me disse que sua mãe era prostituta, o primeiro pensamento que tive foi: porra, será que mãe do Marcio daria pra mim? Naturalmente, Marcio nunca ficou sabendo desta fantasia, e mesmo quando passeia frequentar a casa dele e olhei para sua mãe, faltando dentes, grandes tetas, um cabelo em desalinho e aquele cheiro forte, cheiro de todos os cheiros, um ranço, porra ressecada e um pouquinho de merda. Sem duvidas um cheiro marcante.
A noite na casa de Marcio havia um movimento constante, todos os pedreiros, auxiliar de obra, bêbados dos botequins dos arredores da vila passavam lá, davam uma graninha pequena para dona Marilanda, ela fazia uma chupetinha famosa, com Márcio ou não estando em casa.
Marcio odiava aqueles homens, que ela chamava de seus pais. Ver tudo aquilo de perto naquela idade pra mim, era algo que marcaria minha existência, no sentido de entender um pouco da vida real onde o dinheiro não existe, onde tudo é um desafio de valores onde a merda entra a rodo. Quando me deitava a noite na minha cama confortável, minha vida certinha, minhas roupas limpas e alguma organização de vida. Tudo aquilo na vida de Marcio não poderia sugerir um final feliz, coisa de filme, a vida real não é bem assim.
Em um dia conversamos. e o papo rolou para o aspecto sexual, quem já havíamos pegado ou tentado comer, e como foi a primeira vez e esses assuntos, então vem a bomba de Márcio:
-Minha primeira vez, foi a minha mãe.
Confesso que nunca tinha pensado nisso, ou nesta possiblidade. Perguntei curioso, como tinha sido isso?
-Lá em casa não tem muito espaço, dormimos eu e mamãe juntos, na madrugada eu estava de pau duro, bem ai tu sabes como é... encaixei na mãe e ela não falou nada, seguiu dormindo, fiz uns movimentos e foi bom, e tudo terminou rápido. Fui muito bom, uma coisa eu digo, minha mãe tem a maior xoxota do mundo.
Fiquei rindo e debochei de Márcio:
-Que nada cara, tu é tem pau pequeno...
Mudamos de assunto, mas aquilo ficou na minha cabeça. Puta merda, Marcio comeu a própria mãe? Ele era mais foda que Édipo, pois este ultimo nem sabia que era própria mãe, e como o Marcio tinha aversão pelo pai. Tenho impressão que Freud atingiria um orgasmo com esse caso.
Mas a vida da voltas, eles viviam uma vida insana, a loucura que nunca tentou se organizar, misérias que se somavam, abismos sedentos de obscuridades. Eu via isso de longe, e sentia meus dentes crescerem como até hoje, quando frequento bares de segunda, que me dão historias sórdidas da alma humana em desalinho, algumas poucas felicidades, e o contentamento, que são os restos capaz de nos lançar na estratosfera. Nunca fui fiel a nada, mas creio que a isso tenho sido.
Um dia Marcio apareceu lá em casa apavorado, olhos esbugalhados, respiração ofegante:
-Que foi cara... que houve....?
-Cara, acho que matei minha mãe, ela caiu apagada... cara eu vou fugir...eles vão me matar...
-Calma Márcio, calma como aconteceu?
-Eu cheguei em casa, ela estava com um cara lá, não tinha nada pra comer, nada, cara hoje é domingo... e ela de papinho pelada com aquele cara. Fiz um bate boca, o cara foi embora muito irritado, ela veio pra cima de mim, não sei o que meu, eu me irritei dei uns empurrões nela, ela veio brigando mais, me deu um tapa , um tapa cara, nem pensei duas vezes, dei um soco na cabeça dela, ela caiu e bateu com a cabeça na mesa e apagou ali mesmo...ela tá morta cara...
Na época me apavorei, e não sabia o que dizer pra ele. Ele vendo meu silencio foi embora correndo. Que merda, será que isso foi assim mesmo? O primeiro assassinato de Márcio. Porem, não foi assim, dona Marilanda caiu de mal jeito e apagou porque bateu a cabeça, desmaiou, nada demais. Mas fiquei sabendo disso muito mais tarde.
Puta que pariu, que presente de dia das mães.
Luís Fabiano.
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