Navalhadas Curtas: Asas de Aço
Não tenho nada contra quem usa drogas. A bem da verdade
algumas pessoas ficam melhores quando não são elas mesmas. Bêbados são ótimos,
os que são problemáticos, são problemáticos sãos também.
Tava no boteco, uma velha chapada solitária, um posso de carência
afetiva, sexual, psicológica... talvez o álcool ou drogas a ajudassem. Comecei
a conversar com ela, sem pretensão:
-E você ta com que idade?
-Bah eu poderia ser tua mãe, avó também...
-Legal...mas que tu fazes num bar de terceira, as três e
meia da manhã?
Ela me olha com aqueles olhos vermelhos de chapa, os
cabelos sebentos e um cheiro forte de suvaco vencido...daqueles catingosos.
-Faço nada... quero cheirar e beber... e ir pra casa...e amanhã
de novo...e depois de novo...E tu?
-Gosto da noite, to de férias, não tenho objetivo nenhum
na vida...
O cheiro dela tava forte, chegava a arder o nariz.
-Sabe, eu queria ter asas...ta ligado? Tipo asas de anjo
mesmo... será que fazem plástica e colocam asas que funcionam de verdade?
-Acho que sim...se tu tens grana, creio que é possível fazer
tudo...mas você quer asas pra que? Acho que asa é barbada, trocam sexo hoje...
-Queria ser um anjo...um anjo sem pecados...e voar por cima
de tudo.
O olhar dela ficou vazio...o copo de whisky pela metade, a
Samu passou na frente do bar, e tudo parecia tão desconectado...
-Esquece as asas e apenas voa... voa... apenas voa.
É preciso estar na viagem.Ela apenas me olha de olhos vazios.
Luís Fabiano
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