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domingo, março 06, 2011


Rosas e pedras

Ela recebe as rosas com uma felicidade lacônica
Não era acostumada a demonstrações de carinho
Preferia palavras ácidas e rascantes
Estava mais acostumada assim
Xingamentos e cusparadas
Os sulcos dolorosos em sua alma cansada
Tornam-na insensíveis aos meus beijos
Seu olhar totalmente inexpressivo
Espelhava minha presença
uma inutilidade mórbida
Como móveis velhos,
gastos e sendo consumidos pelo faminto tempo
Eu não esperava grande coisa
Nada de oásis em um deserto cáustico
Eu lembrei do seu aniversário ao menos...apenas
Ela sorri impaciente
Belos dentes brancos e descarnados
Mesmo estando tão destruída
Ainda havia resquícios significativos da beleza outrora
Lembranças de um corpo que foi fenecendo
Agora aquelas pernas fininhas
Braços esquálidos, galhos secos
Rosto sulcado, pedras desgastadas pelas aguas
As tetas murchas como rosas secas.
Olho para ela frontalmente e lembro: eu
Transei com você antes, agora acho que não consigo
Nem vou tentar
Um breve resquício de humanidade em meio ao caos
Aquele silencio havia perdurado demais
Ela joga as rosas para um canto imundo do cubículo
Pega o cachimbo dourado, e acende a próxima pedra
Assim decolou como a Challenger
Explodindo tudo a sua volta.

Luis Fabiano.

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