Uma janela, e pouca esperança.
A sensação de cú na mão as vezes pode ser desagradável, dependendo de quem for o cú. Normalmente quando tal situação invade minha vida, recorro a um destes mecanismos tecidos de filosofia, que explique e ao mesmo tempo console, e depois de algum tempo, liberto-me exorcizando tudo, mandando a puta que pariu. Pode não ser muito bonito, mas afinal nem tudo é.
O tempo vem me tornando melhor ou pior, ainda não sei. Tenho sentido mais, que alguns anos atrás, mas ainda considero todos os seres humanos que conheço ou não, em primeira instância, cretinos de Deus. Depois de um tempo, pode ser outra historia qualquer. A cretinice é o natural do ser humano, e não a bondade, a índole ou a ética. Não é tão simples assim. Por outro lado, não vejo nenhum problema nisso. Entendo como sendo um processo, hora evolutivo, hora involutivo. E neste balanço, algo acontece dentro de nós. E isso é maravilhoso.
Alguns de nós ficam melhores, outros piores. É um bom ponto de vista. Com disse, consola e explica. Quem dera a vida fosse estes simples rabiscos. Mas tenho me sentido mais em paz comigo. Isso conta. E talvez seja pelo tempo que despejo aqui, meu vomito, minhas tripas e em meio a isso também meu coração.
É preciso coração. Uma batida perene que inflame alentos, ou que faça você rastejar de desespero, mas que seja algo. Cabe colocar que isso é a única coisa real que existe. O que você sente. Como você sente, isso modifica tudo, porque isso no frigir do ovos, é tudo.
E por momentos, fazendo um balanço de minha vida profundamente insignificante. Começo por dar graças ás perdas. É preciso saber perder, como também é preciso saber como livrar-se da carga excessiva de nossa vida. Daquilo que torna a embarcação pesada, a ponto de não poder enfrentar tempestades.
Não quero parecer pateticamente trágico. Mas não recordo de vitórias em minha vida. Derrotas sim, e muitas. Não faço disso uma queixa ou escudo. Falo isso com a consciência tranquila. E de certa forma agradecido. Não pense que é falsa humildade. Não sofro disso. Tenho arrogância de sobra, e cultivo um espaço em mim destinado ao meu pior, orgulhosamente.
Então perder foi e é pra mim, uma vitória as avessas. Como quase tudo dentro de mim é as avessas, nem mesmo o perder poderia ser fatal.
Minha mente viaja no tempo, lembro das mulheres que tive, de algumas que tenho. Lembro carinhosamente de meus filhos que morreram antes de conhecerem este mundo.E outros filhos e filhas emprestados que tive, todos lindos. Dos poucos amigos que partiram, e que por mais que se diga, eles são insubstituíveis. Empregos que foram sumindo, fazendo eu pular de galho em galho, sem certeza de coisa alguma. Tais coisas trabalham a alma.
Assim aprendi, que é preciso deixar uma grande margem a perda dentro de sí. Essa margem é a segurança que não te sentirás derrotado plenamente. É a contagem de segurança do Boxe. E mesmo diante da porrada final, se você deixar um espaço a derrota em si, nunca perderá totalmente.
Pensava e dava-me conta, que ainda que eu fosse levado a lona totalmente, me tornasse um perdido, um fudido existencial, sem mulher, emprego e alguma grana leve pra curtir a vida. Bem, isso não teria problema algum. Ninguém depende de mim pra nada. Posso me fuder a vontade.
Poderia me tornar um errante, sujo pelas ruas, vagando e trôpego, tropeçando em valetas e caindo sobre vômitos de cachorro. Morreria feliz e sem problemas. E ainda assim, jamais me sentiria um derrotado.
Pensava tais coisas bebendo rum, pelado, olhando pela janela do meu quarto algumas estrelas solitárias.
E mesmo que não estivesse mais muito em mim, meu coração batia, e eu sei que é verdade. Porra, mas que merda.
Não contive o sorriso pra mim mesmo, é bom sentir assim.
Luís Fabiano.
Um comentário:
Parabéns! Este é um dos melhores textos que já li. Tem essência, e isto é tudo em um texto...ou melhor, essência é tudo em todos os sentidos de nossa vã existência.
Abraço repleto de PAZ.
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