Amor, indiferença e um cú limpo.
Quanto terrível a vida ás vezes pode ser. Ás vezes somos levados pelos ideais, e o ideal é por momentos, apenas uma maquete que nunca se torna real. E tentamos aliar isso a realidade sempre incerta. Ao menos comigo é assim. Nada há de certo, preciso e imutável.
Considero-me, em muitos momentos, um maremoto, com aparente superfície de riacho sereno. Acho que deve ser assim mesmo. Os outros, sejam quem sejam, não merecem respirar o meu lixo, nem beber do meu vomito ou lamber meu cu cagado.
Aquele verão não estava sendo dos melhores. Mais um caso, mais uma mulher e mais problemas. Algumas pessoas dizem que tenho o dom pra confusões emocionais. Tudo bem. Me jogo pra que ver o que acontece, e onde vai dar. É assim que envolvo com as pessoas. E quando vamos nos dar conta, a cobra já esta enrolada em nossos pescoços. Apertando lentamente. Aconteceu muitas vezes. Agora não mais.
Com Regina foi surreal. Foi exatamente assim, quando menos percebi já estava morando com ela. Porem haviam detalhes estranhos de nossa proximidade. Tão próximos e tão distantes. Não tínhamos intimidades alguma. Trepavamos uma vez por semana, na quarta feira. Mas desde quando, trepar significa intimidade?
Aquilo era estranho. Quando era quarta feira, eu chegava em casa, cansado ou não, ela vinha cheia de carinhos, beijinhos e comidinha gostosa. Quando íamos nos recolher, ela já estava pelada e bem, ai a coisa tinha que acontecer. Dava aquela trepada quase maquinal. Depois ela levanta-se e ia se lavar, livrar-se de minha porra. A cada lavada, ela ficava mais distante. Vim a perceber isso, com tantas justificativas furadas:
-Não amorzinho vou ficar limpinha pra você novamente...tua porra me da irritação vaginal...gosto de dormir cheirosa...quando gozas assim feito um cavalo amanheço com cistite...não sei dormir com esperma dentro de mim...
Eu sorria amarelo, e ia dormir meio indiferente. Faltava intimidade. Regina, era limpa demais. Não peidava, cagava ou mijava na minha frente. Dizia sentir vergonha de tudo. Naturalmente acabei poupando ela de meus peidos. E fomos nos distanciando. Em alguns poucos meses de relação, eu tinha impressão que estávamos convivendo ha anos. Era fatal o fim, mas isso não era importante.
Eu queria sentir o cheiro dela, suja, suada, depois de uma bela mijada. Mas não. Ela era uma espécie de boneca inflável, limpinha, impermeável e plastificada. Isso mata meu tesão. Gosto de sentir o cheiro natural da xoxota, gosto do cheiro de peixe ou de queijo vencido, é bom demais.
Gosto do suor, que ela fique natural, que fique peluda. Mas não. Foi tudo virando um artificialismo profundo, repletos de palavras vazias. Era eu te amo pra cá, era eu te amo pra lá, mas no fundo, éramos dois estranhos andando em labirinto.
Ás vezes me lamento, entender um pouco do ser humano. Saber suas fragilidades. Ela queria acreditar que nossa suposta relação era amor puro. Mas nunca se permitiu um ato intimo. Nossa intimidade maior, resumia-se ao sexo anal. Ela gostava de dar o rabo. Porem, isso tinha uma preparação quase cientifica. O pau saia dela mais limpo que quando entrou, sem cheiro de merda quase perfumado. Disso eu não tinha duvida, era uma relação muito limpa.
Bem, não gosto de nada limpo demais. É preciso haver alguma sujeira, nem que seja na alma. Algo que lembre o quanto somos humanos, o quanto o ideal por vezes não encontra guarida em lugar algum, e que por vezes tudo termina em merda.
Minha relação com Regina não terminou na verdade. Um dia fui embora e não voltei. Ela ligou, chorou, berrou, ameaçou apenas escutei, ela poderia ate me bater que não moveria um dedo.
Ela precisava entender que na verdade não existiu nada. Era uma espécie de armação inconclusa de ambos, os vínculos mais frágeis que uma teia de aranha. Por fim ela cansou e não ligou mais. Ontem a vi na rua, parecia feliz, vinha de mãos com um cara e fez que não viu. Parecia feliz, gostei de vê-la. No fundo meu desejo mais real, é que as pessoas sejam felizes.
Na época, disseram-me que eu deveria ter conversado com ela a este respeito. Fiz duas tentativas, e em ambas ela foi evasiva, o assunto não a agradava, era sujeira na sua limpeza. Não insisti, alias nunca insisto com nada.
Ela já tinha alguma idade, e repensar valores tão críticos não é fácil. Só fazemos tais pensamentos quando nossa vida tá uma merda, do contrário não modificamos aquilo que instituímos como certo.
Não espero nada do ser humano, de nenhum que conheço. Pode não parecer animador mas nem sempre a vida é. O importante é seguir, lançando nossas redes na agua, dia a após dia, em um mar aberto de possibilidades, esse é o ato de fé.
Luis Fabiano.
A paz é um remédio pra dor de cabeça.
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