Cyborg–A historia de um cão
O livro da vida vai se escrevendo lenta e gradualmente, algumas vezes uns fatos são mais marcantes e outros passam quase em brancas nuvens com a nossa total displicência, somos assim mesmo muito raramente estamos presentes em nossa vida, nossa mente e coração por vezes divagam, percorre estranhos caminhos, longínquos caminhos, e naturalmente quando a realidade não nos chama mais proximamente de forma chocante,é de que de alguma forma mais ou menos acordamos, talvez ai um dos aspectos mais positivos da dor, fazermos focar a atenção, para que tudo não passe apenas como paisagem.
Na época eu era um pré adolescente e como tal muito assumidamente idiota(não que eu tenha mudado muito,mas ao menos na época era relativamente inocente...)e claro depois que nos mudamos para a nova casa com muito orgulho, eu era realmente muito jovem nesta época, eu tinha uma cadela vira lata é verdade, mas muito amorosa lembro-me bem dela, chamava-se Coky, baixinha tinha um tom de pelo em mel desmaiado muito simpática, mas um dia de jogo de futebol Grenal se estou lembrado,espolcavam abundantemente foguetes ela simplesmente fugiu e desapareceu, daqueles desaparecimentos que agente nunca mais vem a saber para onde foi, e nunca mais a vimos novamente, eu lembro que embora tivesse carinho por ela não senti grande falta, mas ficou a lacuna no lugar onde ela ficava,uma corrente vazia, uma coleira vazia, uma casinha vazia, é estranho mas por vezes alguns vazios nos preenchem tornando a vida diferente fazendo-nos buscar novas angulações da existência,essa reciclagem é necessária e absolutamente saudável
O tempo passou, então como todo pré adolescente tive minhas manias e a muito tinha falado com meu pai para conseguirmos um novo cão, mas desta vez nada de vira lata, teria de ser um cão especial de raça especial, nesta época o meu ego ainda cabia em uma lata de sardinha mas claro já começava a dar sinais que se estenderia ao infinito como uma imensa catedral, como uma auto-idolatria, felizmente hoje ele é apenas circunstancial, sendo apenas uma ferramenta, uma arma ou uma indiferença, mas voltando ao cão, então meu pai tinha um conhecido que trabalhava próximo ao seu trabalho, não lembro o nome dele, mas era conhecido por enfermeiro,bem justamente por ser é claro enfermeiro, tinha uma pequena clinica de enfermagem para coisas breves e rápidas, injeções, curativos,pequenas atuações da área medicinal, o Sr enfermeiro tinha um cão pastor alemão capa preta, e uma cadela pastor alemão belga, desta mistura impura saiu uma raça estranha é verdade mas bela, a ninhada estava lá e meu pai me levara para escolher o cão, cheguei la e acanhadamente olhei um pequeno cão muito interessante, bem pequeninho,uma mistura de pelos que se alternava do preto ao dourado na parte das costas, uma cara negra e patas escuras com detalhes em dourado, fui direto a escolha do coração, colocamos uma fitinha vermelha no pescoço dele para marcar, e ele ficaria ali mais uns dias pois ainda estava mamando, aquele dia fiquei muito feliz, um menino e seu novo cão, felicidade simples é vero, mas foi assim, quando uma historia se inicia quase nunca sabemos o final, mas ela vale pelo que vale,simples.
Finalmente ele veio para casa, em uma caixa de sapatos, chorando como um bebê eu me lembro, precisava de carinho o tempo todo, lembro que meu pai teve que dormir com a caixa ao lado da cama e com a mão nele para ele não choramingar,eu entendo, certamente ele sentira falta da mãe,mas se acostumaria em alguns dias como geralmente são as dores mais agudas, o próprio organismo trabalha para isso, então ele foi crescendo rápido lembro, com a ração que comia abundantemente, nos dias de inverno que se seguiram ele foi minha alegria e diversão, eu estava muito feliz.
Então minha mãe engravidara e todos estávamos felizes, é claro nem sempre era paraíso afinal isso era uma família, e quem tem família sabe que esta relação é feita de altos e baixos, proximidade humana é mais ou menos assim, quando tudo é muito padronizado é sempre um risco eminente. O cão crescia a olhos vistos, eu crescia também, agora eu tinha treze anos e posso afirmar que era muito mais chato que sou atualmente, mas era um chato feliz.
Minha irmã nasceu e o meu cão Cyborg (este nome foi dado por mim, na verdade eu sempre quis ter um cão com este nome, não sei porque, talvez porque eu assistia o Homem de um milhão de dólares o Ciborgue... puxa isso passava no inicio dos anos 80),então agora uma fera grande e bela ao mesmo tempo, com cara de poucos amigos, mas muito carinhoso com os familiares, ele particularmente não gostava de estranhos avança em todos.
Um dia minha irmã estava no carrinho de bebê na cozinha da casa e nos distraímos com alguma coisa e Cyborg entrou na cozinha...não aconteceu nada demais, ele apenas ficou olhando e deu uma lambida em Natali minha irmã, mas claro que isso foi o inicio de um fim, minha mãe preocupada com ferocidade do cão, terminou por convencer meu pai que seria melhor nos desfazermos dele, havia ainda uma questão higiênica também, aquele cão comia muito e logo é claro depositava seus dejetos por todo lugar, não havia muito espaço no quintal então foi melhor realmente nos desfazermos dele, meu pai eu lembro conversou comigo,mas ante aos argumentos dele eu entendia,havia razão e de fato era o certo a ser feito.
Assim foi feito, meu tinha um amigo chamado Paulo dono um buteco, e que tinha uma casa muito grande e que casualmente precisava de um cão de guarda pois o imenso quintal ficava totalmente desguarnecido, cyborg teria muito espaço e ficaria feliz talvez,mas teria um novo começo e nós também, quase sempre um novo começo implica em uma despedida, e assim foi, na manhã de domingo Paulo foi em minha casa com uma charrete para fazer a tentativa de levar aquele cão imenso e feroz, admiravelmente o cão simpatizou com ele e subiu tranqüilo no transporte, puxa, quanto um olhar pode perdurar? O meu perdurou muito, fiquei olhando a charrete se afastando levando meu cão,meu amigo, fiquei parado ali apenas olhando,não havia lagrimas pois sempre fui assim, quando existe entendimento no mental meu coração também compreende, apenas mais uma vez o espaço vazio, um coleira sem cão,ele não desaparecera mas ao mesmo tempo desaparecera .
Eu tinha oportunidade de visitá-lo na casa de Paulo e o fiz algumas vezes, até aquele ato não ter mais sentido, aprendi desde muito cedo que relações verdadeiras são flutuantes e trabalham sempre para a liberdade das partes envolvidas,eu me libertei dele e ele de mim,lembro que ele me reconhecia mas nossa relação já não era a mesma, tudo muda, sempre muda.
Infelizmente ele realmente era uma fera, o Sr Paulo cuidou dele sempre, mas com o tempo o cão foi ficando cada vez mais hostil e excessivamente gordo, avança em todos inclusive no Sr Paulo que mordeu varias vezes e assim foi por um bom tempo, o cão estava muito estressado, Paulo cuidou dele até um dia que foi levar comida para ele e o encontrou morto, não sei o que aconteceu,ele simplesmente morreu, independente o que tenha acontecido,ele já tinha cumprido seu papel.
Como sempre é de minha preferência fico com as ótimas lembranças de todas as coisas que me cercam, nunca lembro de dramas ou tragédias,mas nos felizes momentos, e Cyborg nos poucos anos que conviemos foi para mim uma alegria imensa, por sua beleza, personalidade e carinho e é com isto que devemos brindar a existência, um brinde ao que é bom e que de alguma forma enriqueça nossa existência.
Dedicado a meu carinho e respeito a tudo que nos torna melhores na vida.
Paz e luz em teu caminho.
Luís Fabiano.
O livro da vida vai se escrevendo lenta e gradualmente, algumas vezes uns fatos são mais marcantes e outros passam quase em brancas nuvens com a nossa total displicência, somos assim mesmo muito raramente estamos presentes em nossa vida, nossa mente e coração por vezes divagam, percorre estranhos caminhos, longínquos caminhos, e naturalmente quando a realidade não nos chama mais proximamente de forma chocante,é de que de alguma forma mais ou menos acordamos, talvez ai um dos aspectos mais positivos da dor, fazermos focar a atenção, para que tudo não passe apenas como paisagem.
Na época eu era um pré adolescente e como tal muito assumidamente idiota(não que eu tenha mudado muito,mas ao menos na época era relativamente inocente...)e claro depois que nos mudamos para a nova casa com muito orgulho, eu era realmente muito jovem nesta época, eu tinha uma cadela vira lata é verdade, mas muito amorosa lembro-me bem dela, chamava-se Coky, baixinha tinha um tom de pelo em mel desmaiado muito simpática, mas um dia de jogo de futebol Grenal se estou lembrado,espolcavam abundantemente foguetes ela simplesmente fugiu e desapareceu, daqueles desaparecimentos que agente nunca mais vem a saber para onde foi, e nunca mais a vimos novamente, eu lembro que embora tivesse carinho por ela não senti grande falta, mas ficou a lacuna no lugar onde ela ficava,uma corrente vazia, uma coleira vazia, uma casinha vazia, é estranho mas por vezes alguns vazios nos preenchem tornando a vida diferente fazendo-nos buscar novas angulações da existência,essa reciclagem é necessária e absolutamente saudável
O tempo passou, então como todo pré adolescente tive minhas manias e a muito tinha falado com meu pai para conseguirmos um novo cão, mas desta vez nada de vira lata, teria de ser um cão especial de raça especial, nesta época o meu ego ainda cabia em uma lata de sardinha mas claro já começava a dar sinais que se estenderia ao infinito como uma imensa catedral, como uma auto-idolatria, felizmente hoje ele é apenas circunstancial, sendo apenas uma ferramenta, uma arma ou uma indiferença, mas voltando ao cão, então meu pai tinha um conhecido que trabalhava próximo ao seu trabalho, não lembro o nome dele, mas era conhecido por enfermeiro,bem justamente por ser é claro enfermeiro, tinha uma pequena clinica de enfermagem para coisas breves e rápidas, injeções, curativos,pequenas atuações da área medicinal, o Sr enfermeiro tinha um cão pastor alemão capa preta, e uma cadela pastor alemão belga, desta mistura impura saiu uma raça estranha é verdade mas bela, a ninhada estava lá e meu pai me levara para escolher o cão, cheguei la e acanhadamente olhei um pequeno cão muito interessante, bem pequeninho,uma mistura de pelos que se alternava do preto ao dourado na parte das costas, uma cara negra e patas escuras com detalhes em dourado, fui direto a escolha do coração, colocamos uma fitinha vermelha no pescoço dele para marcar, e ele ficaria ali mais uns dias pois ainda estava mamando, aquele dia fiquei muito feliz, um menino e seu novo cão, felicidade simples é vero, mas foi assim, quando uma historia se inicia quase nunca sabemos o final, mas ela vale pelo que vale,simples.
Finalmente ele veio para casa, em uma caixa de sapatos, chorando como um bebê eu me lembro, precisava de carinho o tempo todo, lembro que meu pai teve que dormir com a caixa ao lado da cama e com a mão nele para ele não choramingar,eu entendo, certamente ele sentira falta da mãe,mas se acostumaria em alguns dias como geralmente são as dores mais agudas, o próprio organismo trabalha para isso, então ele foi crescendo rápido lembro, com a ração que comia abundantemente, nos dias de inverno que se seguiram ele foi minha alegria e diversão, eu estava muito feliz.
Então minha mãe engravidara e todos estávamos felizes, é claro nem sempre era paraíso afinal isso era uma família, e quem tem família sabe que esta relação é feita de altos e baixos, proximidade humana é mais ou menos assim, quando tudo é muito padronizado é sempre um risco eminente. O cão crescia a olhos vistos, eu crescia também, agora eu tinha treze anos e posso afirmar que era muito mais chato que sou atualmente, mas era um chato feliz.
Minha irmã nasceu e o meu cão Cyborg (este nome foi dado por mim, na verdade eu sempre quis ter um cão com este nome, não sei porque, talvez porque eu assistia o Homem de um milhão de dólares o Ciborgue... puxa isso passava no inicio dos anos 80),então agora uma fera grande e bela ao mesmo tempo, com cara de poucos amigos, mas muito carinhoso com os familiares, ele particularmente não gostava de estranhos avança em todos.
Um dia minha irmã estava no carrinho de bebê na cozinha da casa e nos distraímos com alguma coisa e Cyborg entrou na cozinha...não aconteceu nada demais, ele apenas ficou olhando e deu uma lambida em Natali minha irmã, mas claro que isso foi o inicio de um fim, minha mãe preocupada com ferocidade do cão, terminou por convencer meu pai que seria melhor nos desfazermos dele, havia ainda uma questão higiênica também, aquele cão comia muito e logo é claro depositava seus dejetos por todo lugar, não havia muito espaço no quintal então foi melhor realmente nos desfazermos dele, meu pai eu lembro conversou comigo,mas ante aos argumentos dele eu entendia,havia razão e de fato era o certo a ser feito.
Assim foi feito, meu tinha um amigo chamado Paulo dono um buteco, e que tinha uma casa muito grande e que casualmente precisava de um cão de guarda pois o imenso quintal ficava totalmente desguarnecido, cyborg teria muito espaço e ficaria feliz talvez,mas teria um novo começo e nós também, quase sempre um novo começo implica em uma despedida, e assim foi, na manhã de domingo Paulo foi em minha casa com uma charrete para fazer a tentativa de levar aquele cão imenso e feroz, admiravelmente o cão simpatizou com ele e subiu tranqüilo no transporte, puxa, quanto um olhar pode perdurar? O meu perdurou muito, fiquei olhando a charrete se afastando levando meu cão,meu amigo, fiquei parado ali apenas olhando,não havia lagrimas pois sempre fui assim, quando existe entendimento no mental meu coração também compreende, apenas mais uma vez o espaço vazio, um coleira sem cão,ele não desaparecera mas ao mesmo tempo desaparecera .
Eu tinha oportunidade de visitá-lo na casa de Paulo e o fiz algumas vezes, até aquele ato não ter mais sentido, aprendi desde muito cedo que relações verdadeiras são flutuantes e trabalham sempre para a liberdade das partes envolvidas,eu me libertei dele e ele de mim,lembro que ele me reconhecia mas nossa relação já não era a mesma, tudo muda, sempre muda.
Infelizmente ele realmente era uma fera, o Sr Paulo cuidou dele sempre, mas com o tempo o cão foi ficando cada vez mais hostil e excessivamente gordo, avança em todos inclusive no Sr Paulo que mordeu varias vezes e assim foi por um bom tempo, o cão estava muito estressado, Paulo cuidou dele até um dia que foi levar comida para ele e o encontrou morto, não sei o que aconteceu,ele simplesmente morreu, independente o que tenha acontecido,ele já tinha cumprido seu papel.
Como sempre é de minha preferência fico com as ótimas lembranças de todas as coisas que me cercam, nunca lembro de dramas ou tragédias,mas nos felizes momentos, e Cyborg nos poucos anos que conviemos foi para mim uma alegria imensa, por sua beleza, personalidade e carinho e é com isto que devemos brindar a existência, um brinde ao que é bom e que de alguma forma enriqueça nossa existência.
Dedicado a meu carinho e respeito a tudo que nos torna melhores na vida.
Paz e luz em teu caminho.
Luís Fabiano.
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