Material antipoético
O panorama deste
verão é desolador
Abundam as baratas
As moscas e
guasasas* da merda
O fedor do lixo
podre
E do esgoto
derramado nas ruas
Os ratos pequenos
/ dizem
Que também há
ratazanas enormes
Há avisos / vacina
grátis
Contra
leptospirose
No Malecón um
edifício se inclinou
Como a Torre de
Pisa
E a gente saiu
fugida
Agora uns homens o
derrubam
Com muito cuidado
/ pedra por pedra
Porque pode
desabar e enterrar os vizinhos
Enfim o panorama é
pavoroso
Sob o sol e o
calor
A cidade antipoética
Nicanor Parra
teria que visitá-la
Gente cansada e de
mau humor Bêbados
Sentados nas
calçadas esperando o nada
E os poetas em
baixa
Não há nada belo
que cantar
Uma desgraça para
os poetas
Tudo é merda
Assim é impossível
escrever poesia nutritiva
Poesia alimentícia
Poesia que faça
exclamar
As damas sensíveis
Oh, que grande
poeta estupendo é um clássico!
Não / nada disso
A vida antipoética
ganha terreno
E estabelece
cabeças de praia
Em cada
coraçãozinho que consegue alcançar
E eu desgraçadamente
Não posso olhar
sozinho o mar
O mar salvador
azul
O eterno belíssimo
brilhante mar.
Pedro Juan Gutierrez
*Em Cuba, é uma mosca pequena
Que vive em
enxames
Em lugares úmidos e escuros.
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