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domingo, dezembro 12, 2010



Cobiça dos vivos.


Não acho que olhar para um cadáver, com um certo olhar de cobiça sexual seja um crime. Tenho pra mim, que crime maior que este, seja olha-lo com arrependimento por sentimentos não expressados durante uma vida.
E aquelas lágrimas intermináveis, com toda a cena que caracteriza tais instantes. Não estou dizendo que sofrimento não exista na hora da partida. Um sofrimento profundo é quase sempre feito de silêncios e menos cena. Posso falar de sobra, quando se enterra pessoas que se ama, não é preciso dizer nada. Enterrei meu pai em paz, pelo amor que trocamos durante uma vida, fez bem a ambos. Me senti agradecido.
Trabalhar no hospital é como estar num ringue de boxe. Ali vida e morte travam uma luta, de rounds quase infinitos. Não foram poucas vezes que vi a morte vencer. Depois de tanto ver isso, você caleja o coração. E com o tempo, um corpo morto não é muito diferente de um apito abandonado em uma estante.
Sempre olhei os mortos de perto. Como se quisesse aspirar os últimos momentos daquela alma. Para onde iria? Vi boas mortes e outras repletas de agonia e dor. E sem querer parecer sádico, posso dizer que mesmo um filho da puta quando morre, não o deixa de ser na hora derradeira. Carregará a ,merda consigo.
Não é bonito ver alguém morrer, repleto de tubos por todos os lados, expelindo secreções asquerosas por todos os buracos do corpo. Tentei muitas vezes ver poesia nisso. Não havia me endurecido o suficiente, aquilo me incomodava, mas fazia parte do trabalho. Em primeiro momento achei que precisava abstrair. Com o tempo cheguei a conclusão que não. Quando algo o transtorna, você precisa olhar firmemente sem desviar o olhar, sem baixar a cabeça e impregnar-se daquilo, ate os ossos. É isso, ou não é nada.
Aqueles momentos me ensinaram a respeito do ser humano. Entre o catarro fétido, sangue e mucos diversos, fui entendendo o interior do ser humano. Isso me deu elementos para ver como se é por dentro. Uma imagem sem retoques. Relaxei, hoje quando olho para alguém normal, naturalmente sei o que se passa em seu sangue. E por mais que diga que não, somos capazes de nojeiras inomináveis, como um pendulo entre o ranho e o anjo.
Eu frequentava a UTI como quem ia a shopping. Numa de minhas idas, vi uma moça linda, tinha no máximo, vinte e três anos. Cabelo muito negro, a pele branca como papel, e estava em estado vegetativo.
Em primeiro momento achei um desperdício, aquela mulher tão linda, muda, de um olhar vazio para o nada. Mas não posso dizer que sou feito apenas de pensamentos nobres e respeito. Tudo habita em mim em uma semi-pressão. Ela estava coberta por um lençol muito fino, não usava nada por baixo.
Como era bonita, os seios grandes com os bicos duros e negros, um vasto pelame na região da xoxota. Gosto muito disso. Tenho certeza que se tivesse oportunidade eu transaria com ela. Talvez ali mesmo, não acharia errado.
Comentei com uma das atendentes, que era evangélica:
-Ei Nóris, olha que coisa mais cheia de tesão...
Nóris fez o sinal da cruz, se afastou de mim rapidamente. Como tivesse visto o demônio que ele tanto teme. Sou feito de sentimentos contraditórios mesmo. Estando de pau duro, com a bela Juliete, que parecia morrer credito, sua beleza, como uma flor tenra que faltam a luz e agua, ela foi secando. Tentei escapar deste pensamento, acho melhor pensar nas tetas e na xoxota, é menos dolorido.
Fui embora e me masturbei no banheiro, fiquei em paz. No dia seguinte, voltei a Uti, estavam tirando os tubos dela. Achei aquilo meio violento. Ela havia falecido na madrugada. A porta os pais choravam.
Penso muito a respeito disso, o limiar entre a dor e o prazer é tênue. Por momentos a agonia de um, será o prazer de outro, e como isso muda de um momento para outro. A morte ganhou novamente o round final.

Luis Fabiano.







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