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sexta-feira, dezembro 03, 2010


Deformidades perfeitas


Quando olhei pra ela, era a mais deformada expressão de dor, que um rosto podia expressar. Curiosamente, as feições tão marcadas, entre lágrimas e uma surda revolta.Sua dor a tornava bela.
Por alguns instantes afastei mentalmente causas daquilo, me ative a estética do momento. Posso parecer cruel, mas não, a natureza por suas leis, não é cruel quando aniquila um filhote indefeso. Ela apenas é.
Gosto de explorar instancias, e nem tudo, é percebido obviamente.
A dor dela, não era física. Dor da alma, de cicatrização complexa e de batismo de tempo. Eu acho isso uma grande merda, fazer doer pra aprender.
Lucia confiou demais em seu desesperado amor. Desespero e amor, nunca é bom negocio, confundiu tudo na cabeça, esperou demais do marido, esperou demais das pessoas e foi cruel a tal ponto que, não lhes deu escolha a não ser: serem grandes filhos da puta.
As lagrimas de quem chora algo assim, advém muito mais de seu drama de consciência de uma suposta dor impingida. O cruel, é quem chora. Disse isso a ela de forma seca e limpa. Como se tratasse de mim mesmo. Possuo algumas poucas emoções assépticas.
Era como se lhe tocasse na ferida aberta. Defendi o traidor, para tentar resgata-la. Mas não, ela ficou na deformidade de seu rosto, entre lagrimas e ranho. Era minha amiga, mas naquele momento não poderia fazer nada por ela. Disse:
-Lucia uma dica pra ti. Deixa a dor cravar com profundidade as garras em ti. Não oferece resistência, deixa sangrar, doer, deixa te mijar e cagar de dor. Sente tudo ao extremo e depois relaxa.
É claro que ela não entendeu, estava ocupada demais, imaginando as causas de tudo aquilo. Bati a porta, queria respirar ar puro. Não me sentia culpado. A vida segue suas leis. E se conhecemos evolução humana um pouco. Sabemos que existe uma maneira de confiar no ser humano. Essa maneira engloba ao crédito da confiança, as falhas naturais de caráter, moral e ética que todos temos.
Eu confio em todos, sabendo que são humanos, portanto podem falhar. De forma que não tenho como ser enganado, não tenho como ser ludibriado, porque isso, esta incluso em minha inexorável confiança.
Caminhamos em uma linha oscilante, entre ser aparentemente bom e ser terrivelmente mal. Então tudo bem. Fechei os olhos e respirei profundamente. Não ouvia mais o choro auto punitivo de Lucia. Me sentia pronto pra morrer.
Lucia nunca esteve tão linda, quanto aquela noite. Afastada de seu véu de artificialismo, a dor era real, e como nunca fora tão real, agora também sentia-se viva. Faria amor com ela aquele dia, mas seu espirito jamais compreenderia o que quisera dizer.

Luís Fabiano.

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