Trecho Solto:
“O pó ainda era meio raro. Mas eles tinham ótimos fornecedores.
Até esse tempo a gente só conhecia birita mesmo, maconha e assim mesmo mal,
lança perfume, perfume, Pervitin, Dexamil, mais uns outro dois ou três comprimidos
tudo meio coisa de pobre. Você veja, pó essa desgraça que serve para se experimentar
algumas vezes, para não se ficar ignorante. Acho sim, que a pessoa deve
experimentar boa cocaína. Ai cheira um par de vezes, faz e diz sandices
delirantes e confessionais comuns a quem cheira e compreende que uma merda e
deixa de lado. Assim seria ótimo, porque o ser humano precisa compreender, a
fim de seleciona-los para o seu uso, os variados instrumento para se entrar num
barato e alterar a realidade percebida. Digo percebida para qualificar a
realidade, porque a realidade, naturalmente, não existe em si.
Pergunte a um
cientista nuclear o que é a realidade e ele vai gaguejar, se for honesto. Mas
existe uma realidade percebida e o ser humano não pode tolera-la e ai altera a
percepção.
Desde que o homem é homem, ele procura isso por milhares de
vias, as mais conhecidas sendo o álcool e as drogas em geral, naturais ou não.
A música é isso, a música não é senão isso, o único intermediário é o ouvido,
ela vai direto e afeta quem a ouve, nunca deixa de afetar, de uma maneira ou de
outra. Então eu acho que se deve experimentar, é uma burrice não experimentar.
Quem não usa nada, nem secretamente, é um perigoso louco
que possivelmente mataria alguém. O problema é que muita gente tem dificuldade
em ver, que aquela droga cobra um tributo que não se pode pagar, e não saí
daquela que entrei e graças a Deus, sai sem precisar de um esforço extraordinário.
Quando fui apresentada e durante anos a seguir, pó me
pareceu uma chave do universo e da felicidade, a droga da sabedoria, da verdade
e da iluminação, o brilho! Estupidez, ´exatamente o contrário”.
Livro: A casa dos budas ditosos
Autor: João Ubaldo Ribeiro.
Páginas: 105 e 106
Nenhum comentário:
Postar um comentário