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segunda-feira, dezembro 09, 2013

Rei das Bucetas, látex, um cão furioso e Rebeca Sharon




Rei das Bucetas, látex, um cão furioso e Rebeca Sharon

 Parte 1

Existem dias e dias. Dias bons, dias ruins, dias que tudo dá certo e dias que a divindade vira as costas para você. Deus as vezes pode ser temperamental, não digam que é em função do mistério? A puta que pariu com o mistério, Deus é um mistério, o diabo é um mistério, os Ets são um mistério. Todos fingimos saber exatamente o que é, mas sorria, ninguém sabe realmente nada. O crente ajoelha-se e pede a Deus...e tão pouco sabe o que está pedindo... então ele fica “bonzinho” para agradar o seu Deus...é isso, estamos sempre tentando agradar a Deus, para que ele atenda nossos “importantíssimos “desejos. Tudo bem, o sistema parece funcionar.

A real que se você inventar um sistema para negociar com Deus... vai funcionar porque o móvel de tudo isso é você mesmo. Deixe pra lá, sabemos como é. Pessoas inteligentes mudam de opinião sempre, somente limitados ficam com o mesmo pensamento a vida toda, os adaptados mudam então...
Estava em casa, estava com uma maldita coceira de sair pra rua, mas olhando a cidade pela janela a noite, gostava do que via. Gosto de olhar a noite da janela do quinto andar. Luzes e trevas, milhares de caminhos, milhares de possibilidades a vontade visceral de se perder na trilha, o carro em alta velocidade que não vence a curva, o enfrentamento do destino errante, desfilando uma briga continua da insanidade e a sanidade, seja lá o que for isso.

Sirvo mais uma dose de rum, tomo como uma homeopatia, lentamente deixando o torpor incendiar o que há em mim. É sempre uma surpresa, as vezes adormeço e doutras vezes me torno pior ou então fico tranquilo sereno. Mas ninguém bebe para ficar caridoso.
Então como um raio inesperado vem a minha mente, a lembrança do bar do Rei das Bucetas. O Rei é meu segundo pai. Mantem um estilo distinto, fazia muito tempo que não aparecia por lá. Ir lá sempre é um tsunami, tem a Jussara que é minha puta eterna. Tudo tem um preço.

Dou mais um talagaço no rum...deixo o copo sobre a mesa, espalho meus restos por ai... Visto uma bermuda e uma regata, chinelos eis meu uniforme para as merdas existenciais, me sinto leve.
Pego o fudet no estacionamento, agora a hora grande está fechando, meia noite, a hora que as princesas se transformam em bruxas, afinal quem gosta de princesas? Queremos mais que as bruxas vençam e venham com seus encantos miraculosos, e nos enfeiticem com certa violência. que arranquem nossas virtudes sem poesia.

Ligo o rádio, Elis Regina tocando o bêbado e o equilibrista, puta merda Elis é sensacional, ouvir Elis é uma experiência espiritual. fico sorvendo um pouco antes ligar o carro...” a esperança dança... na corta bamba de sombrinha e cada passo desta linha pode se machucar...” Essa linha bem poderia ser o fio da navalha não é? Desfilando na linha do fio de uma navalha, é foda...você pode se machucar também.

Dou a partida e me dirijo para o bairro Navegantes. Noite linda de uma semana complexa. Chego no bar do Rei. O pagodão ta rolando, o Tonho do Cavaco me olha e balança a cabeça, um Raça Negra tocando, Betão atendendo no balcão esta tranquilo o ambiente ta movimentado, pessoas indo e vindo, o pessoal tomando sua cachacinha da noite. A mulheres da localidade ali, se embalando ao pagode, o bom e natural cheiro de esgoto que vem das ruas de poeira, rua de gente simples. Não existe luxo ali, pobreza, pagode, cachaça e sexo para aturar a vida. Desço do Fudet, vou em direção ao balcão, vou beber a minha também:

-E ai Betão?
-Fala Fabiano... fiquei sabendo de uma festinha lá do Pestano hein... pegando pesado cara?
-Que isso Betão, o Tonho ta falando demais...o Nego Nelson apaziguo as coisas...
-Não foi o Tonho não, foi a Jussara que vomitou tudo aqui...
-Vixe...mulheres né? Que posso dizer... é verdade, sempre o que falam de mim é verdade... serve uma ai Betão...

O boteco, cheio, mesas de plástico, cadeiras de plástico, tudo cheio...as pessoas gostam de estar lá, o estrangeiro sou eu. Betão coloca a cachaça sobre o balcão:

-Betão, cadê o Rei?
-Sua majestade anda por ai... tava ai ainda pouco, e uma “loirona” chamou ele em um Mercedes, e ele saiu com ela...sabes como é, ele ouve o chamado do amor e vai... Majestade parece que tem trinta anos né? 
Puta merda que disposição para o mal e para o bem...
-É vero. Vou ficar por aqui então...
-Fica... a Jussara tava por aqui ainda pouco também... adora ficar na roda de samba...
-Sei... deixa quieta...Jussara demais por uma semana, faz mal a saúde...

Tava de boa, tem vezes que a vida é assim, ficar olhando o nada. Seria bom falar com o Rei. Então surge Zuleica. Uma moradora da localidade, gorda, muito gorda, cabelos tingidos com agua oxigenada loira, raízes negras, com algumas espinhas na cara, sempre vestida de maneira vulgar, o que a tornava adorável, um vestido vermelho coladinho, que a cada três passos que ela dava, tinha que baixar porque se não mostrava a bunda imensa, tetas de gelatina, pernas que balançam em um salto alto. Zuleica é assim, e gosta de ser assim. Eu a conheci a muito tempo, em uma briga dela com a Jussara... não separei as duas, não me meto. Deixo que se peguem a pau, gosto de lutas femininas, são vulgares e ridículas.

-E ai Fabiano... visitando os pobres?

Esqueci de mencionar, Zuleica é má, irônica e debochada. Ela mereceu as porradas que Jussara deu nela.

-Que isso Zu...eu sou pobre tanto quanto...
-Sei... e ai Fabiano... tais esperando aquela nega imprestável?
-Zu, fica fria ai ok? Sem confusões por hoje...mas não, to esperando o Rei...
-O Rei me comeu ontem sabe.... Esse é homem de verdade...macho a moda antiga...come até arregaçar o cu e a buceta.
-To ligado Zu... mas fora isso que como ta a vida?
-Uma merda, me fudendo muito, trabalhando feito uma escrava em casas de familia... e nada de papai Noel... bem feito né? Quem mandou não estudar...
-Papai Noel? Que merda essa Zu... além do mais todo mundo tem que trabalhar...

Não sei foi a cachaça ou sou eu mesmo. Gosto de mulher... gosto de todas elas...talvez se fosse possível, gostaria de fode-las todas, em uma gozada planetária coletiva. Sempre pensei nisso quando era mais jovem. Mas creio que isso não é possível ou é? Seria lindo. Mas por enquanto eu estava olhando as tetas caídas de Zuleica, aquele vestido sem sutiã, os bicos duros, grandes e grossos marcando o vestido, ainda que o bico esteja meio virado para baixo. Estas coisas são tentações eternas. Ela percebe, as putas sempre percebem. Sorri safada...

-Te agradou Fabiano? Quer chupar minha tetinha? Chupa gostoso...vamos lá no barraco agora...

Cachaça me amolece o centro que diz, isso esta errado. Tive vontade de ir lá...mas não ainda. Toco no pau, ele esta meio duro. Zuleica facinha... que poderia ser melhor?
Então um Mercedes dos grandes estaciona na frente do boteco. Majestade desse... uma autentica apoteose. O Rei é dono do local. Um clássico, ele esta vestido de branco de cima abaixo, chapéu branco, um dente de ouro, sapatos brancos e uma bengala branca. Puta merda tanta poeira naquele lugar e o Rei sempre impecável.

O pagode para. É sempre assim, todos respeitam o Rei, o velho que come as mulheres, e elas querem mais, querem sempre, se apaixonam, querem seu amor. O Rei das Bucetas. O Rei manda o pagode seguir e a festa segue. Então ele vem até mim.

-Filho...filho... quanto tempo hein? Tu és assim né? Esquece de encontrar as pessoas, esquece de ver quem gosta de ti...porque Fabiano?
-Qual é Rei? Eu também estou com saudade...
-Sei que és filho de Xangô... tu administra a tua justiça filho...mas cuida das pessoas, não usa de tua frieza a quem não merece.

Dei um forte abraço nele. Ele se encosta no banco, a cachaça dele chega e brindamos. Zuleica se afasta, mas fica ali ao lado como uma cadela de estimação aguardando o comando. Eu ainda pensava nos bicos caídos dela.

-E ai Rei... qual é a boa?
-Filho eu vivo e estou vivo, bebendo de minha cachaça e amando minhas mulheres. Não preciso nada mais de Deus.
-Tem coisas que jamais mudam é ou não é Rei?
-Tudo sempre muda filho...tudo, não somos o mesmos de ontem, não seremos os mesmos amanhã...é que demoramos para perceber isso.
-Como amar todas as mulheres Rei?
-Isso não é para qualquer pessoa...amar com liberdade exige muita responsabilidade, exige verdade total, exige um amor maduro ao extremo... se você tiver estes ingredientes na alma...bem ainda tem que haver química...

 Segue .

Luís Fabiano

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