Navalhadas Curtas: Eu sou o Demo...
Eu vinha voltando do Pássaro Azul, vinha a pé. Gosto de
caminhar a noite...gosto de ser surpreendido a noite...uma puta, um assalto, sexo
casual uma nota de vinte no chão. Mas nada disso aconteceu.
Voltei pela praça, a rua detrás de onde moro... e ali, as
três e quarenta e sete da matina... tava um cara no meio da praça... velas
acesas, uma capa negra, mão erguidas... balbuciando uma cantoria estranha.
Cocei os olhos, pensei que estava vendo coisas...ando
bebendo demais. Um bom vicio. Foda-se.
Eu ia passar direto... mas como uma irresistível vontade
de saber qual era aquela historia... ele não parecia um macumbeiro tradicional!
Eu deveria ter ido embora mesmo. Fui até o cara. Que eu tinha a perder?
Quando estava a uns três metros dele... ele se vira
de-repente pra mim:
-Tu és o demônio? És tu o enviado que solicitei? Belzebu
me atendeu finalmente...és tu né?
Pensei comigo: puta merda, este cara deve conhecer as
minhas ex-mulheres, namoradas, ficantes...etc... todas diziam unamimente que
era um diabo. Bingo.
-Claro – respondeu eu, agora assumindo a postura do
diabo. Braços cruzados, tipo Mister M e olhando fixo pra ele. Dei uma de ator,
fazia tempo que não atuava.
O cara arregala os olhos...
-Diga filho, o que você quer...
-O senhor poderia matar a minha mulher? Quero que ela
morra de alguma doença.
Bingo.
-Há,há,há, claro meu filho...mas a paga? Hein...O demônio
não trabalha de graça... (usei minha voz grave)
-O que o senhor quiser... cabritos? Uma vaca? O sangue de
um terneiro novo...
Aquilo era uma tremenda loucura... mas a loucura dos
outros pode me ajudar.
-Sim...um cabrito... e umas notas de cem reais...
-Claro claro... aqui eu tenho apenas duas notas de cem...
-Deixa no chão...e vai embora, ela vai morrer... certamente
ela vai morrer.
-Sim... obrigado...muito obrigado Sr...ela não presta,
que morra desgraçada.
Ele larga as notas de cem, e vai saindo...deixando tudo
pra trás. Eu mantive minha pose de demônio. Afinal de contas eu não menti... ela
vai morrer, não vai? Quem não vai?
O cara foi embora, catei as notas de cem, e fui até o
posto frente a minha casa... e tomei uma gelada.
Salve Belzebu.
Luís Fabiano.
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