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quinta-feira, maio 05, 2011

Caixa


Caro e inesperado leitor, hoje em minhas perambulações pelo atribulado centro de nossa cidade, como um caixeiro pagante de contas, dei-me conta fatalmente, como que engolido por uma serpente imensa, que envelhecer é uma verdadeira merda!

Não me refiro ao aspecto mais sórdido, que a aparência declina em uma ascensão as avessas, onde tudo é atraído para a terra lentamente, das bochechas aos culhões e por fim, nós de corpo e as vezes de alma também.

Essa é a lei Dele, que não admite negociações, assim sendo, fica difícil um breve dialogo, entre um tossir encarrado e outro. E mesmo que ELE não me escute, eu afirmo com todas as letras, que algo deu errado na Criação.

Se não fosse pelas bundas que desfilam para lá e para cá nas lotéricas, este dia seria impossível de acreditar. A fila berrante, os idosos vagarosos e minha falta completa de paciência. Não me desculpo jamais, penso odiosamente que se um dia chegar a terceira ou quarta idade, e tiver um comportamento tão lerdo assim, talvez eu faça outra escolha...estou pensando.

Então a moça do caixa diz:

-Senhor deu 55 reais...
-Há? 25 reais...sei...é?
-Não senhor...não...é 55 reais...
-A tá, é 35 reais...entendi...

Agora a mulher do caixa aos berros, creio que seria melhor um megafone...

-Não, senhor...é 55 reais...55...55...- fazia com os dedinhos...

Parece que ele entendeu afinal. Pagou foi embora com sua bengala, depois veio uma senhora, mais idosa ainda que o homem, mais surda ainda que ele. Naquele instante, comecei a entender como nascem os instintos homicidas, como eles são gerados alimentados ,e por fim concretizados para estarrecimento ,e prazer das massas ululantes de sangue e terror.

Mas me mantive firme, ela berrou, reclamou do pagamento alto demais, disse que estava errado, a moça do caixa havia errado as contas.

E eu ali atrás no final da fila, tentando sublimar a vida e a raiva, tentando achar uma bunda paradisíaca, capaz de me elevar aos santos e fazer voltar minha fé Nele. Confesso que pensei em mim no futuro, e imediatamente me senti um velho caquético, reclamando das coisas, surdo e louco.

Será assim?
As favas com toda a filosofia sublime, a buscar uma esterilizada explicação para tudo, uma justificativa polida com o próprio rabo, entremeados de mantras ou preces.

Era inescapável, lembrei de minhas próprias genitálias, os pelos brancos de meu saco, puta merda, isso já é um inicio dizem... até toquei em minhas bolas para ver se não estavam muito caídas...é estão um pouco.

Que explicação vou dar quando minha coluna, pernas e outras partes do meu corpo não funcionarem bem ?Ou então, uma loucura esquizofrênica que surja com a esclerose? Onde bundas não terão sentido algum, e que o ápice de minha felicidade suprema, será conseguir não me mijar nas calças? E a glória será conseguir ter uma ereção por ano?

Não, acho que não quero isso. Não quero ver o final de meu próprio filme, sinceramente não existe esperança alguma, daqui para frente em nossa vida em termos de planetários, a coisa não irá melhorar espetacularmente, em um milagre.

Entrei em um delírio, e as coisas da rua falavam a mim, uma loira falsa de cabelo pintado com raízes negras, o flanelinha na rua se comportando como guarda de transito, o olhar atravessado das pessoas, uma maluca sem dentes que passou por mim, e o calçadão se me tornou asfixiante, tanta gente e todos com tantos sonhos e a infinita possibilidade de muitos não se realizarem.

Fugi da rua com um cão acossado, não queria ver mais ninguém e nem pensar nos desdobramentos que a vida pode nos surpreender. Eu queria descansar um pouco que fosse...

Próximo...
Era eu, felizmente chegou a minha vez, a caixa sorriu um bom dia pronto e sem vida, puta que pariu, azar, infelizmente precisamos uns dos outros as vezes.

Luís Fabiano.

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