Me bate,
porque eu gosto
Parte 2
O melhor que a vida pode
oferecer é sentir-se perdido. Um naufrago urbano bebendo do fluido existencial
a espera que o destino te encontre. Destino? Como seria isso, o casual, o impensável
de Deus o planejado pelo diabo... destino bom, destino mal. Ruas maravilhosas
com o pior que Pelotas pode oferecer. Amo esta cidade com sua aparência limpa e
tão cultural...é assim que a maioria vê.
A noite avança como um cavalo louco, estou ficando farto de andar de
carro. Meus desejos a flor da pele são um recado. Sou assim puro
instinto...desejo uma fêmea ou algo que se pareça com isso.
Pego o caminho do porto vou em
direção ao Bar do Sujeira. Meu local predileto, nas ruas dos porto que as
coisas acontecem. Tudo bem bom e de mal também. Não levem a mal, é apenas um
lugar como qualquer ser humano tem duas ou mais faces. Uma que você vê e outra
que ninguém imagina. Eu prefiro esta última.
O Bar do Sujeira é um reduto
tradicional, durante a semana é vazio, sujo e frequentado pelo melhor que a
sociedade pode produzir: gente que rala de verdade, putas, marginais, bêbados,
drogados, sujos, limpos, os verdadeiros mestres, os que sobrevivem Darwin teria
orgulho deles. O Sujeira o tipo velho dono de bar. Foi muito malandro quando
era mais jovem, agora é um velho com mal humor que tem uma relação informal com
uma transex a qual ele tem vergonha. Vergonha porquê? Amor é amor. Rebeca
Sharon o seduziu desde o início. Eu assisti isso de longe, Rebeca estava as
vias de fazer a operação, estava ansiosa e linda. Tudo em Rebeca lembrava uma
mulher, sua sensibilidade, seu ciclo, seu olhar, o corpo feito esculpido
lentamente arredondado, seios grande e longo cabelo loiro e o sorriso perfeito.
Todos estavam de olho em Rebeca, mas ela é romântica e tudo isso transformava a
situação em poesia. Sujeira lutou contra tudo isso, mas a verdade que ele
deseja e gostava de Rebeca. Teve um dia que todos havíamos bebido demais e
beijei Rebeca...e o Sujeira ficou louco. Dizia que não podia fazer isso dentro
do bar dele...e vi no seus olhos o ciúmes aquele que anda perto do amor medíocre,
que é o amor que as pessoas preferem, passional repleto daquilo que o amor não
é. Mas foda-se viva a vida.
Estaciono o “Olhos de Gato”,
vou em direção ao bar que está com a meia porta aberta como sempre. Depois da
meia noite o Sujeira sempre deixa assim, questão de segurança diz ele. Para na
porta do Bar olhando para dentro e o Sujeira com seu típico mal humor já rosna:
-Ahhh era o que tava faltando
pra fechar a minha noite...
-É, boa noite pra ti também Sujeira...
Dentro do bar, Rebeca Sharon lixa
as unhas em uma mesa, bebendo uma cerveja, Tonho Cavaquinho fazendo uns acordes
soltos e bebendo sua cachaça. O cheiro do bar remete a pecado, bebidas,
cigarros, suor de cavalo e o banheiro meio sujo são os aromas mais primitivos que
nos levam aos nossos antepassados. Pra que ?
Rebeca Sharon fica feliz ao me
ver:
-Fabiano amor... nossa quanto tempo hein?
-É, minha vida ta meio
complicada...
-E quando tua vida não está
complicada Fabiano?
-É, mas agora os horários ...tudo
mudou...
-Mas quem coisa que não muda
cara...me dá um beijo aqui e um abraço...
Todos riram no bar o Sujeira
ficou parado olhando, enquanto abraçava Sharon. O cheiro dela continuava ótimo.
Sentei a mesa com ela e
Sujeira veio com um grande copo de rum. É uma espécie de família que te quer
mal. Rum e gelo, o bar estava como sempre e isso faz com que me sinta muito
bem. Uma família sem vínculo, uma planta sem raízes desafiando as asperezas do
mundo.
O Sujeira fala:
-O Rebeca não dá muito pra pra
esse daí...sabes como ele é...
-Que isso amor, relaxa o
Fabiano é da família...
-Não da minha...ele bebe e ai
quer comer tudo mundo...a mim ele não vai comer não...
Eu olho pro Sujeira:
-Que foi Sujeira, não me conhece
não? Eu atualmente estou muito inofensivo...virei um bosta...
-Duvido muito - diz Rebeca.
Nisso Tonho Cavaquinho
magicamente começa a movimentar os dedos em seu instrumento, enchendo aquela
noite vazia de vida...e ele puxa o tom: Jurei não amar ninguém, mas você veio
chegando e eu fui chegando também...” E noite Ilustrada preenche o ambiente,
Rebeca já levanta e fica sambando a volta da mesa e mesmo Sujeira sorri, e a
felicidade parece tão simples, fico olhando o vazio...distante dou mais um
grande gole de rum. Os traços da vida se tornam borrados e lentos como tudo
deve ser... estou em paz, dou uma tocada no meu pau por cima da calça ele está
meio duro. Tenho essas ereções furiosas.
Samba, um bar meio vazio e
bebida, que mais poderia querer? Então quando se tem impressão que nada vai
acontecer, um grupo da entrada no bar. Vestiam preto três mulheres e dois
homens, talvez tivesse ali no máximo vinte e cinco anos. Cabelos com gel.
Fiquei olhando para as mulheres: duas loiras e uma morena. O samba segue, o
Sujeira já vai dizendo:
-Ai pessoal, aqui não vamos a
noite inteira dentro de uma hora eu fecho o estabelecimento...
A típica receptividade do
Sujeira.
Segue:
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