O abraço da serpente
Não considero adultério um crime, creio este não ser o verdadeiro problema. Lamento aquele que adultera-se, corrompe-se e abre espaços para as densas trevas em si, em nome de virtudes que não tem, tentando agarrar Deus pelos pés. Um proclamador inflado de verborreia sibilante, que ao final reduz-se a mesquinhos interesses reais.
Então seja franco em sua canalhice, seja o dia cinzento, turvo como rios pútridos, prontos a envenenar, mas não pinte-se com auréolas sagradas, aí entendo que está o real crime, a questão não são os outros, e sim você. Não seja dos que cagam e limpam a bunda com papel perfumado.
Originalidade nos tempos que vivemos é algo caro e raro demais, ninguém esta disposto a pagar, a expor-se, a ser uma paisagem terrível a luz do dia. Tudo é feito as escondidas, tuneis de minhoca singrando fendas, esburacando a alma até que ela vase toda a extinção, não há mais alma, gesto, gosto ou forma.
Sorri meu sorriso mais idiota, quando ela me disse embebida de inocência, frescura e sonho:
-Fabiano, puxa vida, tu poderias não ser canalha comigo? Tu precisas ser assim sempre?
Ela pedia para profanar o templo, pedia para que eu quebrasse minha santidade as avessas, e virasse diante dela uma ilusão aprazível aos olhos, um carinho gratuito da mão divina, a mentira escarrada do foço afável de uma alma maquiada e maquinada. Foi com um pouco de raiva que recebi este pedido, naturalmente despertou em mim desejos vingativos, desejei espanca-la um pouco, fazer-lhe tortura anal e afoga-la em porra:
-Não, creio que não posso fazer isso. E digo mais Gioconda, ainda que tu fosses a Buceta das Galáxias eu não faria isso. Não tem nada ou ninguém que me demova daquilo que sou, o canalha sofisticado é como uma puta de alma, que faz o que gosta com ou sem pagamento, a puta verdadeira, a “Madre” invertida do inferno, rogando pragas e esperando o pior acontecer, esse sou eu.
Do outro lado da linha Gioconda se cala. Creio não ser exatamente isso que tinha em mente, receber como resposta. Esse é um dos nossos maiores problemas, a expectativa do dia seguinte, da benção misericordiosa da vida nos presenteando gratuitamente. As vezes acontece, mas eu não estava disposto a fazer isso acontecer. As vezes abro exceções, porem apenas porque é preciso ser dinâmico em relação a vida. Pensamentos que não se cansam, vibrando com vontade, numa tentativa funesta de alcançar o universo, o átomo de Deus:
-Puxa, obrigado pela tua sinceridade Fabiano, credo as vezes acho que tu não és humano.
-Sou humano sim, mijo, cago, vomito e sangro como qualquer um, essa é uma das minhas pouquíssimas certezas.
A sua voz pesada dela, dizia em silêncios pausados o que lhe revoltava no interior. Não sinto prazer em causar desprazer, tristeza ou mesmo asco. É apenas a condição natural de ser Fabiano. Não há orgulho nisso, sei de minha abissal insignificância, é ótimo ter tal consciência que se é nada. Houve um tempo que me preocupava significativamente, ser essa luz apagada em minha vida, este vão de mistérios densos sem significado. O tempo pai de todos, foi enterrando lentamente, e com alguma filosofia consegue-se driblar quase tudo.
Mergulhei em mim, como quem salta em um poço de merda, fui nadando entre os toletes grossos, afim de encontrar algo, a viagem de Santiago de minha vida, a noite escura da alma, a procura.
Então você percebe que, o premio para tal busca é o buscar, e é preciso encontrar satisfação nisso, se isso acontece, a magia aconteceu. O coelho saiu da cartola, os fétidos toletes deixam de ser o que são.
Gioconda não aguentava a mim, meu jeito, meu cheiro de merda fresca, suor e um pouco de urina. A conversa seguiu para além, queria saber de minhas outras tantas mulheres, queria saber o critério de minhas escolhas, o que faziam, como trepavam comigo, se praticavam yoga sexual e outras tantas molduras que a existência empresta.
Ela procura sua posição, queria saber o seu grau de importância pra mim, como se faz para medir a emoção? Ou medir as lágrimas que caem ao solo durante uma vida? Se medirá também a intensidade de uma única lágrima também?
O outro lado também é verdadeiro, pode-se medir as gotas de porra que deixei espalhadas nas bucetas da cidade de Pelotas? É melhor não.
O papo estava maravilhoso, a verdade é uma sinuosa mordida de serpente, inegável, existem aqueles que gostam outros não. Gioconda ao final de nossa difícil conversa, sorria fazia promessas de ser minha puta alada, a amante feliz enfiada em minha alma.
Isso foi como uma espécie de amanhecer, um amanhecer de silêncios gotejando orvalhos de beleza, bebendo prazeres lentos e acariciando cabelos em um beijo interminável. Creio não haver preço para isso, esta paz é a nota musical perfeita atingindo a alma.
Luís Fabiano.
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