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segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Suraya Leona




Suraya Leona
 Parte 01

Cada ser humano é um universo diferente. O que funciona pra mim, não funcionará pra ti. Temos uma dificuldade imensa de entender isso. Nossas diferenças ao amanhecer perduram, sem receitas da felicidade, sem muita noção exata de onde chegar e com a certeza, todos fatalmente vamos morrer. 

Isso pode ser um consolo. Perdemos um tempo imenso com coisas inúteis, com sentimentos inúteis, mesquinharias para então um dia, lá adiante, por vezes muito tarde entender que é apenas perda de tempo, só isso. Então este é nosso legado. Legado porra nenhuma, legado de vazios. Viva sua vida, não foda com a vida dos outros e seja feliz do seu jeito, e claro pague o preço, o resto o tempo consome, como uma grande buceta viciada.

Tenho raros momentos de reflexão. Não penso nunca. Vivo. Vivo sem consequências, vivo como um porra loca, vivo as coisas no osso. Aprendi isso com Buda, Krishina, Jeová, Jesus e Oxalá. Viva no osso a merda toda. A bebida é uma aliada. Tenho alguns poucos amigos, pessoas confiáveis, e acho que assim ta bom. Muitos amigos, significa nenhum amigo. Quero viver a 220 por hora, e que o final seja apoteótico. Nada de morrer velho balançando uma bengalinha. Quero morrer rugindo...e de pau duro.

Meu celular brilha é Leona. Uma amiga(o), ainda não se decidiu pela cirurgia de mudança de sexo.Ta levando isso muito a sério. A conheci na noite. Uma grande pessoa, e creio que em algum momento destes você a verão no Fio da Navalha – Entrevista. Como ela costuma me dizer: Fabiano, eu sou corajosa para sentar em caralhos enormes e todos eles... mas com uma câmera na frente eu me cago toda...desculpa baby.Tu limparia minha rabetinha??

Baby é foda. Mas ela me chama assim o tempo todo, ou então chama de Cherry. Tudo certo. Atendo o telefone:

-fala Leona...
-Fabiano...cherry...tu anda pela rua? Diz que tá...diz que tá...
-Não Leona... to em casa, de cueca, tomando cerveja, olhando pela janela algumas criaturas lá fora...
-Mas vem pra rua Baby...vem... to aqui no pássaro... to numa solidão de dá dó... uma bixa só é triste sabes como é... deixo até tu me encochar...se quiser( brincadeirinha).

Ponderei lentamente. To em férias e meu raciocínio ta uma merda de lento. Alcoolizado e feliz, sensação de torpor.
O Pássaro Azul é perto de minha casa. Não preciso pegar o carro...é colocar uma bermuda e chinelos e já é, noite ganha. O ser humano precisa do torpor para suportar a vida. Não me refiro apenas a drogas e bebidas, mas aquele que é viciado em compras, o que é viciado em viagem, os tarados, todos pessoas boas e normais...fazendo o possível para fugir da insuportável realidade de todo dia.

É isso, você também foge, ainda que não faça nada disso...acenda o cigarro, mude o canal. Ta tudo certo não precisa se culpar de nada. Deus não está vendo agora.

Sirvo mais uma dose de rum. Uma barata e suas amigas andam tranquilamente pelo apartamento. Na madrugada elas são as verdadeiras donas da casa. Não me importo com baratas, elas em respeitam e eu as respeito. Sempre convivi com baratas, grandes, pequenas, anãs e não via sentido algum em matar. Matei algumas a pedido das mulheres. É foda, as pessoas assassinam por causa das mulheres. Hoje eu não mato mais nenhuma barata. Elas estão agora ao lado do copo de rum... estão olhando pra ele, talvez com sede? É claro. Faço minha parte, derramo um pouquinho de rum na mesa de vidro. É espantoso...elas estão a volta da possa de rum.

Como ficar bravo com um ser que toma rum? Não. Acho que se elas tivessem o tamanho de uma mulher eu foderia com elas também. Brindo com as baratas e coloco os chinelos. Creio que Kafka me entenderia. Coloco uma regata e saio a passos.

Pelotas de madrugada se um dia de semana e calor. Ambulâncias fazem sua ronda... a polícia corre, alguns transeuntes filhos da miséria procurando onde dormir, outros nos bares bebendo e tentando o sexo.
Gosto do cheiro da vida e da noite. A noite quente com cheiro de álcool, cigarros, canos de descarga e mijo fresco. Excelente mistura. Estou de bom humor e bêbado. A humanidade fica melhor assim. Todos parecem melhor agora, Nero, Calígula, Bin Laden, Messalina, os torturadores de cristo... parecem que todos tinham seus motivos. E nós nunca entendemos. Rum é maravilhoso mesmo.

Avenida bento esta lotada. Gente demais na rua. Todos fogem do calor. Não existe uma brisa, estamos suando a bicas, que merda, este verão deste ano tenho certeza que o Diabo esta de férias na terra e trouxe o inferno consigo.

Preciso de uma cerveja urgente. Deus faça chover cerveja... ainda que seja seu sacro-mijo...mas deixa cair gelado sobre a Terra...matemos o demônio afogado em cerveja. O Pássaro Azul é um paraíso perdido na vida profana. Gosto daquele lugar. O local estava lotado. Era esperado, cerveja, cigarros na rua....


Segue:
Luís Fabiano.

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